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Entrevista: Laís Murta – como a Nutrição pode prevenir problemas na coluna

Laís Murta é nutricionista, com pós-graduação nas áreas de Fisiologia, Nutrição Clínica, e mestranda em Saúde, pelo IEP-Sírio Libanês, na área de Psiquiatria.

Suas escolhas passam por uma decisão pessoal, como ela mesmo nos conta: “minha escolha pela nutrição precisou passar por outra anterior, talvez muito mais importante, que foi a de viver de maneira saudável. Durante boa parte da minha juventude convivi com transtornos alimentares e, caso eu não tivesse decidido mudar radicalmente, talvez não estivesse aqui contando a minha história”.

“Durante esse doloroso processo de libertação”, ela continua, “aprendi que a reeducação alimentar foi a parte mais importante para minha evolução e cura. Então, quando precisei decidir qual carreira seguir, estava claro a minha dívida com a Nutrição e o propósito de ajudar outras pessoas”.

Além disso, ainda segundo ela, a “certificação em self-coach veio para compreender o componente humano naquilo que motiva e paralisa em busca de metas”.

Aqui, para o Ibedor, ela nos conta um pouco de como a Nutrição pode ajudar a fortalecer mente e corpo.

A coluna é constituída por ossos, discos e ligamentos, protegida por músculos. Dentro, trafega um complexo sistema de nervos e raízes nervosas. Estruturas diferentes, com funções diferentes e constituídas de matéria orgânica e inorgânica distintas. Como a nutrição pode ajudar para prover elementos fundamentais a essas estruturas?

Para tais estruturas constituintes da coluna (ossos, discos, ligamentos e músculos), temos como principais elementos nutricionais fundamentais para os ossos o colágeno, proteínas e minerais, sendo os principais o cálcio, o magnésio e o fósforo.

Para os discos, proteínas (entre elas o colágeno), ácido hialurônico, proteoglicanos, e água.

Para os ligamentos, proteínas (colágeno). E para os músculos, água, proteínas (miosina, actina, tropomiosina e troponina) e ferro (mioglobina).

E para tudo isso “funcionar” de forma adequada, precisamos de vitaminas, minerais e compostos bioativos, que são substâncias reguladoras.

A deficiência ou desequilíbrio destes elementos está associada a processos inflamatórios que podem estar relacionados com desgastes ósseos, osteoporose, doenças autoimunes, entre outros.

Quais as deficiências nutricionais mais comuns do sistema osteoarticular muscular?

São as deficiências de magnésio, vitamina K, vitamina D, Vitamina C e cálcio.

Isso acontece porque os alimentos fontes destes nutrientes geralmente são as frutas, verduras, grãos integrais – alimentos não processados.

Uma dieta “ocidental” rica em alimentos ultraprocessados acaba sendo deficiente destes nutrientes, normalmente.

Sabidamente, a população idosa sofre com a perda de massa muscular. Também se sabe da importância dessa musculatura na proteção das articulações. Há algo a fazer do ponto de vista nutricional para ajudar essa população?

Os idosos geralmente apresentam dificuldades para manutenção de massa muscular por causa da resistência anabólica natural da idade e devido prejuízos nos processos digestivos e absortivos – acloridria, uso de medicamentos que interferem na absorção de nutrientes, anorexia etc.

Para ajudar, é fundamental fazer um ajuste nutricional compatível com a necessidade. Muitas vezes é importante lançar mão de suplementos como proteínas em pó de rápida absorção, como whey protein, proteicas vegetais, creatina, enzimas digestivas, probióticos etc.

A cirurgia bariátrica tomou fôlego nos últimos 20 anos, alicerçada por uma população cada vez mais sedentária e obesa. Mas ela traz algumas limitações e consequências. Pensando no aparelho osteoarticularmuscular, que orientações podem ser dadas pra esse grupo de operados, do ponto de vista nutricional?

Geralmente a cirurgia bariátrica gera consequências absortivas – menor eficiência na digestão de proteínas e absorção de micronutrientes, como vitamina B12, ácido fólico, zinco, ferro, magnésio etc.

Também promove uma profunda mudança na micriobiota intestinal. Por isso, é fundamental uma alimentação adequada às novas necessidades e, muitas vezes, o ajuste nutricional através da suplementação de proteína ou aminoácidos, vitaminas, minerais, enzimas digestivas e prebióticos.

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Quais os maiores vilões na alimentação atual?

Alimentos ultraprocessados, por serem práticos e altamente palatáveis, o que facilita o consumo, além de sua composição muito calórica e pouco nutritiva (calorias vazias), com muitos aditivos alimentares.

Pode-se citar ainda o efeito da mídia e propaganda por trás destes alimentos, que incentivam o consumo.

Além disso, há a monotonia alimentar, que restringe a oferta de nutrientes para o organismo.

É possível, diante das constantes crises econômicas que o Brasil enfrenta desde sempre, ter uma alimentação balanceada e eficiente para as nossas estruturas ósseas?

Sim, com certeza! Buscando alimentos mais naturais e não “produtos”. Optando por comprar em produtores locais e feiras, produtos de época.

Além disso, é possível organizar as refeições semanais fazendo uma lista de compras de acordo com as preparações que serão feitas – isso previne o desperdício e otimiza as compras, nos fazendo economizar tempo e dinheiro.

Se a senhora pudesse dar um conselho aos mais jovens hoje, do ponto de vista da nutrição, pensando no futuro, em quando eles chegarem à chamada “terceira idade”, qual seria?

O cuidado com a alimentação é ponto fundamental para a saúde, em qualquer faixa etária. Porém, quanto antes esse cuidado for tomado, menores as chances de desenvolvimento de doenças que prejudicam a qualidade de vida.

Nós vivemos numa sociedade em que cada vez mais as pessoas têm longevidade, mas de longe isso significa qualidade de vida! Não adianta viver muito, vivendo mal.

A alimentação é um pilar fundamental para que possamos ter saúde física e mental para aproveitar nossa vida em todas as suas fases.

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