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Equilíbrio e instabilidade físicos e mentais: apertando os botões da qualidade de vida

Se a vida fosse como o que vemos no filme “Divertidamente”, talvez fosse mais divertida e até mais simples (embora ele seja mais profundo do que as cores vibrantes do desenho animado sugiram).

Ali aprendemos que a tristeza tem o mesmo peso de importância que a alegria, para que possamos achar nosso equilíbrio emocional. De fato, chegar até nessa estabilidade é uma baita aventura, embora quase nunca divertida. A bem da verdade, estamos quase sempre lutando contra as instabilidades que insistem em nos afetar.

No filme, os personagens apertam botões, puxam alavancas, giram roldanas e mostram nossa cabeça e nosso corpo como um animado mecanismo provido de um ferramental ao dispor das nossas necessidades. Sim, seria fácil.

No mundo real, os processos são mais doloridos e esse ferramental precisa ser cuidadosamente manuseado. Especialmente quando se trata de instabilidade da coluna. Isso porque a instabilidade da coluna vertebral nem sempre pode ser percebida com exames clínicos ou radiológicos. Mais do que isso, nem toda instabilidade vertebral é dolorosa.

Uma instabilidade

Para deixar claro, perder a estabilidade de um segmento funcional da coluna é ter alguma alteração no sistema que inclui vértebras, ligamentos e músculos. Isso faz com que haja uma frouxidão que geram movimentos anormais.

Ora, se a nossa coluna é um “prédio perfeito” (link), qualquer instabilidade pode colocar a estrutura em maus lençóis. Pode, claro, causar desconforto, impossibilitar movimento e gerar dor – e como diriam os personagens de “Divertidamente”, dor ninguém merece.

Há um conceito fácil de entender, descrito pelos doutores Pajambi e White: é a “perda da capacidade da coluna vertebral de manter seu padrão de mobilidade sob cargas fisiológicas”. Ou: a coluna precisa aguentar o corpo e fazer os movimentos que se espera dela.

Um pouco mais a fundo

Podemos fingir que somos um dos bonequinhos coloridos de “Divertidamente” e ir mais a fundo na estrutura do nosso corpo.

Como ensina o doutor MM Panjabi, “o sistema estabilizador da coluna consiste em três subsistemas. As vértebras, discos e ligamentos constituem o subsistema passivo. Todos os músculos e tendões ao redor da coluna vertebral que podem aplicar forças a ela constituem o subsistema ativo. Os nervos e o sistema nervoso central compreendem o subsistema neural, que determina os requisitos para a estabilidade da coluna, monitorando os sinais e direcionando o subsistema ativo para fornecer a estabilidade necessária”.

A disfunção de um componente de qualquer um dos subsistemas pode levar a uma ou mais das três possibilidades a seguir: “uma resposta imediata de outros subsistemas para compensar com sucesso; uma resposta de adaptação de longo prazo de um ou mais subsistemas; e uma lesão em um ou mais componentes de qualquer subsistema”.

Segundo o que nos ensina Panjabi, conceitua-se que a primeira resposta resulta em função normal, a segunda resulta em função normal, mas com um sistema estabilizador da coluna alterado, e a terceira leva à disfunção geral do sistema, produzindo, por exemplo, dor lombar. E dor, lembre-se, ninguém merece.

Muitas causas

São várias as causas da instabilidade. Há as instabilidades adquiridas por trauma, pós-cirúrgica, patológica ou degenerativa; e as de desenvolvimento: displástica de alto grau e de baixo grau.

Segundo a sua patologia de base, as instabilidades vertebrais lombares vêm com fraturas ou luxações, processos infecciosos, neoplasia primária ou secundária, espondioliostese, alguma doença degenerativa e escoliose.

Uma notícia boa, mas nem sempre divertida: a artrodese

Sim, há tratamento. Mas ao contrário da diversão de apertar botões, girar manivelas e afins do desenho animado, alguns casos se fazem necessário literalmente apertar parafusos, preencher espaços com enchimento, uma coisa meio ficção científica, mas que tem funcionado perfeitamente bem com os novos materiais e técnicas desenvolvidos pela inteligência humana.

Ao cabo, o que queremos é devolver qualidade de vida à pessoa, tornando a estabilizar a coluna.

A artrodese é um procedimento realizado para levar à fusão óssea em uma articulação, gerando estabilidade. Nem todo mundo vai precisar de artrodese, mas aqueles que precisarem, dependendo do diagnóstico médico, podem se tranquilizar com a eficiência do procedimento.

Para chegar ao objetivo, o cirurgião utiliza placas, pinos, parafusos, barras, cages (as famosas gaiolas), reforços ósseos e por aí vai. Ninguém vai ver o que o paciente tem por dentro, mas o paciente sentirá uma significativa melhora nas suas atividades cotidianas.

Um ensinamento

Nós sabemos que a medicina evoluiu a ponto de nos dar a alegria de recobrar a qualidade de vida em muitos casos e desafios. Podemos e devemos aproveitar isso.

“Não entre em pânico”, diz um dos personagens do filme. “Não olhe só para o que dá errado! Sempre há um jeito de melhorar”, diz outro. Mas não há nada de errado em chorar as lágrimas da dor e dos problemas. O equilíbrio emocional é tão importante quanto o físico para deixar a vida mais colorida e satisfatória. Bora cuidar de todos eles?

Escrito por

Dr. Douglas Santos

Ortopedista especialista em coluna
CRM: 117988

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