Osteoartrite, um estudo de séculos em nossas mãos

Charles Jacques Bouchard nasceu em 6 de setembro de 1837 e morreu em 28 de outubro de 1915. Era uma época em que a medicina nem sonhava com os avanços que vemos hoje (e nem sonhamos com os avanços que nossos netos e bisnetos verão).

Nem mesmo a localidade onde Bouchard nasceu, Montier-en-Der, é mais independente. Hoje, faz parte do departamento francês Haute-Marne (ou Alto-Marne), a pouco menos de trezentos quilômetros a sudeste de Paris.

Bouchard entretanto deixou sabedoria e um legado importante como patologista. Seus estudos englobam identidade da herpes circinata, degeneração da medula espinhal, patogênese das hemorragias cerebrais e outros.

Com seu professor Jean Charcot, descreveu um distúrbio que ficou mais tarde conhecido como “aneurisma de Charcot-Bouchard”. É com seu nome que conhecemos até hoje os “nódulos de Bouchard”, excrescências ósseas das articulações interfalângicas proximais (IFP), que são um sinal de osteoartrite.

Em outras palavras, os nódulos de Bouchard são aumentos ósseos das articulações médias dos dedos. As IFPs são as articulações dos dedos mais próximas dos nós dos dedos.

Os linfonodos de Bouchard são menos comuns do que os linfonodos de (William) Heberden, que são aumentos ósseos das articulações interfalângicas distais (DIP) mais próximas das pontas dos dedos. Heberden era inglês e nascem em 3 de agosto de 1710 e morreu em 17 de maio de 1801. Como se vê o estudo do tema é bastante antigo.

Uma roleta

Os nódulos de Bouchard, tanto quanto os nódulos de Heberden, podem ou não ser dolorosos. É uma roleta. No entanto, eles normalmente afetam o movimento. Com o tempo, esse acúmulo de tecido ósseo em excesso pode fazer com que os ossos se desalinhem e fiquem tortos, com um aspecto disforme. Os dedos também podem ficar inchados.

Com o tempo, a pessoa pode passar a ter dificuldades de fazer tarefas simples, como girar a chave, abrir uma garrafa etc.

A osteoartrite

A osteoartrite é a doença reumatológica mais comum, atingindo cerca de um terço da população mundial após os 65 anos, sendo mais frequente nas mulheres. A osteoartrite afeta mais frequentemente as articulações das mãos, joelhos, quadris, região lombar e pescoço.

A genética também tem um papel provável no desenvolvimento dos nódulos de Bouchard.

Sabe-se hoje que a obesidade tem papel fundamental na doença, uma vez que o tecido adiposo produz substâncias (adipocinas, resistinas e adiponectinas) que induzem a degradação da superfície articular.

O nódulo de Bouchard é considerado um sinal característico de osteoartrite, ajudando a diferenciá-lo de outros tipos de artrite, como gota ou artrite reumatóide. Não há exames de sangue para diagnosticar especificamente a osteoartrite, de modo que o médico tem que realizar outros exames para descartar a artrite reumatóide e ou a gota (por exemplo, medir o ácido úrico).

Tratamento

Há tratamento clínico, e é sempre importante, caso a caso, consultar um médico especialista, que irá orientar de forma adequada como proceder.

Mas é bom saber que a atividade física rotineira e regrada, o controle do peso corporal e a dieta saudável são fundamentais no controle da doença.

Com séculos de estudo, pesquisa e desenvolvimento médico, o paciente pode rogar saber que no fundo são seus próprios hábitos que podem ajudar a controlar uma enfermidade. Em outras palavras, também está em nossas mãos.

A dor que derrubou um campeão

Talvez os mais jovens não lembrem o quão grandioso foi Mike Tyson no esporte. Ele nasceu em 1966 (em 2022, tem apenas 56 anos!) e na década de 1980 dominou o boxe, se tornando um dos mais demolidores pugilistas já vistos. Não cabe entrar no mérito se foi o melhor de todos os tempos – cada um tem sua escolha – mas muita gente chegou a afirmar isso.

Foi uma carreira rápida e marcante. Foram apenas 58 lutas, com 50 vitórias, sendo 44 por nocaute.

A vida fora dos ringues também não foi fácil e esteve longe de ser um exemplo. Quando jovem, foi parar no reformatório, onde aprendeu a profissão. Quando adulto, foi preso por violação a uma mulher. Ganhou milhões (estima-se que perto de US$ 300 milhões durante toda a carreira), mas nunca soube administrar com precisão a fortuna e a imprensa constantemente noticiava sua falência. Em 2009, sua filha Exodus, de apenas 4 anos, faleceu em um acidente doméstico. O enterro teve que ser feito com doações, pois Tyson estava falido.

Nada disso tirou de Tyson o status de “imbatível”. Até que uma foto, em 2022, com o pugilista em uma cadeira de rodas, acendeu a dúvida: o que derrubou Mike Tyson?

Um balé violento

O pugilismo é tido como um esporte violento. Um oponente desfere socos no adversário e quem nocautear o outro ou conseguir encaixar mais golpes ganha. A imprensa esportiva trata o esporte como “balé”, numa tentativa poética de tentar amenizar a brutalidade das cenas que a plateia, muitas vezes aos berros de êxtase, assiste. No caso dos pesos-pesados, categoria na qual Mike Tyson se encaixa, os golpes são ainda mais potentes.

Apesar de tudo isso, o boxe também é um esporte maravilhoso, amplamente recomendável, um ótimo exercício físico, especialmente quando praticado com lucidez e acompanhamento apropriado, em academias especializadas. Sim, o boxe pode ter impacto zero na saúde do oponente! A modalidade olímpica é, de fato, muito próxima de um belo balé em cima do ringue. Algo plástico e bonito de se ver.

Mas na versão comercial, a de alto rendimento, é certo que a violência impõe consequências. Não são poucos os pugilistas da categoria máxima do esporte que enfrentam problemas motores após a aposentadoria.

José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, tido como o mais importante peso-pesado brasileiro, tem 64 anos e enfrenta a encefalia traumática crônica, uma doença degenerativa do cérebro ligada a repetidos golpes na cabeça, também conhecida como “demência pugilística” (mas que atinge atletas do futebol americano e até mesmo do nosso futebol).

Mike Tyson escapou até disso, felizmente.

Ciático, o adversário

O adversário que derrubou Tyson e o levou à cadeira de rodas estava dentro dele: o nervo ciático.

Ele disse a uma rede de TV, recentemente: “tenho dor ciática e de vez em quando e ela piora. Quando isso acontece, eu não consigo nem falar”.

É a única condição de saúde que a potência de quase sessenta anos sofre no momento: “Graças a Deus é o único problema de saúde que tenho. Estou esplêndido agora”, o que é uma boa notícia para todos que amam esportes em geral.

Apesar de tudo o que foi dito aqui, não é possível fazer correlação entre a profissão de Tyson e a dor que ele sente agora.

A dor ciática refere-se àquela que percorre o trajeto do nervo ciático, o mais longo do corpo humano, que sai da parte inferior das costas, através dos quadris e nádegas, e desce por cada perna. A ciática ocorre mais frequentemente quando uma hérnia de disco ou um crescimento excessivo de osso pressiona parte do nervo. Isso causa inflamação, dor e muitas vezes alguma dormência na perna afetada (leia mais aqui).

Por definição, os pacientes mencionam irradiação de dor na perna, como uma ferroada ou pequenos choques. Eles podem relatar a distribuição da dor, se ela irradia abaixo do joelho. Pacientes com ciática também podem ter dor lombar, mas geralmente é menos intensa do que a dor nas pernas.

Muitos sinônimos de ciática aparecem na literatura, como síndrome radicular lombossacral, ísquia, dor na raiz nervosa e compressão da raiz nervosa.

Embora a dor associada à ciática possa ser grave, a maioria dos casos desaparece com o tratamento em algumas semanas. As pessoas que têm ciática grave e fraqueza grave nas pernas ou alterações intestinais ou da bexiga podem precisar de cirurgia.

O acerto de Tyson

O próprio pugilista já admitiu em mais de uma entrevista que cometeu muito erros na vida. Mas um dos seus acertos foi procurar um médico assim que a dor ciática surgiu. Consultar um especialista é essencial para o tratamento correto e para amenizar os processos de dor. Não espere ser nocauteado por algo que a literatura médica já conhece com bastante profundidade. Essa luta pode ser vencida.

Camas, colchões, dores nas costas e a paz mundial

“Fomos de Paris para o Amsterdam Hilton / Conversando em nossas camas por uma semana / O pessoal da imprensa perguntou: O que vocês fazem na cama? / Eu disse: Nós só queremos ter um pouco de paz”.

A insuperável música dos Beatles “The Ballad Of John And Yoko” fala sobre uma passagem estranha e inesquecível na vida de John Lennon e sua (naquele momento) recente esposa Yoko Ono, em 1969: uma semana numa cama de hotel em Amsterdã, Holanda, lutando pela paz.

Eles se conheceram em 1966, quando Lennon ainda era casado com Cynthia Powell (mãe do também músico Julian Lennon). John e Yoko ficaram juntos mesmo assim e, por problemas burocráticos e com o crescente ódio dos fãs, se casaram em Gibraltar, território espanhol: “Finalmente pegamos o avião para Paris / Lua-de-mel junto ao Sena / Peter Brown ligou para dizer: Vocês podem dar um jeito / Vocês podem se casar em Gibraltar, perto da Espanha”, diz a música. Era 20 de março de 1969.

O casal decidiu passar a lua-de-mel no Hotel Hilton, em Amsterdã, mais especificamente na cama do quarto 702, onde iniciaram um protesto pacífico contra a Guerra do Vietnã. A imprensa teve livre acesso ao quarto, para fotografar o casal mais famoso do mundo, no episódio que ficou conhecido mundialmente como “Bed-in”.

Esse é um dos episódios mais conhecidos da música, e um dos protestos mais inusitados da história. Como assim ficar uma semana na cama?
A Guerra do Vietnã não terminou por isso, mas o recado foi dado, a controvérsia foi feita e até mesmo uma música, a deliciosa já citada “The Ballad Of John And Yoko”.

Que eu saiba, muita coisa foi perguntada ao casal, mas eu teria feito uma única pergunta, igualmente inusitada: “uma semana na cama… as costas de vocês não estão doendo?”.

Relação colchão e dor nas costas

John Lennon e Yoko Ono não ficaram uma semana deitados, como mostram as fotos e as imagens captadas naquele momento. Na maioria das vezes estavam sentados, mas dor nas costas e colchão não formam uma relação incomum.

Essa é uma dúvida que geralmente as pessoas têm: a relação entre dor nas costas e colchão. Muitas vezes, os pacientes se queixam de dores nas costas ao acordar, que vão aliviando durante o dia, mas retornam na manhã seguinte ao acordar.

Alguns estudos foram feitos nessa área, mas os artigos na literatura são insuficientes. Portanto, o que posso indicar é que, talvez, valha a pena buscar um colchão nem tão macio e nem tão firme, que sustente o peso do seu corpo de maneira adequada.

Independentemente de marca, o seu colchão vai desgastar e deformar conforme o tempo. E quando isso acontecer, será o momento de substituí-lo!

Outros fatores

Outros fatores que podem ter relação com a dor nas costas matinal são a má qualidade do sono (movimentos noturnos e má posição ao adormecer), sedentarismo e alimentação rica em carboidratos ultraprocessados, que pode gerar reações inflamatórias nas articulações, tendões e músculos, podendo ser percebidas como dores no início dos movimentos.

Vale lembrar que há neurologistas e/ou otorrinolaringologistas especializados em sono; portanto, se preciso for, busque um especialista no assunto!

Não é fácil

Ninguém gosta de viver com dor. Isso é fato – tanto quanto a maioria das pessoas é contra a guerra e a favor da paz.

Como cantou John Lennon e seus Beatles, “Caramba, você sabe que não é fácil / Você sabe como pode ser difícil / Do jeito que as coisas estão indo / Vão é me crucificar”. Lutar pela paz nunca é fácil. Mas lutar pelo pão de cada dia também não é. Por isso, é preciso dormir um sono reconfortante e restaurador das energias. Sem isso, nossa produção pode ser afetada e certamente a saúde será abalada.

O colchão e os travesseiros (o sono!) são ferramentas importantíssimas na nossa vida. Procure um ideal para você. Suas costas agradecem.

Mas se mesmo assim as costas continuarem a doer, procure um especialista para te orientar sobre o que fazer e vamos declarar uma duradoura e merecida paz com as nossas costas.

Dor no ombro? Não dê de ombros!

A Internet é algo que surpreende diariamente, uma cultura à parte, especialmente o convívio das redes sociais. Descobri há pouco os kaomojis, simbologias divertidas para representar emoções, expressões, situações, animais e outras variedades que queremos comunicar. Não é algo novo e há uma infinidade de alternativas de símbolos construídos com elementos dos teclados. Como nos ensina este site, os kaomojis são uma variação dos emoticons, “ícones emocionais usados para compensar a incapacidade de transmitir inflexões de voz, expressões faciais e gestos corporais na comunicação escrita”.

“No Japão, os emoticons são amplamente usados em mensagens de texto em celulares, e-mails e redes sociais e levam o nome de emoji ou kaomoji (颜 文字 /かお も じ), que literalmente significa: ‘kao’ = face, ‘moji’ = caractere)”, ensina.

“Apesar dos emoticons serem usados em todo o mundo, o kaomoji difere-se por algumas combinações serem bem complexas, devido ao uso de caracteres de bytes duplos. Como representam expressões faciais, eles acabam sendo muito úteis para demonstrar os sentimentos de quem está digitando a mensagem (⁀ ᗢ ⁀)”, segue.

Alguns se tornaram bastante conhecidos e certamente nos últimos anos (na última década! Como o tempo passa rápido!) você se deparou com ele: o “smugshrug”, representado por ¯\_(ツ)_/¯.

“Smugshrug” é uma expressão em inglês que significa “dar de ombros”. É como se alguém dissesse “e daí?”, “e eu com isso?”, “tô nem aí”, “paciência, fazer o quê?” etc.

Ela se popularizou nas redes sociais e é um jeito bem fofo e engraçadinho de confrontar o interlocutor. Hoje, o Whatsapp tem emojis específicos para cada expressão, inclusive o “smugshrug”, de modo que as versões kaomojis, ao menos no Brasil, correm o risco de sumir.

“E eu com isso?”, poderá perguntar o leitor.

Pois bem. A expressão “dar de ombros”, com emojis, kaomojis ou letras usuais, seguirá viva, não importa o rumo que a comunicação humana terá. E junto com a pergunta “e eu com isso?”, nós, latinos, carregamos junto um gestual, levantando os ombros e pendendo a cabeça para o lado. E é aí que queremos chegar.

