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RPG: Machado de Assis, a doença e a razão

“Suponho o espírito humano uma vasta concha, o meu fim é ver se posso extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia”.

Machado de Assis escreveu sobre os estudos psíquicos em “O Alienista”, romance lançado em 1882, onde Simão Bacamarte se debruça sobre os loucos e os sãos (ou “mansos”), numa análise fotográfica da sociedade.

Mas o maior escritor brasileiro obviamente não falava só de sanidade e insanidade. Falava de uma sociedade doente e versava sobre doenças e a razão. Como tratamos e lidamos com a doença e com a razão?

Se trocarmos “espírito humano” por “corpo humano”, o leque se abre para uma leitura mais ampla: extrair a pérola do corpo humano é conhece-lo. E como a ciência bem sabe, conhecer aprofundadamente o objeto de estudo é preservá-lo por mais tempo.

Prevenir é melhor do que remediar, vovó já dizia.

Pérola do conhecimento

No caso da coluna vertebral, essa vasta concha, sua pérola está no conhecimento, na busca pela razão. Não há milagre, não há loucura.
Há conhecimento, prevenção, intervenção, tratamento e reabilitação, tudo dentro da razão. Fora daí, é “insânia, insânia e só insânia”.

“Assim é que cada louco furioso era trancado em uma alcova, na própria casa, e, não curado, mas descurado, até que a morte o vinha defraudar do benefício da vida; os mansos andavam à solta pela rua”, Machado de Assis complementava.

A literatura trata o amor às voltas da loucura, enquanto a medicina trata os enfermos às voltas da razão.

É nesse sentido que, no caso dos estudos em torno da coluna vertebral, se aperfeiçoa os avanços em busca de uma qualidade de vida sustentável e irretocável.

RPG

As intervenções clínicas, cirúrgicas, terapêuticas, reabilitadoras trazem o paciente de volta à vida que pode ser vivida, na plenitude. Ou preveem, como é o caso, por exemplo, de três letrinhas: RPG.

A Reeducação Postural Global (RPG) é uma terapia reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) e só pode ser aplicada por fisioterapeutas que possuem formação na área.

Ela nasceu da obra “O Campo Fechado”, publicado pelo francês Philippe Emmanuel Souchard, em 1981, após 15 anos de pesquisa no domínio da biomecânica.

É um tratamento individual. Nele, o profissional aplica técnicas e exercícios para melhorar a postura do paciente, diminuir a dor e ajudar na recuperação. Trabalha todas as articulações e quase toda a musculatura.

“No RPG, o paciente é colocado em posições específicas com o objetivo de alongar as cadeias musculares (sequência de músculos interligados pelas fáscias) e fortalecer os músculos posturais”, explica o fisioterapeuta Felipe Nicodemos Semaan, ligado ao Ibedor.

Segundo a Sociedade Brasileira de RPG (SBRPG), é “um método terapêutico manual que se aplica a todas as patologias que requerem fisioterapia”: problemas morfológicos, posturais, lesões articulares, dores na coluna, patologias reumáticas, sequelas neurológicas espásticas, problemas traumáticos e até doenças respiratórias.

Muita gente pode precisar. Para se ter uma ideia, mais da metade da população adulta sofrerá, em algum momento, de dor de coluna.

Três princípios

A SBRPG diz que a terapia se baseia na “Individualidade”, já que cada ser humano é único e reage de forma diferente; na “Causalidade”, entendendo que a verdadeira causa do problema pode estar distante do sintoma; e na “Globalidade”, devendo-se tratar o corpo como um todo, buscando identificar as responsabilidades das retrações musculares nas patologias músculo-esqueléticas.

Com tanto conhecimento, a concha do corpo humano pode ser analisada por dentro, em toda sua extensão. A razão nos exige procurar um especialista para tratar as enfermidades. E também para preveni-las.

Se nossa vida é razão e emoção, loucos são aqueles que evitam uma ou outra.

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