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Osteofitose e o bico do papagaio – uma ave bastante especial

O papagaio é um animal peculiar. E não se diz isso apenar pela sua beleza e por ele conseguir cantar e imitar sons e palavras humanas. Recente pesquisa, de 2018, mostra que a ave tem aspectos cognitivos que chegam a superar os primatas, com exceção do ser humano.

“O exemplo talvez mais marcante é o que se chama de ‘object permanence’, ou permanência do objeto, que é a capacidade do animal saber que algo apresentado a ele anteriormente está ainda presente, mesmo que escondido”, disse à época o pesquisador Claudio Mello, do Departamento de Neurociência Comportamental da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, nos Estados Unidos. “É o jogo em que se coloca alguma coisa debaixo de uma caixa, por exemplo, e o animal sabe onde ela está escondida. Papagaios conseguem resolver esse problema, mas outros animais, inclusive macacos, têm mais dificuldade assim que perdem o objeto de vista”.

“Comparando a genomas de outros papagaios e de aves diversas, além do humano, conseguimos identificar genes com diferenças marcantes e que indicam funções importantes na longevidade e nos processos cognitivos, relacionados à aprendizagem vocal da espécie sequenciada”, sublinhou o geneticista Fabrício Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Por longevidade, entenda que o papagaio pode viver o equivalente a algo entre 150 e 200 anos em idade humana.

O papagaio é da ordem dos Psitaciformes e da família Psittacidae. O que temos aqui no Brasil são dois, ambos do gênero Amazona, o aestiva aestiva e o aestiva xanthopteryx.

Em tupi, o papagaio é o ayu’ru (“boca de gente”), ou ajuru, ou ainda louro, lôro, ajeru, jeru ou simplesmente juru – não confundir com jururu, de borocoxô, melancólico, triste, que é tudo o que essa ave não é.

Um dos aspectos mais bonitos da sua aparência, nos olhos de quem não é biólogo como nós, são suas penas coloridas e seus olhos expressivos. Mas há também o pequeno bico, com formato curvo e espesso. Normalmente, as aves possuem um bico mais fino e alongado.

E é esse formato do bico, que fez o papagaio chegar à nossa coluna. Ou quem nunca ouviu falar de “bico de papagaio”?

Osteofitose

A osteofitose é o crescimento anormal de uma saliência óssea, chamada de osteófito, em torno de nossas vértebras.

Esse crescimento anormal ocorre também em outras regiões, como dedos das mãos e joelhos, mas um dos locais mais comuns para o crescimento desse esporão ósseo é mesmo a coluna vertebral.

Se esporões se formarem no interior de uma vértebra, eles podem pressionar a medula espinhal ou suas raízes nervosas. Isso pode causar não apenas dor, mas também dormência nas costas, braços e pernas.

Entretanto, a maioria dos casos não apresenta sintoma algum e o problema só é identificado através de raio-x na pesquisa relacionada a outra condição da coluna.

O médico, claro, saberá perfeitamente identificar – afinal, esses esporões ósseos acabam tendo a aparência muito próxima de um bico de papagaio.

Causa

A causa mais comum é a osteoartrite, tipo de artrite causado pelo desgaste a longo prazo nas articulações.

A formação de esporas ósseas é muito mais comum após os 60 anos de idade. Mas os adultos mais jovens também podem desenvolvê-las, se uma articulação foi danificada por uma lesão esportiva, por um acidente, obesidade, sedentarismo etc.

Em uma articulação com artrite, a cartilagem na extremidade dos ossos se desgasta. É uma cartilagem que evita os ossos de ficaram se batendo. Como parte da tentativa do corpo de reparar a cartilagem danificada, um novo material ósseo surge na forma de esporas ósseas.

No caso da nossa coluna vertebral, esse maravilhoso empilhado de ossos, um disco macio e flexível protege cada vértebra. Como já vimos, qualquer alteração neste disco é um problema.

Mas os discos, mesmo que passem a vida toda nos seus devidos lugares, com o tempo, vão se desgastar e se tornar mais finos, o que fará a coluna ser mais suscetível à formação da osteofitose, ou do bico do papagaio.

Tratamento do bico de papagaio

Se um esporão ósseo causar apenas dor leve e só for perceptível de vez em quando, o médico pode recomendar um analgésico comum.

Uma injeção de esteroide também pode ser útil para reduzir temporariamente o inchaço e a inflamação.

Mas a maioria dos casos vai se concentrar na fisioterapia, que pode ajudar no fortalecimento dos músculos ao redor da articulação afetada. Atividades físicas, boa postura e uma vida saudável contribuem também.

Em último caso, se o esporão ósseo estiver pressionando um nervo ou limitando significativamente sua amplitude de movimento, pode ser necessário tratá-lo cirurgicamente.

Os papagaios

A cultura popular levou esse animalzinho simpático a ser sinônimo de muita coisa, de tagarelas a imitadores. Mas eles, como a ciência explicou, são seres com cognição bastante evoluída e merecem ainda mais nossa reverência.

Se a medicina popularmente acabou homenageando a osteofitose, um problema bastante comum, com o termo “bico de papagaio” talvez seja um mal menor (para a reputação do bichinho), porque é uma condição que normalmente não nos impede de levar uma vida normal.

Pelo contrário: nos permite até cantar. Se melhor ou pior que os papagaios do vídeo abaixo, depende unicamente de você.

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