Nossos ombros

Tal como os joelhos, os nossos ombros são articulações bastante complexas, que unem o úmero, omoplata (escápula) e clavícula. São duas articulações: a gleno-umeral e a acromioclavicular.

Mas, fora dos termos médicos, o que precisamos saber é que o ombro é tido como a articulação mais flexível de todo o corpo humano, permitindo que nossos braços façam movimentos giratórios inimagináveis. Enquanto os joelhos se encarregam de sustentar e aguentar nosso peso e nossos movimentos, os ombros se encarregam de articular as necessidades de movimento e peso que os braços intencionam.

E todo esse esforço constante e diário faz, claro, os ombros sofrerem. Uma hora isso pode acontecer.

Dores

A maioria das queixas de ombro estão relacionadas à dor, sobretudo à noite. Essa dor pode ser espontânea, após atividades ou esforços físicos, ou após alterações da saúde em geral.

Além de dor, algumas patologias do ombro podem diminuir ou limitar os movimentos, sobretudo os de elevar e/ou rodar o braço (apanhar roupas num varal ou alcançar as costas, respectivamente e por exemplo).

Portanto, é comum sentir dor nos ombros nessas situações, mas se a dor é contínua, se mantendo por dias ou até mesmo piorando com o passar do tempo, é recomendado buscar um ortopedista para uma investigação mais aprofundada da causa da dor.

E daí?

Essa pergunta nunca poderá ser feita após a primeira dor no ombro. Não é possível “deixar para lá”, porque pode agravar o problema, com o passar do tempo, com a repetição de movimentos. Consultar seu ortopedista é essencial para identificar o problema, a causa e, assim, poder desenvolver um tratamento – e acredite é provável existir um tratamento.

Nosso corpo é uma máquina (perdoe-me pelo clichê) e ela precisa constantemente de calibragem, cuidados e melhorias. Ao primeiro sinal de dor nos ombros ou nos joelhos, vá ao médico. Não dê de ombros. Deixe o ¯\_(ツ)_/¯ para assuntos cotidianos.

Joelho: muitas opções de tratamento

Talvez os mais novos não lembrem, mas Zico, o grande jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira (e que depois virou um treinador de sucesso no Japão), foi nossa grande esperança nas Copas de 1982 e 1986, com o inigualável Telê Santana de técnico.

Em 1982, na chamada “Tragédia do Sarriá”, o Brasil perdeu de 3 a 2 pra Itália, três gols do falecido Paolo Rossi, quando precisava só de um empate. Era um timaço aquele Brasil e a eliminação foi uma catástrofe nacional. Mas logo viria 1986 e aquela geração poderia colocar fim ao jejum que vinha desde 1970.

Mas em 29 de agosto de 1985, no Maracanã, quando Márcio Nunes, zagueiro do Bangu, deu uma entrada desleal em Zico, tudo mudou. O zagueiro arrebentou o joelho do maior craque daquela geração cheia de craques.

O Galinho de Quintino se viu com uma “torção no joelho direito”, segundo a imprensa da época. O craque flamenguista teve de operar o joelho. Ele foi para aquela Copa do Mundo, no México, em 1986, sem condições ideais e acabou perdendo um pênalti decisivo contra a França. Brasil fora e o sonho do tetra, adiado (até 1994, como hoje a gente sabe bem).

Joelhos e joelhos

Cada caso é um caso. Não é preciso ser atleta profissional para ter lesões graves como a do nosso craque Zico. Inclusive, a época era outra e hoje, talvez, Zico tivesse melhores condições de recuperação.

O joelho, como se sabe, é uma articulação sinovial bastante complexa, com patela, menisco, ligamentos, cartilagens… A sua função de sustentação do peso do corpo, de articulação, movimentação e flexibilidade impõe muitas obrigações à estrutura, que com o passar do tempo ou com o estresse de determinadas atividades pode, sim, desgastá-la.

Mas tal evolução para desgastes ou avarias por impactos dependem de cada caso. O fato é que o tratamento para o joelho pode se dar com algumas opções.

Caminhos a seguir

Nos casos de degenerações, inflamações ou algumas entorses, o tratamento conservador é a primeira opção. Mas, em alguns casos, as infiltrações articulares, ou periarticulares com corticoides, ácido hialurônico ou, mais modernamente, ortobiológicos, o plasma rico em plaquetas (link) e o aspirado de medula óssea podem trazer alívio e reparação do tecido lesionado.

Também podemos utilizar os bloqueios de nervos da articulação como adjuvantes para alívio da dor, proporcionando conforto e segurança ao paciente, para imersão em um programa de reabilitação articular através de exercícios de fortalecimento, alongamento e ganho de propriocepção, dependendo de cada caso.

Uma opção de tratamento interessante nos casos de artrose dos joelhos nos idosos é a técnica de neuromodulação dos nervos geniculares: de maneira pouco invasiva, é possível obter alívio da dor e rápida recuperação do paciente, podendo mesmo evitar uma cirurgia convencional.

Gol de placa

Como se vê, as opções são muitas, mas todas elas dependem de rigorosa avaliação do seu médico ortopedista. Mais uma vez, cada caso é um caso. As variantes são muitas.

Joaquim Grava, membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, anos depois relembrou ao canal SporTV a difícil recuperação do atleta: “Zico teve uma lesão de ligamento cruzado anterior e ligamento colateral. Na época em que o Zico foi operado, ainda não tínhamos desenvolvido a cirurgia da reconstrução do ligamento cruzado anterior. Era muito difícil, você ficava três meses de gesso, aí você tirava o gesso, fazia uma recuperação lenta, era tempo de um ano e meio, dois anos”.

Hoje, a recuperação é um passo importante, com protocolos que ajudam a melhorar essa fase. Sorte nossa que a medicina evoluiu. O nosso gol de placa é a perseverança de médicos, pesquisadores, estudiosos, cientistas e, claro, pacientes, que se dedicam em todo o processo. Se o joelho tem algum problema, a medicina pode te ajudar. Daí, quem sabe, você poderá comemorar pulando euforicamente o próximo título mundial do Brasil.

Entrevista: Drica Lo Bianco – o balé, a arte, o esporte, a terapia

Drica Lo Bianco é coreógrafa e bailarina clássica, uma profissão que enche os olhos e sonhos de crianças pelo mundo todo.

Drica é formada pela Escola Municipal de Bailados da Cidade de São Paulo em técnica clássica (1982 a 1992), História da Arte (1990), História da Dança (1991) e Técnica Moderna (1990 a 1992). O currículo vai além: Estúdio de Artes Kiróv; Royal Academy of Dancing;, com Aracy Evans; Centro Cultural da Cidade de São Paulo, em Técnica Clássica para profissionais; terminologia da dança e anti-ginastica e consciência corporal; especialização em período romântico do Ballet, pela técnica do teatro Alla Escalla; e treinamento e vivencia em técnica de Martha Graham pela Cia Emproart de Dança.

Mas a beleza plástica dessa arte em movimento esconde os bastidores de muito esforço, dedicação, treinamentos e lesões. Com tantos anos de comprometimento, Drica sabe do que está falando.

Hoje, ela é professora e pesquisadora em estudos de técnicas de dança aplicadas ao físico do indivíduo Down, e desenvolvedora do método Vesta de ensino (dança para o desenvolvimento holístico do indivíduo). Segundo ela, a dança é para todos.

“Vejo muitas pessoas que dizem ‘ah, eu não sei dançar’. Eu acredito que toda pessoa que tenha capacidade de se locomover, tem a capacidade de dançar”, diz Lo Bianco. “Ainda que não tenha a capacidade de locomoção, o domínio total do corpo, tem a capacidade de dançar. Mesmo que só com os olhos, mesmo que só com a respiração, com a pulsação cardíaca, dá para fazer uma dança”.

“A gente nasce e o primeiro impulso natural é o ‘balançar em ritmo’. Ainda antes, na gestação, a gente balança em ritmo cardíaco. Uma das primeiras reações do bebê, quando começa a ter o domínio do corpo, é balançar no ritmo da música, sentir o pulsar cardíaco da mãe. É da natureza humana o dançar. E dança é a arte sem instrumento. Nosso único instrumento é a apropriação física. Então, qualquer pessoa de mente sã e consciente tem a capacidade de dançar. A dança é a arte mais generosa, não importa para quem. Qualquer ser humano pode dançar. A dança não exige nada além do corpo e da consciência”, ensina.

Mais do que isso, dança é arte, é esporte, é autoconhecimento, é um ótimo instrumento para manter o corpo, especialmente musculatura, ossos e coluna, e a mente saudáveis – se o interessado tomar cuidados e tiver perseverança.

O balé é uma arte, mas também “um esporte” que exige bastante do corpo, músculos, condicionamento físico, mente e equilíbrio. A dança é um exercício aconselhável a partir de qual idade e quais os conselhos você daria para mães e pais, crianças e adolescentes que gostariam de começar? Há idade para começar a praticar?

A dança é, sim, uma arte. E deveria ser uma arte com o maior acesso, especialmente nas escolas, desde muito cedo. Deveria ser incorporada como matéria escolar, mesmo que não obrigatória. Quem dança tem um entendimento maior do corpo. E é bem legal para a saúde. Como “um esporte” é mais para um bailarino profissional, de alta performance.

O conselho para os pais é investigar antes de colocar seus filhos em aulas, que dança é essa e que profissional é esse? Hoje, muita gente se forma em faculdade de dança sem ter conhecimento de balé clássico. Hoje também ser formado em educação física capacita o profissional a dar aula. Mas o balé exige o estudo dessa arte, o entendimento dessa linguagem física. A partir dos quatro anos de idade aproximadamente, a criança já tem um entendimento da musicalidade, uma interpretação, compreensão da música (se é uma música triste, se é feliz). Esse é um período introdutório da dança. A posição do balé clássico não é uma posição natural para a anatomia humana. Nós temos a posição que chamamos de en dehors (que pode ser traduzida do francês literalmente por “para fora”), onde de forma parada, a base formada pelos pés (encostados calcanhar em calcanhar), com os joelhos voltados para fora e a bacia aberta o suficiente para ser virados (os joelhos) para fora. Qual o objetivo? Trazer um alongamento postural da coluna. Você vai alongar sua lombar. E se projeta o tórax para frente e para cima, alongando a cervical. É uma posição que anatomicamente não é natural para um ser humano.

Então, uma criança em desenvolvimento ósseo e muscular não tem força suficiente para sustentar essa posição, de modo que começam a nascer as lesões, as pisadas tortas, com bacia, com menisco, com coluna etc. Então, para mim, a idade ideal para começar a aprender balé é a partir de 6 a 7 anos, idade onde se começa a trabalhar a força muscular.

Quais são as contusões mais frequentes para quem pratica profissionalmente (ou apenas por diversão) o balé e como evita-las? Existem exercícios específicos de alongamento para a prática ou dependem de cada corpo, de cada exigência de passo?

Bailarinos de alta performance têm a capacidade de fazer as mais loucas lesões possíveis e imagináveis. As mais frequentes para bailarinas são nos tendões e meniscos. Também são comuns microfraturas nos pés. A própria sapatilha de ponta e o estresse causam isso. A aula de balé tem uma sequência muito bem elaborada e planejada para alongamentos, para fazer esse trabalho lentamente. Há alguns professores que enxergam cada corpo individualmente. O bom professor tem que entender o corpo de cada aluno. Não adianta brigar com o corpo, é encontrar nele o que tem de mais rico e respeitar o corpo.

Quais os maiores benefícios da prática do balé?

Eu tenho um olhar para a dança que transcende a arte, transcende esse aspecto de um esporte. A dança consegue tratar desde o processo digestivo de uma pessoa à psicomotricidade, com trabalho muscular, da postura, agilidade, reflexo, respiração, condicionamento físico, o campo cognitivo, a memória, o humor, a interação humana, o relacionamento… a dança é um excelente preventivo para o Mal de Alzheimer.

Na nossa sociedade, o balé é visto erroneamente como uma dança específica para o sexo feminino, mas é claro que o sexo masculino pode e deve praticar. Existe exercícios preparatórios diferentes para homens e mulheres? Além disso, existe um padrão para prática ou pessoas com excesso de peso, altas, baixas, com limitações corporais etc. podem praticar?

A aula de balé tem uma sequência, que começa na barra, com passos de aquecimento e alongamento. Na barra, a gente prepara o corpo. E depois seguimos para as diagonais, com caminhadas, saltos longos, que exploram um espaço maior. Todos esses passos são executados pelos homens e pelas mulheres. Historicamente, a mulher sempre foi a protagonista do balé, embora o balé tenha começado com os homens. Os movimentos preparatórios são os mesmos, mas se exige mais dos bailarinos os grandes saltos e se exige mais das bailarinas o equilíbrio e o alongamento. Para os bailarinos profissionais, a aula é parte do exercício diário.

Os profissionais treinam para além das aulas. Por exemplo, numa aula se treina a musculatura abdominal, a musculatura de costas. Mas quando termina aula, é muito comum ver as bailarinas no chão fazendo sequências e sequências de abdominais, e os bailarinos fazendo sequências e sequências de flexão de braços. Ou força na perna, para impulso, alongamento… Para os não-profissionais, o balé é visto como uma arte ou como exercício e vale para qualquer pessoa, desde que não tenha nenhuma patologia impeditiva.

É claro que um corpo mais esbelto é um facilitador, mas uma pessoa que tem um volume de corpo maior não é um impeditivo, embora os resultados possam ser diferentes. A musculatura do pé pode não aguentar saltos muito longos, pode não estar preparada para receber toda a sobrecarga de peso. Mas a aula é muito positiva para qualquer corpo. Eu trabalho com dança aplicada ao físico down. E com eles eu não uso a técnica do balé clássico, porque eles têm uma dinâmica física diferente e muito particular, e é preciso observar cada corpo atentamente para não ocasionar lesões.

Qual a importância da alimentação para a prática regular do balé?
Bailarinos precisam se alimentar bem, porque existe uma queima de energia muito grande. É como um atleta de alta performance. No dia que você não tem uma boa alimentação, você não tem um bom treino. No dia que você não dorme bem, você não faz um bom treino. No caso de bailarinos profissionais, é preciso ter um corpo esbelto. Como toda atividade que depende do corpo, exige-se uma boa alimentação, rica em proteínas, em carboidratos, em fibras, uma alimentação muito saudável. É um cuidado que se aprende por necessidade para uma produção física com mais excelência.

Plasma rico em plaquetas: nosso corpo ajudando a curar nosso corpo

O ano é 2154. Em mundo distópico, os habitantes de uma Terra superpopulosa vivem em condições péssimas, enquanto outros, os com poder aquisitivo, vivem muito bem, mas em uma estação espacial em órbita do nosso planeta.

