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Estenose do canal vertebral: uma máquina complexa em tempos modernos

Na cena mais famosa de “Tempos Modernos”, filme de 1936, de Charles Chaplin, o personagem do ator tenta acompanhar a eficiência da esteira mecânica da fábrica e parafusar na velocidade em que ela oferece os produtos para serem parafusados. Chaplin é engolido pela máquina e passa a percorrer incrédulo o engenhoso mecanismo por dentro.

Nosso canal vertebral é mais ou menos como essa máquina. Ele pode ser entendido como um longo tubo composto de ossos, ligamentos, parte dos discos intervertebrais, que se estende desde a base do crânio até a bacia e tem por função a proteção da medula espinhal e de suas raízes nervosas emergentes.

Nosso corpo é uma máquina de engenharia sem precedentes, como se vê. Mas ele cansa e nem sempre consegue acompanhar todas as exigências do nosso cotidiano.

A estenose é a redução do calibre ou estreitamento do canal vertebral e pode ocorrer em diversas situações: fraturas, tumores, hematomas, abscessos, deformidades da coluna vertebral, além de doenças degenerativas das articulações, que são as causas mais frequentes.

Desgaste

Na década de 70, Kirkaldy-Willis demonstraram que as articulações da coluna vertebrada sofrem um processo de desgaste a partir da segunda década de vida do indivíduo.

O desgaste avançará ao longo da vida, produzindo alterações nos discos intervertebrais, nas articulações facetárias e nos ligamentos e cápsulas articulares responsáveis pela estabilização da coluna vertebral.

É como se a ciência tivesse dado uma de Chaplin e entrado no canal vertebral, esse longo tubo que nos sustenta, e visse por dentro o que pode causar tanta dor.

Tais alterações degenerativas são conhecidas como artrose ou espondilose.

Elas geram calcificações, hipertrofia óssea das articulações facetárias, abaulamento de disco (a hérnia de disco) e frouxidão articular (espondilolistese), promovendo a diminuição do canal vertebral e consequente compressão de estruturas neurais ali localizadas. Dor.


Imagem mostrando abaulamento do disco vertebral e hipertrofia ligamentar, ambos gerando estreitamento do canal vertebral e consequente compressão de raízes nervosas

Sintomas da estenose de canal vertebral

Clinicamente, os pacientes portadores de estenose de canal vertebral iniciam seus sintomas por volta da quinta ou sexta década de vida.

Eles apresentam dor no segmento vertebral acometido.

Pode ser uma cervicalgia (o nome genérico para qualquer dor na coluna cervical) ou lombalgia (dor na região lombar, na região mais baixa da coluna, perto da bacia).

Pode ser dor em membro(s) superior(es) e/ou inferior(es), com perda de força e de sensibilidade, um quadro conhecido como claudicação neurogênica, no qual a pessoa apresenta dor glútea e dificuldade de caminhar por longos períodos, muitas vezes necessitando sentar-se com o tronco de maneira inclinada para frente, para conseguir algum alívio. Afinal, ninguém quer viver com dor.

Alguns poucos indivíduos se queixarão de alterações no controle da urina, e outros da evacuação (associados ou não, a sensações de choques ao longo da coluna vertebral), mas são casos raros, e quase sempre relacionados a compressões neurológicas graves.

Para diagnosticar e tratar

É claro que o profissional médico não precisa dar uma de Chaplin e entrar no canal vertebral do paciente.

Para o diagnóstico de estenose do canal vertebral é necessária uma história clínica detalhada, associada à realização de exame físico e exames de imagem: radiografias, tomografia e a ressonância nuclear magnética.

Já o tratamento depende das queixas apresentadas pelos pacientes.

Aqueles com sintomas leves poderão se beneficiar com atividades de fortalecimento e alongamento da musculatura estabilizadora da coluna vertebral, além de meios físicos (calor local, eletroestimulação transcutânea, radiofrequência, entre outros), fisioterapia, acupuntura etc.

Entretanto, sintomas mais exuberantes (alterações neurológicas ou do controle dos esfíncteres) necessitarão de abordagem cirúrgica para descompressão do canal vertebral e consequente alívio das estruturas neurais.

Ainda bem que essa máquina tão complexa que é o nosso corpo já tem à disposição o conhecimento, as técnicas e as intervenções médicas dos tempos modernos que vivemos.

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