Além da qualidade de vida que os desafortunados não podem usufruir, os habitantes da tal estação espacial contam com uma enorme vantagem: as “med-bays”, ou “máquinas médicas”. Nesse mundo injusto, só poucos sortudos podem ficar doentes: basta, então, entrar em uma dessas máquinas e ser curado. E isso vale para qualquer doença.

A história foi contada em um filme de grande orçamento chamado “Elysium”, que foi lançado em 2013, com direção de Neill Blomkamp e que tem no elenco Matt Damon, Jodie Foster, Wagner Moura, Alice Braga e outros.

Mas a ideia de uma “máquina que cura” não aparece só em “Elysium”. Essa parece ser uma obsessão dos roteiristas em Hollywood. Outros filmes fazem alusão a algo do tipo, como em “Prometheus” (de 2012, com direção de Ridley Scott e que faz parte da série de filmes “Aliens”), onde uma tripulante da nave recorre a uma dessas máquinas para tirar um alien que estava sendo gestado dentro dela. Basta entrar, apertar alguns botões e a máquina faz tudo, até mesmo acelera a cicatrização.

Bom, não estamos nesse nível de tecnologia. Não existem máquinas dessas, mas quem sabe no futuro (em 2154?). Apesar disso, podemos contar com uma medicina bastante avançada em tratamentos, aparelhos, medicamentos, anestésicos, próteses e até mesmo compreensões sobre procedimentos. Tudo na medicina é constantemente reavaliado em prol de melhores resultados para o paciente.

Ajuda na cicatrização

Não temos máquinas milagrosas, mas temos um processo que está avançando bastante. Os médicos estão usando o próprio corpo do paciente para ajudar na cura.

Descobriu-se que o plasma rico em plaquetas melhora significativamente o processo de cicatrização. O plasma rico em plaquetas é uma forma de medicina regenerativa que pode aproveitar as habilidades de cura das plaquetas e amplificar os fatores naturais de crescimento que nosso corpo usa para curar o tecido.

Plasma rico em plaquetas é um termo amplo que se refere à preparação autóloga de plaquetas concentradas suspensas em um volume de plasma, que é maior do que um número de plaquetas normalmente presentes no mesmo volume de sangue total.

Traduzindo

Para entender melhor: o plasma é a porção líquida do sangue total. Ele é composto principalmente de água e proteínas, um meio para que os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas circulem pelo corpo. Já as plaquetas são células sanguíneas que causam coágulos sanguíneos e outras funções necessárias de cura, por exemplo.

As plaquetas contêm uma infinidade de fatores de crescimento, muitos dos quais são cruciais no processo de cicatrização dos tecidos. Esses fatores de crescimento participam de processos fundamentais de cicatrização do tecido, auxiliando em vários aspectos, como nos mecanismos de angiogênese, recrutamento celular, reepitelização, cartilagem e formação da matriz óssea.

ALERTA DE PALAVRÃO: a reepitelização é a etapa de cicatrização de um ferimento que se caracteriza no crescimento do epitélio ao redor da ferida, a famosa casquinha, quando tal recuperação acontece na parte externa do corpo.

Pois bem, ativar as plaquetas desempenha um papel fundamental no processo natural de cura do corpo.

Injeções

A terapia com plasma rico em plaquetas (PRP, sigla que serviu tanto para o português, quando para o original em inglês, de platelet-rich plasma) usa injeções de uma concentração de plaquetas do próprio paciente para acelerar a cicatrização em muitos casos, como tendões, ligamentos, músculos e articulações. É o próprio paciente se curando com suas próprias armas. Para quê precisamos de uma máquina milagrosa, então?

As plaquetas ativas (concentradas por processo de centrifugação) são injetadas diretamente no tecido corporal ferido ou doente.

A técnica serve para o meu problema?

Essa é a pergunta mais valiosa. Para responde-la, é preciso obviamente a expertise de um médico. Em outras palavras, é preciso consultar o seu para saber se é possível, pois cada caso é um caso.

Mas só de saber que estamos avançando em direção ao futuro já mostra que a humanidade sempre está procurando evoluir. Melhor ainda é saber que nosso próprio corpo pode nos ajudar. Isso nenhum roteirista em Hollywood imaginou.

Se você tiver coragem, eis a cena de “Prometheus”:

Osteoporose: o tempo não para

Agenor de Miranda Araújo Neto nasceu em 4 de abril de 1958. Teria neste julho de 2022, 64 anos. Teria, mas Agenor faleceu aos 32 anos em 7 de julho de 1990, deixando umas das mais belas e tocantes obras poéticas e musicais da língua portuguesa. Essa imortal, se você me permite a utilização de tal clichê.

Você talvez não ligue o nome à pessoa. Ou o nome à obra. Mas certamente conhece bastante do que escreveu e viveu Agenor de Miranda Araújo Neto, porque Agenor é mais conhecido como Cazuza, vocalista e principal letrista do Barão Vermelho no começo da trajetória da banda, e principal voz contra o preconceito, a rabugice e a caretice já em carreira-solo, quando – os fãs poderão confirmar – lançou suas melhores canções.

Entre elas, “O Tempo Não Para”, que virou título de seu disco ao vivo de 1989. Escrita em parceria com Arnaldo Brandão, a letra tem trechos que combinam curiosamente com o nosso assunto de hoje, a osteoporose.

Peço, entretanto, que não se assuste, pois esse é um mero exercício de um médico que gostaria de alertar as pessoas de um jeito leve sobe esse grave problema – porque, não, Cazuza não escreveu “O Tempo Não Para” pensando em osteoporose, definitivamente não.

Mas podemos curtir a contundência da canção e da poesia de uma maneira diferente. Veja mais a frente, porque antes vamos falar um pouco deste problema que afeta os ossos.

A Osteoporose

A osteoporose é uma doença que causa a perda de massa óssea, deixando os ossos porosos e frágeis, propensos a fraturas. Por não ter sintomas, muitas vezes o paciente só descobre que está com osteoporose quando a fratura já ocorreu.

De acordo com o IOF (Internation Osteoporosis Foundation), considerando toda a população mundial, 1 entre 3 mulheres após os 50 anos de idade irão sofrer fratura óssea decorrente de osteoporose. Já entre os homens, a proporção é de 1 a cada 5 na mesma faixa etária; ou seja, a incidência de osteoporose é maior em mulheres.
Perceba que o tempo é implacável com nossos corpos. Faz parte da natureza nossa fragilidade se acentuar com o passar dos anos.

Seria ótimo se os jovens pudessem ter a sabedoria e a experiência dos mais velhos, e que os mais velhos tivessem a força e vitalidade dos mais jovens. Mas não é assim.

Por isso, é bom prevenir desde cedo os possíveis problemas que possam aparecer com o passar implacável dos anos. No caso da osteoporose, as dicas são até singelas: exposição ao sol com regularidade, evitar fumar e ingerir bebidas alcoólicas, exercícios regulares e alimentação rica em cálcio e vitamina D, por exemplo.

Lembre-se: osteoporose é a doença óssea metabólica mais comum e prevenível do corpo!

Sou forte, sou por acaso

Cazuza abre “O Tempo Não Para” com esses versos:

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Podemos deturpar esses versos como um aviso: vá ao encontro do sol, se fortaleça e lembre-se que somos todos obras do acaso. Não se canse de correr, de se esforçar, de contestar, mesmo que isso canse e não dê frutos imediatos.

Não desista

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para

A vida não se encerra quando a gente descobre uma doença ou um problema qualquer em nosso corpo. Longe disso. A ciência, a medicina, luta para que se encontre uma solução e muitas vezes essa solução existe (leia mais sobre isso aqui).

No caso da osteoporose, para conter a perda de massa óssea, é preciso ajustar a dieta para ingestão adequada de cálcio e vitamina D, inclusive com suplementos, exercícios físicos e medicação – e os dados vão continuar rolando.

O tempo não para

Essa talvez seja a maior certeza que a humanidade tem: o tempo não para e é impossível fazê-lo parar.

O que podemos fazer é nos prevenir contra sua ação inevitável. Algumas pessoas jamais desenvolvem sintomas de osteoporose, e esse silêncio pode ser cruel, porque quando a gente se dá conta, pode ser bastante dolorido, por conta das fraturas, que podem causar deformidades, especialmente na coluna. Então, a palavra certa nesse caso é sempre “prevenção”.

Se o tempo não para, como bem cantou o poeta, vamos usar essa certeza a nosso favor.

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para não, não para

Para não ver o futuro repetir o passado, converse com seu médico, informe-se sobre a doença e se previna!

Ose e Ite: a espondilodiscite

A língua portuguesa parece bastante complicada aos não-falantes nativos (os que possuem outra língua-mãe), mas para nós, os brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos etc ela faz muito sentido em todos os detalhes. São quase 300 milhões de falantes, mais da metade deles no Brasil (até já falamos sobre isso aqui).

Além de belas palavras, como “amor”, “saudade”, “caramba”, “inconstitucionalissimamente” e outras, o brasileiro sabe muito bem o momento certo para usar seus sufixos, como os diminutivos terminados em “inho” – que pode ser em tom carinhoso, depreciativo, relativo a pequenas quantidades e muito mais.

O sufixo é, segundo o dicionário Oxford, “um afixo que, posposto a uma raiz, radical, tema ou palavra, produz formas flexionadas ou derivadas”.

Oses e Ites

Vamos ao exemplo da medicina.

Na linguagem médica, o sufixo “ose” indica uma doença não inflamatória, como artrose, por exemplo, ou um desgaste, como a espondilose.

Já o sufixo “ite” indica, de forma simplória, alguma inflação.

Espondilodiscite

Enquanto a espondilose é um termo genérico para desgastes na coluna, a espondilodiscite é a inflamação decorrente de uma infecção do disco intervertebral e das vertebras adjacentes.

Pode atingir indivíduos em qualquer faixa etária. Mas é uma condição incomum, rara, que atinge 1 a cada 100 a 250 mil indivíduos.

Dor noturna há vários meses, que não cede com analgésicos, associada a calafrios, sudorese, é sinal comum dessa infecção. Nessa hora, vá se consultar com um especialista.

Alguns fatores podem favorecer essa condição são a diabetes, uso de corticoides, punção intravenosa e infecções prévias nos tratos urinário, respiratório, digestivo etc.

Exames de imagem podem identificar a inflamação, mas é o médico que vai buscar a identificação. A ressonância magnética continua sendo o padrão ouro para a demonstração radiológica dessa condição, com sensibilidade de 92% e especificidade de 96%, permitindo a visualização da extensão da infecção.

O diagnóstico e o tratamento precoces são essenciais para que o paciente tenha melhores chances de um bom desfecho. Mas muitas vezes são tardios, pois tende a apresentar manifestações inespecíficas e a febre muitas vezes está ausente.

Causa mais comum

A causa bacteriana mais comum de espondilodiscite na Europa é o Staphylococcus aureus, mas a espondilodiscite tuberculosa é o tipo mais comum em todo o mundo.

Eliminar a infecção

A espondilodiscite é altamente heterogênea em termos de gravidade, que depende, entre outros, da condição de saúde do paciente. Por ser altamente heterogênea, dificulta sua avaliação científica e a formulação de recomendações de tratamento.

O tratamento com antibióticos por seis semanas parece ser suficiente, mas há casos com indicações cirúrgicas.
Os objetivos do tratamento da espondilodiscite são eliminar a infecção, restaurar a funcionalidade da coluna e aliviar a dor. É tudo o que o paciente quer.

Falando em resumo

O objetivo desses nossos textos e artigos é tentar traduzir de uma maneira resumida e bem leve o que cada problema na coluna significa, para que você possa ter uma ideia geral e compreender. No caso da espondilodiscite, são tantos detalhes e possibilidades – variam caso a caso e é melhor a gente usar a boa e velha língua portuguesa para uma franca conversa paciente-médico.

Entre oses e ites, o médico sempre saberá o que indicar e como indicar.

Maçã: de Bandeira a Newton, do pecado à saúde

Quando se pensa em uma maçã, muita gente pode salivar, pensar em receitas deliciosas, de tortas a saladas, de doces a sucos, mas a fruta é muito mais do que uma potente forma de aguçar nosso paladar.

A fruta é, na verdade, um pseudofruto da macieira (Malus domestica), ou um fruto acessório, “um desenvolvimento de um tecido vegetal adjacente à flor que sustenta o fruto”, nos ensina tranquilamente a Wikipedia.

É uma fruta (ou fruto acessório) tão conhecida, que dela logo se lembra da passagem bíblica que refere-se ao “fruto proibido do Jardim do Éden”, onde Eva convenceu Adão a cair em tentação e comer a maçã. O casal, então, peca diante Deus.

Mas a versão original do texto cita apenas “fruto da Árvore do Conhecimento do bem e do mal”. “É uma citação genérica”, diz Jacyntho Brandão, professor de literatura grega da UFMG, para a revista Superinteressante. “Na Bíblia, usa-se uma palavra genérica que indica ‘pomo’, sugerindo uma fruta com forma de maçã, mas que também poderia ser uma pera, um figo ou qualquer outra com esse formato”.

Além disso, a tradução do latim pode ter contribuído para elevar a maçã à condição de “fruto proibido”: no idioma, a palavra “maçã” e “mal” são iguais, sendo malum tanto “uma maçã”, quanto “um mal, uma desgraça”.

Isaac Newton

A Royal Society, da Inglaterra, publicou há uma década o manuscrito do físico William Stukeley (1687-1765), colega de Isaac Newton, chamado “Memórias da Vida de Newton” (leia na íntegra aqui).

Nele, mais precisamente na página 43, uma nota de rodapé coloca no âmbito da verdade a história de que a queda de uma maçã teria ativado em Newton a descoberta da gravidade: “a queda de uma maçã desencadeia um raciocínio que conduziu à publicação dos ‘Principia Mathematica’, em 1687”. A tal maçã teria caído em 1666, ao lado de um Newton muito jovem, na sua aldeia natal, Grantham.

A história, para quem não sabe, é a seguinte: uma maçã cai da árvore onde descansava Isaac Newton (1642-1727). Ela bate em sua cabeça e, nesse preciso instante, faz-se luz na mente do jovem para desencadear o que viria a ser as leis da gravitação universal.

“A seguir ao almoço, como o tempo era cálido, fomos para o jardim beber chá à sombra de umas macieiras. Estávamos só ele e eu. Entre outras coisas, ele disse-me que fora numa situação idêntica que, em tempos, a noção de gravitação lhe tinha vindo à mente. Por que é que uma maçã cai sempre perpendicularmente ao chão, pensara para si próprio, incitado pela queda de uma maçã enquanto se encontrava sentado numa disposição contemplativa. Por que não se desloca lateralmente, ou para cima, mas constantemente em direção ao centro da Terra? É óbvio que a razão é que a maçã é atraída pela Terra. Deve existir uma força de atração na matéria”, descreve o manuscrito, sem especificar que a fruta tenha caído na cabeça de Newton.

Poesia

Não se sabe ao certo se uma maçã caiu ou não na cabeça do modernista Manuel Bandeira, brasileiríssimo de Recife, Pernambuco.

Mas o poeta (e crítico, e professor, e tradutor) Bandeira descreveu a saborosa fruta assim (ou vá aqui):
“Por um lado te vejo como um seio murcho
pelo outro como um ventre cujo umbigo pende ainda o cordão placentário

És vermelha como o amor divino

Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente

E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel”

O poema de Manuel Bandeira, tão delicioso quanto a própria fruta, mostra na maçã “palpita a vida prodigiosa”.
O poeta não poderia estar mais certo.

Benefícios

A maçã é bem conhecida como o símbolo do pecado da “tentação” na Bíblia. Mas, o que ela oferece no cenário científico?

Entre várias propriedades nutricionais, a maçã é rica em pectina. Essa fibra, facilmente solúvel em água, tem diversas atuações no nosso trato digestório:

✅ Para aqueles com constipação intestinal, a pectina facilita a hidratação do bolo fecal;
✅ Diminui a absorção de gorduras e açúcares, ajudando no controle do colesterol e da glicose no sangue (boa pro coração e para evitar o diabetes!);
✅ Pode ser considerado um prebiótico, por ser consumido por bactérias protetoras do intestino;
✅ Adjuvante no emagrecimento.

Ela também melhora a função cerebral, retarda o envelhecimento, previne o câncer, segundo a revista científica Public Health Nutrition (leia aqui o original), combate a asma e até ajuda na prevenção de cáries.

Além de tudo, a maçã contribui para a saúde dos nossos ossos. A maçã é tudo de bom! Vai uma mordida aí?

A poesia, o saber e a cirurgia

Toda profissão tem suas peculiaridades e curiosidades. E dentro de toda profissão, cada profissional tem suas peculiaridades e modo de agir. O que deve ser padrão é o trato ético e socialmente correto em cada atuação, seja do motorista de ônibus ao jornalista, seja do limpador de janelas ao advogado, seja do gari ao médico. Uma sociedade é formada de todas essas profissões e se uma delas faltar, há um desbalanceamento e a comunidade pode sofrer consequências inimagináveis.

Na medicina, como em qualquer outra, não é diferente. Para você atuar bem, é preciso, primeiramente, preparo, força de vontade, dedicação e entender seus próprios métodos e rituais pessoais.

Eu, como qualquer profissional de qualquer profissão, me dedico, estudo, me atualizo e procuro atuar com ética e respeito. Mas isso pode ser visto como “o básico”, o que é plenamente compreensível.

Nos anos e anos de profissão, além da dedicação, estudo e atualizações, busco entender e criar procedimentos que vão melhorar ainda mais a minha atuação e o atendimento aos meus pacientes.

Por isso, trago uma certeza: na nossa ótica, a cirurgia não começa na hora que o paciente é anestesiado e que pego o bisturi e faço a primeira ação. Não, não é assim que vejo a cirurgia. A cirurgia começa quando a gente atende o paciente, depois quando pega os exames, e depois faz a análise pré-operatória, que é algo fundamental.

Nessa análise, a gente avalia como paciente dorme, como ele se alimenta, problemas que ele tem de saúde, reposições de vitaminas, de proteínas que são importantes para a cicatrização, essa análise e mais avaliações de médicos cardiologistas, médicos anestesistas, ou outros mais que a gente precise, tudo isso vai se juntar para ter um bom resultado na operação e no pós-operatório.

Porque quem vai ser operado é o paciente e não a enfermidade que ele possui. É o paciente que precisa de cuidado e atenção – e o paciente tem sua profissão da qual a sociedade não pode prescindir.

Cirurgia e poesia

Para muita gente parece óbvio, mas vejo tudo como um poema. O poeta sabe que vai escrever sobre o que lhe inspirou. Mas ele precisa fazer várias análises: de ritmo, das palavras que nossa língua tem à disposição, do papel que vai receber os versos (e se for uma canção?), de como vai ser lido, se vai rimar, se vai ser construtivista, se vai instigar, se vai acalmar, qual o tamanho e a extensão. Ninguém começa algo em sua profissão sem saber como quer terminar.

Nós precisamos ver nossa profissão como poesia e trabalhar com o máximo de informação que temos à disposição – quantas palavras há na nossa língua para servir ao poeta? Todas as análises médicas disponíveis vão ajudar os médicos envolvidos a realizar a melhor cirurgia e fazer o paciente voltar a sorrir ou ter o máximo de qualidade de vida possível.

Pode parecer uma comparação pouco usual. Mas a leveza da poesia se equipara à leveza de ver os pacientes caminhando para uma vida com menos obstáculos que as enfermidades lhes impõem.

Ou como diz o professor da UFRJ, Manuel Antônio de Castro, “a palavra grega ‘poíesis’, que gerou a palavra portuguesa ‘poesia’, em sentido amplo, não diz originariamente uma atividade cultural entre outras. Na e pela ‘poíesis’ o próprio real se destina no homem para que este o realize numa plenitude que o próprio real por si não realiza. Na e pela ‘poíesis’, o próprio real se constitui como linguagem, mundo, verdade, sentido, tempo e história, em qualquer cultura”.

E citando o filósofo alemão Martin Heidegger, explica que “também a phýsis, o surgir e elevar-se por si mesmo, é uma pro-dução, é poíesis. A phýsis é até a máxima poíesis. Pois o vigente da phýsis tem em si mesmo o eclodir da produção. Enquanto o que é pro-duzido pelo artesanato e pela arte, por exemplo, o cálice de prata, não possui o eclodir da pro-dução em si mesmo, mas em um outro, no artesão e no artista”.

“Mas o artista só tem em si a poíesis na medida em que ele é o que ele é no vigorar do ser. A obra de arte opera na medida em que ela contém em si a poíesis, o vigorar da phýsis enquanto mediação, medida, linguagem”: façamos, então, em cada profissão, no nosso dia a dia, vigorar o máximo da nossa linguagem do saber.

Sarcopenia: a preocupante perda de massa muscular

No final de 2021, uma matéria do jornal esportivo Lance! mostrou a história de Andreia Tokutake, vice-campeã sul-americana de fisiculturismo no Peru, Argentina e Brasil, na categoria Wellness Sênior 45+.

Para muita gente, ser atleta de alta performance só é possível se começar cedo, na mais tenra idade. Mas Tokutake é mais um exemplo, entre tantos, de que não é bem assim.

Segundo o jornal esportivo, ela “iniciou a carreira esportiva aos 40 anos, para se curar de uma depressão. Hoje, aos 45, ela não apenas superou a mazela, como acumula pódios em competições pelo continente” (leia a matéria completa aqui).

“O fisiculturismo, para mim, é uma recuperação diária, é a busca incessante pela minha melhor versão. Graças a este esporte a minha autoestima aumentou e eu pude perceber que, na vida, nunca é tarde para começar, seja qual for o desafio”, disse ao jornal.

E a atleta tem toda razão. Nunca é tarde para começar – ou recomeçar. Aliás, é recomendável que se comece a movimentar o corpo, não importa em que momento da vida. O importante e colocar-se em movimento.

Caso contrário, com a idade avançando, a pessoa pode encontrar a sarcopenia, palavra que vem do grego e significa “perda de carne”. Em outras palavras, é a diminuição da massa muscular no corpo.

Sarcopenia

Envelhecer é maravilhoso, mas requer cuidados. E a sarcopenia é um dos pontos de atenção.

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) define a sarcopenia como “uma doença caracterizada pela acelerada perda de massa e força muscular com redução do desempenho físico nos indivíduos. Essa doença é mais comum em pessoas com mais de 60 anos, o que pode gerar dificuldade para realizar atividades rotineiras, como caminhar e subir escadas”.

Ainda nas palavras da SBGG, “para prevenir ou tratar a sarcopenia é ideal a combinação de exercícios físicos resistidos e uma nutrição adequada”.

A SBGG criou até um manual de recomendações para diagnóstico e tratamento da sarcopenia no Brasil. (clique aqui)

A prevalência de sarcopenia tem grande variação dependendo da faixa etária, do sexo, do cenário clínico e da definição utilizada, diz o manual. A prevalência em indivíduos com idade entre 60 e 70 anos varia de 5% a 13%; enquanto entre os idosos com mais de 80 anos pode oscilar de 11% a 50%.

“Na comunidade, a prevalência de sarcopenia em homens é de 11% e em mulheres é de 9%. Entre os idosos institucionalizados, a prevalência é de 51% e 31% em homens e mulheres, respectivamente”, informa.

Infelizmente, “apesar de ser reconhecida como uma doença muscular desde 2016, o diagnóstico da sarcopenia raramente é feito ou documentado nos prontuários médicos. Em pesquisa recente realizada pela SBGG, cerca de 30% dos médicos não especialistas em geriatria declararam que não sabem fazer o diagnóstico da sarcopenia”, diz a SBGG.

Principais Causas

A idade é a principal causa, mas a má nutrição, com baixa ingestão energética ou proteica, deficiência de nutrientes, má-absorção e condições gastrointestinais, inatividade e sedentarismo e baixo nível de atividade física, também são causas.

Doenças renais, hepáticas, osteoarticulares, neurológicas, oncológicas, cardiorrespiratórias e osteoarticulares também influenciam.

Um caso

Uma senhora de 76 anos, obesa, queixando-se de dor de coluna. No final, ela disse: “doutor Douglas, eu tenho muito medo de cair”.

Pois bem, muitas vezes, por trás desse medo de cair, o que existe é uma insuficiência muscular. Muitos obesos têm sarcopenia. Eles estão pesados, mas a musculatura está fraca. E uma musculatura fraca realmente propicia chances de desequilíbrio e queda.

E caindo pode ter fratura e às vezes essa queda pode ter consequências graves.

A dica é sempre consultar o ortopedista, fazer uma análise biométrica, ver se a relação gordura e massa muscular está adequada e se não estiver é preciso tratar.

Exercícios e alimentação

Começar a se exercitar é uma ótima maneira de prevenção, e há exercícios resistidos específicos. De fato, não é preciso virar atleta de alto rendimento, como a fisiculturista Tokutake. Mas mexer o corpo ajuda bastante.

“A realização de um treinamento progressivo de exercícios resistidos é o que temos com maior nível de evidência científica para melhorar a massa, a força muscular e o desempenho físico”, diz a SBGG.

E é preciso ficar atento à alimentação. No Brasil, apenas 38% dos idosos consomem frequentemente alimentos proteicos. Além disso, a prevalência de baixo consumo proteico alcança 21,5%, 46,7% ou 70,8% quando o ponto de corte adotado é 0,8 g/kg/dia, 1,0 g/kg/dia ou 1,2 g/kg/dia, respectivamente.

A SBGG diz que a recomendação diária de consumo proteico para um idoso saudável no intuito de evitar a sarcopenia varia de 1,0 e 1,2 g/kg/dia. Nos casos de tratamento da sarcopenia recomenda-se o consumo de 1,2 a 1,5 g/kg/dia.
Tanto na prevenção como no tratamento, além da quantidade ingerida, outro ponto fundamental é a distribuição diária do consumo proteico. A recomendação é que se alcance 25 a 30 gramas em cada uma das três principais refeições, afirma o manual.

“A suplementação nutricional é indicada nos casos em que a ingesta calórica seja menor que 70% das necessidades diárias. Para idosos com desnutrição ou em risco de desnutrição deve-se fornecer pelo menos 400 kcal/dia, incluindo 30 g ou mais de proteína/dia”, ensina a SBGG.

Mexendo o esqueleto

Envelhecer com qualidade de vida é o sonho de qualquer pessoa. Normalmente, a gente só se preocupa com isso quando chega a hora, quando o corpo pede socorro, ou quando parece tarde demais.

Como diz a nossa fisiculturista (que ainda é jovem, é verdade), nunca é tarde para começar. Bora mexer o esqueleto?

Câimbras: dos atletas de alto rendimento à hérnia de disco

De repente e não mais do que de repente, a dor. Uma intensa dor. Os músculos se contraem, há espasmos, normalmente nos membros inferiores e o mundo parece que gira e tudo mais vai se acabar. São as câimbras.

Elas estão usualmente relacionadas à pratica intensa de esportes, mas também podem estar associadas a algumas doenças sistêmicas, que causam aquelas dores noturnas nas pernas.

Câimbras todo mundo já teve ou pode vir a ter. Um susto repentino. Não tem idade, não tem gênero, não tem raça, nem religião. Basta ter músculos.

E é uma cena bastante comum: quem nunca viu um jogador de futebol se contorcendo no gramado, após um pique atrás da bola ou do adversário? Ele desaba e logo um companheiro de trabalho o socorre, levantando sua perna e esticando o músculo afetado ao puxar a ponta do pé para cima. A recuperação é rápida, mas a dor é memorável.

Causas das câimbras

O uso exagerado da musculatura é uma das causas. O atleta sua muito e se não repor a água e afins, a desidratação pode levar o músculo a ficar sujeito a espasmos. O mesmo vale para a reposição de sais minerais, com a falta de potássio, de cálcio ou de magnésio.

Mas não só atletas, trabalhadores com esforços repetitivos também podem sofrer com o problema. Hipertensos que tomam diariamente diuréticos podem ter que controlar melhor a alimentação nesse sentido, senão, haja dor. Diabéticos, anêmicos, pessoas com insuficiência renal ou desequilíbrio hormonal, além grávidas, pessoas com problemas na tireoide… todos estão sujeitos.

Baixas temperaturas igualmente podem levar a câimbras, já que a musculatura se contrai e as fibras musculares podem apresentar espasmos.

E particularmente… hérnia de disco (leia mais aqui)!

A compressão do ciático pode levar a um susto noturno: a câimbra em uma das pernas. É preciso estar atento a esse sintoma, consultar um médico especializado em coluna para ver se o problema não pode ser exatamente uma hérnia de disco.

Especialmente naqueles que sentem dores nas pernas durante o dia também e/ou dormência nos dedos do pé. É um bom indicativo.

Sim, entre tantas causas de câimbras noturnas, a hérnia de disco parece uma improvável para quem sente tais dores, de modo especial à noite. É preciso investigar, porque quanto mais rápido e corretamente diagnosticar, melhor.

Um sono tranquilo é o que os justos merecem, diz o ditado. E ninguém quer perder preciosos minutos de sono, em dias tão agitados e estressantes como os atuais, por conta de um problema qualquer causando as terríveis dores da câimbra.

Converse com o seu médico. Conhecer o verdadeiro problema é o primeiro passo para o alívio. Depois, dá até para jogar aquele futebolzinho com os amigos com maior tranquilidade.

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Equilíbrio e instabilidade físicos e mentais: apertando os botões da qualidade de vida

Se a vida fosse como o que vemos no filme “Divertidamente”, talvez fosse mais divertida e até mais simples (embora ele seja mais profundo do que as cores vibrantes do desenho animado sugiram).

Ali aprendemos que a tristeza tem o mesmo peso de importância que a alegria, para que possamos achar nosso equilíbrio emocional. De fato, chegar até nessa estabilidade é uma baita aventura, embora quase nunca divertida. A bem da verdade, estamos quase sempre lutando contra as instabilidades que insistem em nos afetar.

No filme, os personagens apertam botões, puxam alavancas, giram roldanas e mostram nossa cabeça e nosso corpo como um animado mecanismo provido de um ferramental ao dispor das nossas necessidades. Sim, seria fácil.

No mundo real, os processos são mais doloridos e esse ferramental precisa ser cuidadosamente manuseado. Especialmente quando se trata de instabilidade da coluna. Isso porque a instabilidade da coluna vertebral nem sempre pode ser percebida com exames clínicos ou radiológicos. Mais do que isso, nem toda instabilidade vertebral é dolorosa.

Uma instabilidade

Para deixar claro, perder a estabilidade de um segmento funcional da coluna é ter alguma alteração no sistema que inclui vértebras, ligamentos e músculos. Isso faz com que haja uma frouxidão que geram movimentos anormais.

Ora, se a nossa coluna é um “prédio perfeito” (link), qualquer instabilidade pode colocar a estrutura em maus lençóis. Pode, claro, causar desconforto, impossibilitar movimento e gerar dor – e como diriam os personagens de “Divertidamente”, dor ninguém merece.

Há um conceito fácil de entender, descrito pelos doutores Pajambi e White: é a “perda da capacidade da coluna vertebral de manter seu padrão de mobilidade sob cargas fisiológicas”. Ou: a coluna precisa aguentar o corpo e fazer os movimentos que se espera dela.

Um pouco mais a fundo

Podemos fingir que somos um dos bonequinhos coloridos de “Divertidamente” e ir mais a fundo na estrutura do nosso corpo.

Como ensina o doutor MM Panjabi, “o sistema estabilizador da coluna consiste em três subsistemas. As vértebras, discos e ligamentos constituem o subsistema passivo. Todos os músculos e tendões ao redor da coluna vertebral que podem aplicar forças a ela constituem o subsistema ativo. Os nervos e o sistema nervoso central compreendem o subsistema neural, que determina os requisitos para a estabilidade da coluna, monitorando os sinais e direcionando o subsistema ativo para fornecer a estabilidade necessária”.

A disfunção de um componente de qualquer um dos subsistemas pode levar a uma ou mais das três possibilidades a seguir: “uma resposta imediata de outros subsistemas para compensar com sucesso; uma resposta de adaptação de longo prazo de um ou mais subsistemas; e uma lesão em um ou mais componentes de qualquer subsistema”.

Segundo o que nos ensina Panjabi, conceitua-se que a primeira resposta resulta em função normal, a segunda resulta em função normal, mas com um sistema estabilizador da coluna alterado, e a terceira leva à disfunção geral do sistema, produzindo, por exemplo, dor lombar. E dor, lembre-se, ninguém merece.

Muitas causas

São várias as causas da instabilidade. Há as instabilidades adquiridas por trauma, pós-cirúrgica, patológica ou degenerativa; e as de desenvolvimento: displástica de alto grau e de baixo grau.

Segundo a sua patologia de base, as instabilidades vertebrais lombares vêm com fraturas ou luxações, processos infecciosos, neoplasia primária ou secundária, espondioliostese, alguma doença degenerativa e escoliose.

Uma notícia boa, mas nem sempre divertida: a artrodese

Sim, há tratamento. Mas ao contrário da diversão de apertar botões, girar manivelas e afins do desenho animado, alguns casos se fazem necessário literalmente apertar parafusos, preencher espaços com enchimento, uma coisa meio ficção científica, mas que tem funcionado perfeitamente bem com os novos materiais e técnicas desenvolvidos pela inteligência humana.

Ao cabo, o que queremos é devolver qualidade de vida à pessoa, tornando a estabilizar a coluna.

A artrodese é um procedimento realizado para levar à fusão óssea em uma articulação, gerando estabilidade. Nem todo mundo vai precisar de artrodese, mas aqueles que precisarem, dependendo do diagnóstico médico, podem se tranquilizar com a eficiência do procedimento.

Para chegar ao objetivo, o cirurgião utiliza placas, pinos, parafusos, barras, cages (as famosas gaiolas), reforços ósseos e por aí vai. Ninguém vai ver o que o paciente tem por dentro, mas o paciente sentirá uma significativa melhora nas suas atividades cotidianas.

Um ensinamento

Nós sabemos que a medicina evoluiu a ponto de nos dar a alegria de recobrar a qualidade de vida em muitos casos e desafios. Podemos e devemos aproveitar isso.

“Não entre em pânico”, diz um dos personagens do filme. “Não olhe só para o que dá errado! Sempre há um jeito de melhorar”, diz outro. Mas não há nada de errado em chorar as lágrimas da dor e dos problemas. O equilíbrio emocional é tão importante quanto o físico para deixar a vida mais colorida e satisfatória. Bora cuidar de todos eles?

Um novo olhar para a dor

Dor. Quem nunca sentiu dor? Dores físicas, dores do coração, dores da alma, dores morais. Arrependimentos. Coração partido, um amor que se foi e não queríamos perder. A dor da perda de alguém querido. A dor de ver seu time sucumbir numa final diante do maior rival. A dor de perder um emprego e de repente se encontrar desamparado. A dor de ver seu semelhante não ter o que comer. A dor de ver alguém da sua vida se perder para as drogas.

A lista pode se desenrolar quase que infinitamente e para todas elas, talvez, haja algum tipo de cura, seja espiritual, seja psicológica, seja pelo esporte, seja pelo autoconhecimento, seja com a medicina.

A dor faz parte da nossa vida. E nós médicos convivemos com ela, especialmente por conta de nossos pacientes. O médico é talhado para estudar a doença, buscar uma solução que elimine aquela enfermidade do corpo do paciente, mas muitas vezes esquece de tratar do paciente, que afinal é uma pessoa que sente dor.

A dor no foco

Recentemente, o “Tratado de Dor Musculoesquelética”, publicado em 2019, pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), mostrou o quanto é importante essa diferenciação.

O presidente da SBOT, doutor Moisés Cohen, médico há 40 anos e professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), escreveu: “historicamente a dor sempre foi vista pelos médicos muito mais como um sinal de alerta do que como uma síndrome a ser tratada. Nas últimas décadas, porém, com o surgimento de diversas linhas de pesquisas a dor passou a ser considerada não mais como um sintoma natural de determinadas doenças ou decorrente de quadros pós-cirúrgicos, mas como uma entidade de tratamento específico visando a qualidade de vida do paciente. Na ortopedia e traumatologia, muito embora nos deparemos diariamente com quadros de dor – sobretudo dor crônica – raramente nos preocupávamos em tratá-la, preferindo encaminhar nossos pacientes para outros especialistas. A falta de formação específica e, talvez, de informações sobre este importante campo da pesquisa científica deixou-nos à margem de uma área de atuação das mais importantes”.

A realidade, como ele bem lembrou na introdução do “Tratado…”, passa a incluir questões relacionadas à dor no exame para obtenção do TEOT (Título de Especialista em Ortopedia e Traumatologia).

“Ao assimilar o conceito de tratamento holístico do paciente – que necessariamente inclui o tratamento da dor musculoesquelética – a Ortopedia poderá desenvolver-se ainda mais como especialidade médica, formar melhor seus especialistas e ampliar naturalmente sua área de atuação”, ele escreveu.

Comitê da dor

Foi assim que nasceu o Comitê de Dor da SBOT que já possui muitos colegas imbuídos em colocar a dor no foco importante de atenção: “epidemiologia e fisiopatologia da dor, classificações das síndromes mais comuns, analgesia pós-operatória, fármacos de última geração, medicina regenerativa e tratamento intervencionista, exames complementares e estimulações elétricas, entre outras abordagens terapêuticas fundamentais”, lembra o doutor Cohen.

O Comitê tem a presidência do doutor Ricardo Kobayashi, ortopedista, clínico de dor, especialista em tratamento por ondas de choque.
Como ele mesmo lembra em seu site, “as dores atrapalham o humor, sono, trabalho, lazer e a qualidade de vida das pessoas”. E ele tem toda a razão. Tratar a dor é devolver qualidade de vida.

Mas o que é a dor?

Vou recorrer mais uma vez ao “Tratado”: “a dor é uma experiência presente na vida da maior parte dos seres humanos, pois constitui um mecanismo fisiológico de proteção que possibilita a detecção de estímulos físicos e químicos nocivos”.

Ou seja, a dor nos permite saber que há algo errado.

Já escrevi uma vez, ao falar sobre Bloqueios, que o poeta diria que “toda dor é silenciosa”, sabendo que a dor de cada um só conhece quem a sente. Mas ninguém precisa viver com dor. Não a física, pelo menos. As do coração e as da alma fazem parte da vida e da nossa evolução como pessoas.

Fernando Pessoa até escreveu que “o poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, na dor lida sentem bem, não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm”.

Vamos tratar

Ninguém quer sentir nenhuma dor, mas a física é algo que nos causa temor. É por isso que o posicionamento da SBOT é tão importante.
Se há uma dor, há um problema. Aqui no Ibedor não podemos tratar todas as dores do mundo – e há, por certo, tantas dores quanto belezas por aí. Mas aquelas que estão ao nosso alcance, vamos tratar.

Natal, esperança, crença, conhecimento e respeito: a humanidade é tudo isso

O artigo 5º, Inciso VI, da Constituição brasileira diz que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”.

É o Estado laico garantido que todos tenham a fé que desejarem e o direito à associação de culto, qualquer que seja, incluindo não ter religião alguma, como por exemplo os ateus. A liberdade religiosa é fundamental para qualquer sociedade.

E, na época da festa mais importante para muitas crenças, o Natal, é salutar ressaltar isso. Porque religião não é só sobre fé e crença, é sobre respeito e sobre o próximo também. A escolha de qual religião acreditar ou seguir é pessoal e deve ser respeitada. Até porque tem quem não veja no Natal significado algum. Ou mesmo no Ano Novo. Ou na Páscoa.

A coluna vertebral de qualquer religião é o respeito. Seus dogmas são válidos para quem acredita neles e não podem ser impostos.

Na ciência

Já na ciência é o contrário: não há dogmas, não há “acreditar”. Há muita pesquisa, suor, estudo, erros e acertos, troca de informações, paciência e, claro respeito. Respeito ao conhecimento próprio, ao conhecimento histórico acumulado pela humanidade, ao conhecimento alheio e, essencialmente, aos fatos apresentados.

Na ciência, as verdades são estimuladas a serem contestadas. É assim que se dá o avanço do conhecimento humano: pela curiosidade, pela premissa de que sempre é possível saber mais e mais.

Na nossa área, o conhecimento é sempre crescente, há sempre algo novo para se aprender, desde técnicas novas até novos medicamentos, novos procedimentos, novos tratamentos, porque o maior dogma é que sempre podemos conhecer e evoluir mais.

O corpo humano é frágil – e a covid-19 mostrou isso com tal clareza que deveríamos pensar que nossa superioridade como espécie na Terra não é assim tão segura. Qual o diferencial da raça humana sobre qualquer outra espécie que coabita nosso Planeta, senão o conhecimento, o saber, a inteligência e nosso cérebro altamente desenvolvido?

Aperfeiçoamento

Recentemente, estive no Texas, Estados Unidos, para participar de um evento internacional de aperfeiçoamento em técnicas robóticas e de navegação em cirurgia de coluna vertebral no laboratório de treinamento da Medtronic.

Profissionais renomados de todas as partes do planeta estiveram presentes, trocando informações e dicas que certamente contribuirão no tratamento de pacientes que sofrem com problemas na coluna vertebral.

Nossos eixos

Eu gosto muito do conceito da Organização Mundial da Saúde que diz que “a saúde é uma relação de continuidade dos nossos eixos biológicos, psíquicos, mentais, religiosos…”.

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Porque o ser humano e a nossa evolução como espécie são isso mesmo.

Natal e esperança

Numa data tão importante como essa, nunca é demais lembrar que fazemos parte de algo maior do que nossa própria existência. Embora seja de extrema importância que cuidemos do nosso corpo, da nossa mente, das nossas emoções, é essencial que cuidemos do próximo, na medida em que pudermos, porque somos todos um grande organismo chamado humanidade.

Nossa sabedoria, nosso respeito e nossa crença por um futuro melhor são exatamente o que nos guiam para esse futuro melhor.

Por isso, desejo a todos, aos que acreditam e aos que não acreditam, aos que têm fé e aos que não têm, um ótimo Natal e um Ano Novo com esperanças renovadas. Que 2022 seja um ano repleto de conquistas e alegrias.

Lesões nos ossos: contusão, fratura, entorse ou luxação?

Ossos e cartilagens formam nosso esqueleto – o dos animais vertebrados. Um adulto tem 206 ossos no corpo, mas quando somos bebês, temos uma quantidade maior, que vão se fundindo até chegar ao pouco mais de duas centenas.
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Hemangioma: um pouco de sangue a mais

Ah, o sangue! Esse elemento essencial à vida, com a função de transportar nutrientes, gases respiratórios, de fazer a nossa defesa e imunidade, e que percorre todo o nosso corpo, através das estruturas tubulares que chamamos de vasos sanguíneos.
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Tuberculose: uma doença rara, um problema que persiste em nossos tempos

O Ministério da Saúde ensina para quem quiser que “a tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos ou sistemas. É uma doença causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch”.

É, de fato, uma doença bastante conhecida pela ciência.

Para se ter uma ideia, foi batizada em 1832, pelo alemão Johann Lukas Schönlein, e em 1882, outro alemão, Heinrich Hermann Robert Koch, descobriu o bacilo que causa a doença. Mas antes ela já era conhecida, só não tinha o nome de tuberculose.

A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa pelo ar, por meio de tosse, espirro ou fala. Os principais sintomas são febre, tosse, fraqueza, cansaço e perda de peso.

Embora seja considerada “rara”, podendo ser de forma parcial evitada com vacina (a BCG), ela está ressurgindo, especialmente em áreas de saneamento básico deficiente, com a forma pulmonar sendo a mais recorrente, embora haja outros tipos. Uma delas é a óssea.

Tuberculose de coluna

A tuberculose de coluna corresponde a 50% das tuberculoses ósseas (que são 10% dos casos de tuberculose) e pode estar associada à doença pulmonar ou não.

Precisa ser diagnosticada precocemente, pois pode levar à paraplegia, abscesso do músculo psoas, essencial para o equilíbrio estrutural do corpo, e à cifose grave.

A grande notícia é que, como a tuberculose é uma doença bastante conhecida da ciência, seu diagnóstico também é simples. Entretanto, não se pode facilitar.

Tratamento

Um terço da população mundial é infectada pelo Mycobacterium tuberculosis e muitos acabam morrendo. A doença atinge predominantemente o público infantil, mas pode-se dar em adultos também.

Usualmente, o tratamento se dá com antibióticos e ambulatorialmente. E consegue-se bons resultados.

Quando ocorre tuberculose na coluna vertebral, além do tratamento com medicamentos, usualmente é realizado o debridamento (remoção do tecido desvitalizado).

Conhecimento ajuda

Embora o conhecimento médico e científico ajude, o fato de ser uma doença persistente na sociedade mostra que não se pode minimizar a força da natureza. Se o ser humano não se cuidar, pode ser afetado pelos menores dos seres e isso pode causar problemas graves ou até mesmo ser fatal.

Seu médico, ainda bem, terá pleno conhecimento para identificar uma doença como essa. Seguir o tratamento até o fim ou as orientações do profissional pode significar viver no presente ou se voltar ao passado.

Red Flags: quando é preciso parar e buscar orientação médica

No futebol, quando um jogador comete muitas faltas, ou é indisciplinado ou ainda comete uma falta mais dura, temerária, o árbitro não precisa falar nada, basta tirar o cartão amarelo do bolso e levantá-lo em direção ao atleta.

Esse ato mostra a todos que o jogador está sendo advertido por não respeitar as regras do jogo. É um sinal inequívoco de alerta.

Mas quando ele reincide, ou comete uma infração ainda mais dura ou uma indisciplina ainda mais virulenta, o árbitro levanta o cartão com outra cor, a vermelha.

Agora, ele mostrou a todos no campo de jogo que aquele atleta está expulso de campo por não respeitar as regras de jogo, o árbitro, os adversários e uma das lógicas de se praticar um esporte competitivo, que é a lealdade.

O cartão amarelo é um “atenção!” e o vermelho, um “chega!”.

História dos cartões

Os cartões amarelo e vermelho são tão usuais hoje em dia, que pouca gente se lembra quando e por qual motivo eles foram criados e inseridos no cotidiano do jogo.

Em 1966, na Copa da Inglaterra, numa partida entre Argentina e os donos da casa, houve uma confusão.

Era um jogo tenso, pelas quartas-de-final do torneio. O capitão argentino, Antonio Rattín (em novembro de 2021, ainda vivo, com 84 anos – ele nasceu em 1937), contestou uma falta marcada pelo árbitro alemão Rudolf Kreitlein.

O fato de um falar espanhol e outro, alemão, impossibilitou qualquer diálogo. A situação já vinha complicada pelo histórico da partida conturbada e cheia de faltas e, digamos, “vontade” viril dos jogadores. Haja canela!

Tentando expulsar o atleta de campo (que já havia sido advertido naquela partida), Kreitlein apontava para o jogador e para a direção de fora do gramado. Enquanto não se entendia o que se passava, a partida ficou paralisada vários minutos.

A peleja estava com 35 minutos do primeiro tempo.

Quando tudo se resolveu, a Inglaterra venceu o jogo por 1 a 0, com gol de Geoff Hurst, na segunda etapa. O time da casa avançou para a semifinal, depois para a final e conquistou o seu único título mundial, veja, em cima da Alemanha e com um gol para lá de duvidoso (a bola bateu no travessão, quicou no chão e ficou a dúvida até hoje: entrou ou não?).

Mas para o chefe da arbitragem da Copa do Mundo de 1970, o inglês Ken Aston, a lembrança que ficou foi a discussão entre o argentino e o alemão: como evitar isso?

Atenção e Pare

Aston teve a ideia dos cartões quando estava em trânsito, já na Cidade do México, uma das cidades-sedes daquele mundial, e o semáforo ficou vermelho. Ele lembrou, no site da FIFA: “Eu pensei: ‘amarelo’, pega leve; ‘vermelho’, pare, você está fora”.

Assim, Aston resolveu ao menos o problema de comunicação entre atletas de duas nacionalidades e os árbitros, de outras.

Um cartão amarelo ou um vermelho e pronto, não havia mais discussão sobre as advertências. Sobre as advertências… porque no futebol,
a discussão sempre acontece.

Red Flags na coluna

O princípio é o mesmo do futebol ou do trânsito (ou na praia, onde uma bandeira vermelha tremulando na areia indica que o mar está perigoso): se seu médico se deparar com uma red flag (bandeira vermelha), ele vai parar e pensar em algum diagnóstico e posterior tratamento para seu problema.

São sinais que o médico detecta durante o exame físico, durante a consulta, na conversa com o paciente, que podem se traduzir em problemas mais sérios da coluna.

É o famoso: “opa! Vamos investigar melhor isso!”.

Algumas Red Flags

Se você tem mais de 50 anos, são algumas red flags:

  • Histórico de câncer
  • Uma perda de peso inexplicável
  • Uma dor que já passa de um mês de duração – dor de coluna ou muscular é algo comum, mas não que dure tanto tempo
  • Ausência resposta a um tratamento (pode ser fisioterapia, um remédio etc.)
  • Dor que piora ao descansar, dormir
  • Histórico de uso de remédios na veia
  • Presença de uma infecção, particularmente no trato urinário

Você pode ver mais no vídeo abaixo.

Qualquer um desses sintomas será detectado pelo médico nas suas conversas com ele. O médico saberá levar a conversa para descobrir mais sintomas e, a partir daí, poder realizar exames mais acurados e determinar o problema.

De volta ao jogo

Aliás, pensando melhor, uma bandeira vermelha aqui pode te trazer de volta ao jogo, à qualidade de vida.

É um sinal. É um alerta para você parar e ter um tratamento adequado. E, então, você poderá voltar a ser escalado plenamente para as melhores coisas da vida.

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Órteses: estabilidade que é boa enquanto dura

No dicionário Houaiss, não há um significado da palavra “estável” que não sugira uma certa tranquilidade. Assim descreve:

1. firme, seguro (exemplo: “a máquina não está estável sobre a mesa”)
2. que não varia; inalterável, invariável (exemplos: “humor estável”, “temperatura estável”)
3. que se mantém constante, que perdura; duradouro (exemplos: “paz estável” “nunca teve uma relação amorosa estável”)
4. que obteve estabilidade (no jurídico; exemplo: “funcionário estável”)
5. (na física) em que se restaurou o equilíbrio, após rápida perturbação (diz-se de sistema)

Até mesma na sua forma, a palavra mantém estabilidade: é um adjetivo que não varia com o gênero (“ela é estável”, assim como “ele é estável”).

Nem tudo o que é estável fica muito tempo assim, afinal é da natureza, é do ser humano e da sociedade estarem sempre em movimento, de modo que a paz nunca se mantém por muito tempo assim, estável. Nem a paz, nem relacionamentos, humores, temperaturas, empregados e empregadores, a economia, o sistema, a máquina sobre a mesa, ele ou ela.

Estabilidade é um desejo e quase sempre uma realidade pouco duradoura. Ou, como se diz, a estabilidade não se mantém estável por muito tempo.

Mas, como nos relacionamentos sadios, o pouco que dura, o tanto de tempo que persiste a estabilidade, é ótimo: é o tal “foi bom enquanto durou”, o suficiente para guardarmos com carinho na memória.

Órteses

É em busca da estabilidade que a ciência médica foi buscar um dispositivo (ou equipamento) que pudesse ajudar as pessoas: as órteses.

“Órtese”, como tantas outras palavras na medicina, é derivada do grego “orthós”, que significa “normal”, “íntegro”, “alinhado” ou “reto” – e lembramos logo de “rtopedia” e “ortodontia”.

Mas as órteses são fundamentais no tratamento de certos problemas na nossa coluna vertebral.

Elas são dispositivos mecânicos externos para estabilizar regiões da coluna vertebral, limitando e auxiliando o movimento, podendo corrigir e alinhar deformidades e prevenir e proteger áreas possíveis de lesões.

Quais usar, como usar e onde usar dependem de uma série de fatores, que o seu médico irá indicar, mas elas são ótimos instrumentos para manter a estabilidade da coluna pelo tempo que precisarmos.

Hipócrates

Hipócrates é tido como o “pai da medicina”. O grego nasceu na ilha de Cós (a menos de dez quilômetros da costa da Turquia), no ano de 460 antes de Cristo, e se especializou em medicina e filosofia, entre outras habilidades.

Foi com ele que a medicina passou a ter uma abordagem mais científica, deixando de lado a mística ou achismos. Ele criou ferramentas para a manipulação da coluna e deu o pontapé inicial para o que viriam a ser, mais de dois milênios a frente, nossas órteses modernas.

Outro médico, Cláudio Galeno, nascido em Pérgamo, a Turquia, em 129 depois de Cristo, foi o primeiro a descrever esses dispositivos para o tratamento da coluna.

Como atuam

Elas não são bonitas e especialmente crianças e adolescentes não curtem muito ter que usá-las. Mas elas conferem a estabilidade desejada para muitas necessidades clínicas.

Segundo Sergio Zylbersztejn e Marco Antonio Yánes, “as órteses de coluna estão desenhadas para proteger a coluna vertebral e outros elementos anatômicos (músculos e ligamentos) de sobrecargas que possa provocar dor e deformidade angular”.

Elas podem ser indicadas para estabilizar a coluna, após uma fratura, por exemplo. Ou para limitar movimentos em casos de dor ou luxação; dar suporte postural; e prevenir deformidades pós-operatória.

Com o uso adequado, com orientação médica, até mesmo os efeitos colaterais de seu uso (como falta de higiene e lesões na pele) podem ser minimizados.

Tipos

Existem muitos tipos de órteses.

Entre elas, as cervicais e cervicotorácicas, a cervicotoracolombossacra, a totacolombossacra, as lombossacrais, e as sacroilíacas.
Abaixo delas, há vários subtipos, que dependem de cada necessidade identificada pelo médico.

“O entendimento biomecânico somado o conhecimento da doença é essencial para uma indicação adequada”, reforçam os médicos Zylbersztejn e Yánes.

Sem medo de ser feliz

Apesar de certa resistência de alguns pacientes em usar, essa estabilidade temporária, indicada pelo médico, pode ser primordial para levar uma vida sem dor, problemas e medo de ser feliz.

Cada caso é um caso, mas para todos eles há um tipo de órtese que pode auxiliar a estabilizar seu problema na coluna.

Lembre-se: nenhuma estabilidade é para sempre, mas o tempo em que ela dura já traz grandes alívios.

Neuromodulação: a eletricidade que ajuda no tratamento de dores e patologias

A eletricidade está presente na natureza de maneira recorrente. Quem nunca se admirou ou se espantou com a beleza e força de um raio?
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Entrevista: Guilherme Melo, bicampeão brasileiro de squash – o alto rendimento e as lesões no esporte

Guilherme Melo é bicampeão brasileiro de squash, com o primeiro título conquistado em 2019. Dado que, por conta da pandemia da Covid-19 ter afetado a organização de campeonatos no ano de 2020, Guilherme só pôde começar a defender seu título em 2021, no que foi bem-sucedido.
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Bloqueio: uma injeção na dor que deveras sentimos

“Toda dor é silenciosa”, diria o poeta, sabendo que a dor de cada um só conhece quem a sente.

Mas ninguém precisa viver com dor. Não a física, pelo menos. As do coração e as da alma fazem parte da vida e da nossa evolução como pessoas.
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Entrevista: Carlos Silva – a educação física trabalhando a favor da coluna

Carlos Silva é um educador físico no sentido puro da palavra – aquela pessoa que orienta e coordena o processo de aprendizagem de outra pessoa. No caso, na relação com o corpo e como melhorá-lo gradualmente diante das atribulações cotidianas.
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Síndrome de Text Neck: sua coluna afetada por um mal dos nossos tempos

Foi em 3 de abril de 1973 que o mundo presenciou a primeira ligação telefônica via aparelho celular da história.
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Entrevista: Laís Murta – como a Nutrição pode prevenir problemas na coluna

Laís Murta é nutricionista, com pós-graduação nas áreas de Fisiologia, Nutrição Clínica, e mestranda em Saúde, pelo IEP-Sírio Libanês, na área de Psiquiatria.
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O corpo: o planeta água de cada um de nós

Água. O milagre da vida. Dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio formam a mais imprescindível substância química capaz de manter nosso planeta habitável e, mais a fundo, criar e manter a vida tão diversa quanto conhecemos.
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Sacro, o osso sagrado

Sacro. Adjetivo relativo ao que é divino, à religião, aos rituais e ao culto; sagrado, santo. Figurativo, aquilo que é digno de respeito, veneração.

Sagrado. Adjetivo relativo ou inerente a Deus, a uma divindade, à religião, ao culto ou aos ritos; relativo ao que recebeu a consagração, que se sagrou (sagrado imperador, por exemplo);

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Osteofitose e o bico do papagaio – uma ave bastante especial

O papagaio é um animal peculiar. E não se diz isso apenar pela sua beleza e por ele conseguir cantar e imitar sons e palavras humanas. Recente pesquisa, de 2018, mostra que a ave tem aspectos cognitivos que chegam a superar os primatas, com exceção do ser humano.

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Scheuermann: de uma pequena cidade da Dinamarca para o mundo, uma doença com tratamento

Hørsholm é uma pequena cidade na costa nordeste da Dinamarca, a 25 quilômetros da capital Copenhague. É nela que fica o Hirschholm, palácio conhecido à época de sua construção, no ano de 1740, como “Versalhes do Norte”, Continue reading “Scheuermann: de uma pequena cidade da Dinamarca para o mundo, uma doença com tratamento”

Cifose: as curvas da nossa coluna

Curvas. Vemos curvas em todos os cantos.

Nas pistas de corrida, os pilotos e os carros de Fórmula 1 são altamente exigidos.

Um chute certeiro na bola, que faz curva pela barreira e morre no canto do gol, para a alegria do cobrador da falta, do seu time e dos torcedores.
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Coluna vertebral: tão moderna quanto os prédios mais modernos do mundo

Amortecedores eletrônicos, amortecedores de molas, materiais especiais e até uma enorme e pesadíssima esfera pendular fazem um prédio moderno aguentar as consequências de um terremoto de até 7 graus na Escala Richter.
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Fale com seu médico: a palavra nos une e nos faz entender

Algumas coisas são essenciais para unir sociedades em sua amplitude. Uma delas é a língua. É o falar que aproxima as pessoas e as aproxima. Se comunicar e ser compreendido é o básico das relações humanas.
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Vitamina D: vem chegando o verão!

“Vem chegando o verão / O calor no coração”: a famosa música de Marina Lima, chamada “Uma Noite e Meia” e lançada em 1987, tem muito a ver com… seus ossos. E seus dentes. E sua saúde física.
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Celebridades e as dores nas costas: você não está sozinho

Você não está sozinho. A dor nas costas que você sente, centenas de milhões de pessoas em todo o mundo também sentem.
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Hérnia de Disco e Protusão Discal: irmãos de causa e tratamento

Quando vemos dois gêmeos, nos maravilhamos com a engenhosidade da natureza em criar duas pessoas visualmente iguais. Mas nem mesmo gêmeos são tão iguais assim.
Continue reading “Hérnia de Disco e Protusão Discal: irmãos de causa e tratamento”

O Papa Francisco e a ciatalgia

Na última virada de ano, de 2020 para 2021, o Papa Francisco não conduziu as missas celebratórias da data “por causa de uma crise ciática que causa dor na perna direita”, disse o Vaticano à época.
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Cirurgia endoscópica: uma viagem fantástica e eficiente dentro do canal vertebral

Um cientista estadunidense, que conhece o segredo para manter soldados miniaturizados por um período indefinido, escapa da antiga Cortina de Ferro com a ajuda da Agência Central de Inteligência (CIA). Mas, durante a fuga, seu comboio é atacado.
Continue reading “Cirurgia endoscópica: uma viagem fantástica e eficiente dentro do canal vertebral”

Entrevista: Anderson Paiva – a psicologia no apoio à dor crônica

Anderson Paiva é psicólogo clínico. Psicoterapeuta de orientação psicanalítica, ele realiza atendimentos em psicoterapia breve para adultos, jovens e adolescentes, intervenções breves em situações emergenciais, orientação de pais e famílias em diferentes demandas, em seu consultório em São Paulo.
Continue reading “Entrevista: Anderson Paiva – a psicologia no apoio à dor crônica”

Escoliose Idiopática: números, avanços, a matemática e a ciência

Números podem ajudar a entender o tamanho de um problema para a sociedade.

Peguemos o caso da escoliose, que é uma das deformidades mais frequentes da coluna vertebral, atingindo 1% da população. Não é pouca coisa. Ao recorrer à matemática simples, podemos entender a magnitude. Continue reading “Escoliose Idiopática: números, avanços, a matemática e a ciência”

RPG: Machado de Assis, a doença e a razão

“Suponho o espírito humano uma vasta concha, o meu fim é ver se posso extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia”. Continue reading “RPG: Machado de Assis, a doença e a razão”

Entrevista: Felipe Nicodemos Semaan – Fisioterapia, RPG e Hidroterapia

Felipe Nicodemos Semaan é fisioterapeuta formado em 2003, pela Universidade Cidade de São Paulo, com pós-graduação em Fisioterapia Ortopédica, também na UNICID. É ex-professor de Biomecânica e proprietário- fundador da clínica Fisiocorpus, desde 2005.
A Fisiocorpus é uma clínica de fisioterapia e hidroterapia que como objetivo assistir aos pacientes utilizando-se dos meios mais efetivos e inovadores.

Lá, o paciente encontra fisioterapia, claro, mas também hidroterapia, hidroterapia em neuropediatria, fisioterapia pélvica, fisioterapia buco maxilo facial, RPG (Reeducação Postural Global), pilates, treinamento do core e condicionamento físico.

Nesta entrevista, Felipe Semaan falou sobre as diferenças das especialidades, clareando ao paciente quais a melhores formas de abordagem com relação às dores de coluna, além de dicas sobre intensidade de atividades físicas.

Se a pessoa tem dores na coluna, qual o critério e como escolher entre fisioterapia, RPG ou hidroterapia? Posso fazer duas ao mesmo tempo?

Na verdade, fisioterapia é a especialidade dentro da área da saúde voltada para a reabilitação de alterações e lesões motoras, que podem ser de fundo ortopédico, neurológico, reumatológico entre outros.

A fisioterapia possui ferramentas de atuação, entre elas a hidroterapia e o RPG. Convencionou-se denominar fisioterapia o tratamento com eletroterapia (o famoso “choquinho”), mas é uma denominação equivocada.

Então, o critério para escolher qual recurso fisioterapêutico será utilizado é basicamente os sintomas e condições físicas do paciente. No caso dos pacientes com dores na coluna, utilizamos a hidroterapia naqueles com quadros agudos mais intensos, com comprometimento discal e irradiação da dor para os membros superiores ou inferiores. Isso porque a água diminui o peso sobre as estruturas da coluna vertebral, possibilitando ao paciente a realização de manobras e exercícios com maior segurança.

Quando identificamos que a queixa dolorosa vem de um possível problema postural, aí o RPG passa a ser uma opção de escolha. É uma técnica específica para melhorar alterações posturais.

E, sim, é possível associar as duas simultaneamente, sempre de acordo com o caso do paciente e também com a recomendação e avaliação médicas.

Para um leigo, quais as diferenças entre os três?

Como disse, fisioterapia é a especialidade da área da saúde voltada a reabilitação de alterações motoras.

Como ferramentas mais utilizadas para o tratamento de dores na coluna, temos as terapias manuais (manipulações articular, liberação miofascial, terapia neural, alongamento entre outros), cinesioterapia (técnicas de alongamento, fortalecimento e treino proprioceptivo) eletrotermoterapia (aparelhos com função analgésica, anti-inflamatória e de relaxamento muscular), técnicas de tratamento postural (RPG, GDS entre outros) e a hidroterapia.

No RPG, o paciente é colocado em posições específicas com o objetivo de alongar as cadeias musculares (sequência de músculos interligados pelas fáscias) e fortalecer os músculos posturais.

Já na hidroterapia são realizadas manobras de tração, alongamento e exercícios de postura e força com a ajuda da água, graças aos efeitos da flutuação e do relaxamento muscular promovido pela água quente.

fisioterapia-fisiocorpus

Após uma cirurgia de coluna, qual dessas o paciente deve optar?

Isso muda de acordo com qual procedimento cirúrgico foi realizado. De maneira geral, logo após a cirurgia, a reabilitação começa com um trabalho em solo, com o objetivo de diminuir as dores pós-cirúrgicas e ganho de amplitude de movimento.

Posteriormente, começa o trabalho de fortalecimento, treino das funções diárias e transição para a prática de atividades físicas.
Porém, esses objetivos também podem ser alcançados na hidroterapia. Caso logo após a cirurgia o paciente apresente dor mais intensa e maior dificuldade de movimentação, a hidroterapia passa a ser a primeira opção de escolha.

Mas essas indicações são sempre discutidas com o médico responsável.

Já O RPG é mais indicado na fase final da reabilitação, pois se trata de uma sessão com alongamentos e posições de fortalecimento mais elaboradas que não são indicados no começo da reabilitação.

Pilates ou ioga são boas opções para dores na coluna?

Apesar de ser muito comum vermos pacientes procurando essas técnicas para o tratamento de dor na coluna ou até mesmo profissionais oferecendo esses benefícios com esses recursos, nenhuma delas foi inventada com esse propósito.

As duas são técnicas de condicionamento físico e melhora da capacidade física e não para o tratamento de dores ou lesões na coluna.
A indicação de yoga ou pilates para um indivíduo com dor na coluna vertebral só pode ser feita após avaliação médica e do fisioterapeuta.

Quando e em qual situação RPG, hidroterapia ou pilates não são recomendáveis?

As contraindicações para esses tratamentos são basicamente quando não se sabe o motivo pelo qual o paciente está sentindo aquele sintoma. Isso só vai ser esclarecido após a consulta médica.

Existem uns sinais chamados de Red Flags que indicam maior gravidade da patologia da coluna vertebral. Entre esses sinais estão perda de força muscular e sensibilidade no membro acometido, perda de reflexos e perda do controle esfincteriano.

Esses sintomas contraindicam a realização de fisioterapia antes da avaliação médica para se identificar quais as causas.

No dia a dia, que tipo de atitude a pessoa tem que ter para não vir a ter dores na coluna?

As queixas de coluna estão na sua maioria relacionados aos maus hábitos de uma vida sedentária. Então, a falta de atividade física (tanto exercícios aeróbicos como também exercícios com carga e alongamentos), má alimentação, levando a sobrepeso, qualidade do sono ruim (é a noite que nossa coluna descansa), posturas viciosas no trabalho e até mesmo estresse físico e emocional aumentam a chance do indivíduo desenvolver dores na coluna.

O excesso de atividade esportiva pode ser prejudicial? Como chegar a essa nota de corte? Nessa mesma linha, os “atletas de final de semana” precisam tomar que tipo de cuidado para não sobrecarregar a coluna?

Todo excesso é prejudicial, tanto o excesso de exercício quanto a falta dele. Todo exercício físico, quando praticado com o objetivo de qualidade de vida, é benéfico para nosso corpo.

Agora, quando praticamos alguma atividade pensando em performance ou em competição, todo exercício pode causar dor ou lesão.

Então, quando se pratica algum esporte pensando em performance já se sabe que o indivíduo está exposto a se lesionar, não só na coluna.
Alguns sinais, como alteração de sono, dor muscular intensa, diminuição das suas capacidades funcionais, podem indicar que está se ultrapassando o limite.

O ideal é associar uma prática esportiva que traga prazer para o praticante, que promova treino aeróbico e associar com outra que tenha um treino com carga, de preferência acompanhado por um profissional e sob os cuidados do médico e do fisioterapeuta.

A alimentação influencia nos problemas de postura?
Não se sabe ainda se alguns alimentos interferem diretamente na coluna ou na postura. Mas sabemos que dietas muito calóricas associadas à pouca atividade física levam a sobrepeso, o que aumenta o risco de dor na coluna.

Estenose do canal vertebral: uma máquina complexa em tempos modernos

Na cena mais famosa de “Tempos Modernos”, filme de 1936, de Charles Chaplin, o personagem do ator tenta acompanhar a eficiência da esteira mecânica da fábrica e parafusar na velocidade em que ela oferece os produtos para serem parafusados. Chaplin é engolido pela máquina e passa a percorrer incrédulo o engenhoso mecanismo por dentro.

Nosso canal vertebral é mais ou menos como essa máquina. Ele pode ser entendido como um longo tubo composto de ossos, ligamentos, parte dos discos intervertebrais, que se estende desde a base do crânio até a bacia e tem por função a proteção da medula espinhal e de suas raízes nervosas emergentes.

Nosso corpo é uma máquina de engenharia sem precedentes, como se vê. Mas ele cansa e nem sempre consegue acompanhar todas as exigências do nosso cotidiano.

A estenose é a redução do calibre ou estreitamento do canal vertebral e pode ocorrer em diversas situações: fraturas, tumores, hematomas, abscessos, deformidades da coluna vertebral, além de doenças degenerativas das articulações, que são as causas mais frequentes.

Desgaste

Na década de 70, Kirkaldy-Willis demonstraram que as articulações da coluna vertebrada sofrem um processo de desgaste a partir da segunda década de vida do indivíduo.

O desgaste avançará ao longo da vida, produzindo alterações nos discos intervertebrais, nas articulações facetárias e nos ligamentos e cápsulas articulares responsáveis pela estabilização da coluna vertebral.

É como se a ciência tivesse dado uma de Chaplin e entrado no canal vertebral, esse longo tubo que nos sustenta, e visse por dentro o que pode causar tanta dor.

Tais alterações degenerativas são conhecidas como artrose ou espondilose.

Elas geram calcificações, hipertrofia óssea das articulações facetárias, abaulamento de disco (a hérnia de disco) e frouxidão articular (espondilolistese), promovendo a diminuição do canal vertebral e consequente compressão de estruturas neurais ali localizadas. Dor.


Imagem mostrando abaulamento do disco vertebral e hipertrofia ligamentar, ambos gerando estreitamento do canal vertebral e consequente compressão de raízes nervosas

Sintomas da estenose de canal vertebral

Clinicamente, os pacientes portadores de estenose de canal vertebral iniciam seus sintomas por volta da quinta ou sexta década de vida.

Eles apresentam dor no segmento vertebral acometido.

Pode ser uma cervicalgia (o nome genérico para qualquer dor na coluna cervical) ou lombalgia (dor na região lombar, na região mais baixa da coluna, perto da bacia).

Pode ser dor em membro(s) superior(es) e/ou inferior(es), com perda de força e de sensibilidade, um quadro conhecido como claudicação neurogênica, no qual a pessoa apresenta dor glútea e dificuldade de caminhar por longos períodos, muitas vezes necessitando sentar-se com o tronco de maneira inclinada para frente, para conseguir algum alívio. Afinal, ninguém quer viver com dor.

Alguns poucos indivíduos se queixarão de alterações no controle da urina, e outros da evacuação (associados ou não, a sensações de choques ao longo da coluna vertebral), mas são casos raros, e quase sempre relacionados a compressões neurológicas graves.

Para diagnosticar e tratar

É claro que o profissional médico não precisa dar uma de Chaplin e entrar no canal vertebral do paciente.

Para o diagnóstico de estenose do canal vertebral é necessária uma história clínica detalhada, associada à realização de exame físico e exames de imagem: radiografias, tomografia e a ressonância nuclear magnética.

Já o tratamento depende das queixas apresentadas pelos pacientes.

Aqueles com sintomas leves poderão se beneficiar com atividades de fortalecimento e alongamento da musculatura estabilizadora da coluna vertebral, além de meios físicos (calor local, eletroestimulação transcutânea, radiofrequência, entre outros), fisioterapia, acupuntura etc.

Entretanto, sintomas mais exuberantes (alterações neurológicas ou do controle dos esfíncteres) necessitarão de abordagem cirúrgica para descompressão do canal vertebral e consequente alívio das estruturas neurais.

Ainda bem que essa máquina tão complexa que é o nosso corpo já tem à disposição o conhecimento, as técnicas e as intervenções médicas dos tempos modernos que vivemos.

Espondilolistese Ístmica: o Panamá e a nossa coluna vertebral

O Canal do Panamá começou a ser construído em 1880, pelos franceses, que logo abandonaram o projeto, pela complexidade e pelo alto índice de óbitos entre os trabalhadores. Os Estados Unidos, então, assumiram a construção em 1904 e dez anos depois, em 15 de agosto de 1914, inauguraram o canal. E o que nos liga à espondilolistese ístmica?

O termo “ístmica” vem de “istmo”, uma estreita porção de terra que separa dois mares. E o melhor exemplo é o Istmo do Panamá, que separa o Oceano Pacífico do Mar do Caribe.

Neste istmo, fracionado pelas mãos engenhosas do homem, diminuindo sobremaneira o tempo e o custo de atravessar de um lado a outro do planeta, o que resultou em um comércio internacional mais barato e mais rápido, há a melhor simbologia para esse distúrbio.

A palavra “espondilolistese” tem origem grega (“spondilos”, vértebra, e “olisthesis”, luxação) e significa escorregamento vertebral.

É um distúrbio que pode ser dividido em seis tipos: displásica, ístmica ou lítica, degenerativa, traumática, patológica e pós-cirúrgica.

O mais comum é a forma ístmica, que acomete a 5° vértebra lombar em 95% dos casos.

Microfraturas

Na sua fisiopatologia, ocorre um defeito na pars interarticularis (parte da vértebra responsável pela estabilização de um segmento entre dois ossos), às custas de uma fratura de estresse ou por trauma agudo ou, ainda, alongamento do ístmico, em razão da remodelação óssea após microfraturas repetidas.

O tempo vai abrindo um “canal” na nossa vértebra, assim como as engenhosas mentes o fizeram no Istmo do Panamá, mais de cem anos atrás. Mas se naquele país da América Central, as “microfraturas” feitas pelo homem foram algo benéfico, na nossa vértebra é um problema.

Detectando a espondilolistese

A doença surge em geral na segunda década de vida e tem relação com o estirão do crescimento – período de ganho acelerado de estatura.

Os pacientes podem se apresentar assintomáticos. Mas podem também se queixar de dor predominantemente lombar.

Nos adultos, além de dor lombar, pode haver dor na perna, em geral, por estiramento ou compressão de raízes nervosas espinhais.

A consulta e o exame físico podem trazer suspeição da patologia.

Entretanto, as imagens radiográficas e tomográficas e de ressonância magnética são fundamentais para um correto diagnóstico.

Tratamento

A maioria dos autores concordam que os adolescentes devam ser tratados clinicamente, reservando as cirurgias para casos graves, sobretudo quando houver presença de alteração neurológica.

Já os adultos podem se beneficiar de tratamento clinico, como analgésicos, fisioterapias e fortalecimento e alongamentos musculares.

Contudo, os casos refratários serão melhor beneficiados com a cirurgia.

O objetivo é a descompressão de estruturas neurais e a fixação vertebral para estabilização da coluna e correção da deformidade.

Com a atenção de um profissional capacitado, com a detecção correta, o tratamento adequado, há a possibilidade de apenas lembrar Lulu Santos, que canta: “Nada do que foi será / De novo do jeito que já foi um dia / Tudo passa, tudo sempre passará / A vida vem em ondas / Como um mar / Num indo e vindo infinito”.

Que os istmos nos sirvam como no Panamá: um indo e vindo infinito de navios a alimentar a humanidade.

Hérnia de disco e ciático: nossos recordes e as atividades diárias

Usain Bolt correu cem metros rasos, em 16 de agosto de 2009, em 9,58 segundos. É ainda hoje o recorde mundial para a distância que é tida como a mais nobre do atletismo. Nesta corrida, o raio jamaicano chegou a atingir algo em torno de 45 quilômetros por hora – ele seria multado no centro de muitas cidades por estar acima do limite de velocidade permitido.

A máquina Usain Bolt se junta a máquinas como Mike Powell, norte-americano que saltou 8,95 metros de distância em 1991; como a soviética Galina Chistyakova, que saltou uma distância de 7,52 metros, em 1988; como o inglês Jonathan Edwards, que em 1995, chegou a 18,29 metros nas duas passadas e pulo no salto triplo; como a ucraniana Inessa Kravets, que na mesma modalidade atingiu 15,50 metros, em 1995; todos recordes mundiais.

Todos esses atletas, de marcas até hoje imbatíveis, treinaram seus músculos, fibras e órgãos para chegar à excelência. Mas só conseguiram basicamente porque o corpo humano é formado por muitas engrenagens perfeitamente ajustadas para se chegar a isso.

Entretanto, não são só os atletas que possuem essa máquina. Qualquer um tem. Basta ser… ser humano. Tanto atletas como as demais pessoas sofrem com a dor e com o desgaste. A idade e o uso excessivo ou incorreto de muitas dessas engrenagens levam a isso, como qualquer ser humano.

A hérnia de disco

As cartilagens são essenciais para absorver impactos e evitar que estruturar ósseas se atritem, levando a mais desgaste, rupturas e dor. E dentre as estruturas que mais precisam estar perfeitas para absorver os impactos não só de atletas de alto rendimento, mas de todas as pessoas, no dia a dia, em esforços cotidianos, inclusive no ato de caminhar, é a coluna.

Para se ter uma ideia, mais da metade da população adulta sofrerá, em algum momento, de dor de coluna. E a hérnia de disco é a causa principal desse mal.

A coluna possui ossos colocados uns sobre os outros, como um edifício. Essas estruturas são as vértebras. Entre cada vértebra, há discos envoltos por um anel fibroso e um núcleo pulposo. Esse disco serve para amortecimento de impactos, caso contrário uma vértebra bateria na outra e aí ninguém conseguiria ficar em pé e andar direito – quanto mais correr 100 metros em menos de 10 segundos, como um raio.

Qualquer alteração na estrutura desse disco intervertebral, causa o problema. E hérnia é o termo médico que, como bem descreve qualquer bom dicionário, é uma massa circunscrita formada por um órgão (ou parte de órgão) que sai por um orifício, natural ou acidental, da cavidade que o contém; ou seja, algo que se desloca do lugar de origem. No caso da coluna, se dá pelo rompimento do anel fibroso, fazendo com que o núcleo saia, vaze, passando a comprimir outras estruturas.

Causas e dores

Nem todo mundo quer saltar quase nove metros de distância e entrar para o panteão dos atletas olímpicos, mas todo mundo quer trabalhar e viver sem dor. Pois a hérnia de disco é a maior responsável pela falta ao trabalho no mundo inteiro.

Sedentarismo, tabagismo, vibração constante decorrente de atividades como dirigir ou operar máquinas, atividades repetitivas, sobrepeso, erros na postura para a realização de trabalhos e serviços cotidianos, a própria idade, tudo pode levar à hérnia.

Ela pode dar uma dor nas costas. Mas pode também se irradiar para as pernas, quando o desgaste se dá na lombar; dar sensação de formigamento e fraqueza muscular; fraqueza na perna; dificuldade de elevar o calcanhar e ficar na ponta dos pés; e constituir dor ao longo do nervo ciático, o maior nervo do corpo humano.

Tratamento moderno

Há diversas formas de tratamento pra hérnia de disco e dor no ciático. Entre elas, a cirurgia de hérnia por videoendoscopia (leia mais aqui!).

A simplicidade técnica, a pequena agressão aos tecidos, uma cicatriz quase inexistente, a alta hospitalar no mesmo dia, a não colocação de próteses na coluna e o rápido retorno às atividades cotidianas são algumas das muitas vantagens dessa novidade da medicina.

Mas antes de se chegar ao tratamento cirúrgico, há o tratamento clínico, com fisioterapias, analgésicos, infiltração de medicamentos na coluna vertebral (bloqueios neurais), além de reeducação postural.

Como se vê, nem sempre será preciso uma cirurgia para hérnia de disco, mas se necessário for, vale a pena conhecer o que há de mais moderno. Porque o ser humano evoluiu e segue evoluindo nas suas necessidades diárias. E a medicina também tem se esforçado para isso.

Não somos todos deuses olímpicos, mas todos precisam matar um leão por dia – ou ultrapassar nossos próprios recordes diários. Se alguma dor te atrapalhar, a medicina estará ali para tentar ajudar.

Osteoporose: o Senhor Vidro e a medicina como super-herói

Elijah Price vive em uma cadeira de rodas ou andando com uma bengala. Ele possui uma deficiência genética chamada osteogênese imperfeita, que afeta como o corpo produz colágeno, a proteína que ajuda a fortalecer os ossos. Em qualquer situação cotidiana, seus ossos quebram. E ele sente dor com isso.

Ele tem “ossos de vidro”; por isso, é chamado de “Senhor Vidro”.

A doença é grave, mas Elijah Price é um personagem fictício. Foi interpretado no cinema pelo grande Samuel L. Jackson, no filme “Corpo Fechado”, de 2000, com direção de M. Night Shyamalan.

E era o vilão. Um vilão que via no personagem de Bruce Willis um super-herói da vida real, para além dos quadrinhos, porque Willis havia sofrido um acidente de trem, onde todos morreram, menos ele. O personagem de Willis nunca ficava doente, muito menos quebrava os ossos. Por conta de sua condição, o “Senhor Vidro” invejava todos aqueles que podiam simplesmente viver com normalidade.

Mas, apesar da raridade da condição do personagem fictício, a vida real nos apresenta uma doença que está bem longe de ser rara – e que tem relação com os ossos.

Osteoporose

Quando falamos de osteoporose, imaginamos aquele idoso com os ossos frágeis e distorcidos ou já acometido por uma ou mais fraturas, mais comumente no fêmur, punho ou coluna vertebral.

Ela é uma condição que deixa os ossos frágeis e porosos. Com o passar do tempo, aumenta-se o risco de fraturas, sobretudo nos punhos, quadris e coluna vertebral, às vezes, gerando hospitalizações e cirurgias. Não é um quadro extremo como o do “Senhor Vidro”, mas é algo que requer bastante atenção e preocupação.

Até porque a osteoporose é silenciosa. Não apresenta sintomas até que o problema já esteja em estado avançado.

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Tipos

A forma mais comum de osteoporose, também chamada de primária, entretanto, pode surgir já na quarta década de vida, acometendo principalmente mulheres.

O que devemos nos atentar é que um terço das osteoporoses são, no entanto, secundárias.

Ou seja, há outros fatores que induzem à perda de massa óssea, e muitos deles têm a ver com o estilo de vida. Por exemplo: etilismo, tabagismo, uso frequente de corticoides, hipotireoidismo, cirurgias bariátricas, tumores, entre outros.

Nesses casos, podemos encontrar indivíduos com osteoporose antes mesmo de quarenta anos de idade.

No caso das mulheres, mudanças hormonais que surgem com a menopausa, interferem diretamente na perda de massa óssea – a osteoporose pós-menopáusica.

Detecção e tratamento

A osteoporose precisa ser encarada com seriedade.

Mesmo que a consulta tenha outra finalidade, na Ibedor, o corpo clínico já inclui rotineiramente exames específicos para detecção precoce dessa doença e seu tratamento adequado.

Para conter a perda de massa óssea, é preciso ajustar a dieta para ingestão adequada de cálcio e vitamina D, inclusive com suplementos, exercícios físicos e medicação.

Tais cuidados e tratamentos não existem para a doença rara do “Senhor Vidro”. Mas para a osteoporose, que é bem comum, a medicina e a atenção cuidadosa funcionam como super-heróis: podem ajudar e dar qualidade de vida.

Escoliose: você sabe se seu filho tem?

Até cerca de seis anos de idade, Lorenzo Odone foi uma criança normal. Mas, a partir daí, sua vida começou a mudar. Começou a ter apagões, lapsos de memória e outros fenômenos mentais estranhos.

Ele foi diagnosticado com adrenoleucodistrofia (ALD), uma doença genética rara, que ataca o cérebro e o sistema nervoso, causando uma deficiência severa e a morte prematura.

Por anos, seus pais, Michaela e Augusto, tentaram algo que fosse satisfatório para seu filho. Chegaram a uma fórmula, patenteada por eles, que combinava ácido erúcico e ácido oleico, no que foi chamado de Óleo de Lorenzo.

Com o óleo, Lorenzo viveu bem mais do que os dois anos preconizados pelos médicos de então. Ele morreu em 2008, de pneumonia, aos 30 anos.

Os estudos mostraram que o óleo desenvolvido pelos seus pais, que não eram médicos, nem cientistas, diminuía bastante as chances de portadores de ALD desenvolverem a doença na infância.

A história de superação, dedicação e amor ao filho é contada no filme “Óleo de Lorenzo”, de 1992, com Susan Sarandon e Nick Nolte.

Casualidade e detecção

Há, entretanto, doenças bem menos raras e com farta literatura e conhecimento médicos capazes de detectar prematuramente, tratar e, em muitos casos, curar.

A escoliose é uma delas. É uma das deformidades mais frequentes da coluna vertebral, atingindo 1% da população. Não é pouca coisa e basta fazer a conta. Somos 8 bilhões de seres humanos. Um por cento são 80 milhões de pessoas. No Brasil, esse 1% daria 2 milhões de pessoas – mas a projeção é que seria 3% dos brasileiros com a doença, o que daria 6 milhões.

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Radiografia de escoliose: coluna em forma de “S” , costelas assimétricas, ombros e tórax desnivelados

As formas mais comuns acometem os adolescentes, sendo mais prevalente em meninas que meninos.

Muitas vezes, os pacientes são diagnosticados em consultas ou exames de imagens com outras finalidades, como, por exemplo, um raio-x para estudo diagnóstico de pneumonia.

O que é escoliose

A escoliose é uma curvatura anormal da coluna vertebral, com a rotação das vértebras.

Ela pode ser de nascença – a mais comum –, neuromuscular, idiopática e degenerativa, já na idade adulta.

Os casos leves não chegam a afetar a vida cotidiana. Mas os mais graves podem causar dor e limitações.


Paciente com escoliose do adolescente. Note a assimetria das pregas da cintura e a sinuosidade da coluna vertebral

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Em flexão, observe a deformidade das costelas conhecida como “giba costa”

Infelizmente, alguns pacientes portadores de escoliose evoluem com curvas de alto grau sendo predispostos à dor crônica vertebral, alterações respiratórias e/ou neurológicas.

Como é comum na medicina, os agravos à saúde, quando cedo diagnosticados, são sempre melhor e mais facilmente tratados, do que em seus estágios mais avançados.

Os pais de crianças com escoliose não precisam lutar para tratar seus filhos, como fizeram os Odone.

A orientação é de uma consulta ortopédica entre 10 e 15 anos, ou antes, se houver dúvidas quanto à postura e alinhamento da coluna vertebral dessas crianças ou adolescentes.

Exercícios de fisioterapia, com RPG (Reeducação Postural Global) são suficientes para tratar curvas de menor grau. Curvas maiores podem indicar a necessidade de uso de coletes e até mesmo a correção cirúrgica.

A luta dos Odone mostra o quanto o amor pelo filho pode mover os pais. Em alguns casos, basta um gesto simples de prevenção e detecção precoce.