ARTIGOS & BLOG

Neuromodulação: a eletricidade que ajuda no tratamento de dores e patologias

A eletricidade está presente na natureza de maneira recorrente. Quem nunca se admirou ou se espantou com a beleza e força de um raio?

Mas é bom saber que a eletricidade está também em nosso corpo. Ele funciona por impulsos elétricos. São pequenas correntes elétricas que que controlam, por exemplo, as contrações musculares – e, veja, vale lembrar que o coração é um músculo.

É um dos motivos pelo qual precisamos de sódio e potássio que, presentes nas células, na forma iônica, produzem diferentes concentrações de eletrólitos positivos e negativos. É a chamada “bomba de sódio e potássio”, responsável principalmente pelo transporte ativo pelas células, transmissão de impulsos nervosos e a citada contração muscular.

A bioeletricidade é fundamental para o funcionamento do corpo humano.

Peixe elétrico

A ideia de termos uma pequena usina de Itaipu dentro da gente, operando a todo instante, já é fascinante por si só, mas há seres vivos mais abundantes na produção de energia.

Nossos impulsos elétricos são imperceptíveis, mas os dos peixes elétricos são incrivelmente altos.

Cerca de 80% da diversidade de peixes elétricos se encontra no Brasil, nas ricas águas da região da Amazônia. Entre eles, estão o bagre elétrico, a enguia elétrica e o… poraquê!

Essa maravilha, chamada cientificamente de Electrophorus electricus e que foi descrita em 1766 (há quase 300 anos!) pelo naturalista sueco Carl Linneaus, ganhou “irmãos” quando o pesquisador brasileiro Carlos David de Santana, em 2019, descobriu duas novas espécies de poraquês.

A mais impressionante é a Electrophorus voltai, capaz de produzir uma descarga de 860 volts, o que é quase quatro vezes mais do que uma lâmpada de 220 volts, dessas que a gente usa em casa.

“Não é suficiente para matar uma pessoa. A tomada produz uma corrente constante. O E. voltai dá uma descarga alternada. Quando ele descarrega da primeira vez, o choque dura 1 ou 2 segundos, e ele precisa de um tempo para recarregar”, disse à BBC o pesquisador brasileiro, que durante as suas pesquisas, claro, tomou alguns choques do peixe.

Na medicina

É claro que a medicina iria se beneficiar dessa nossa proximidade natural com a eletricidade.

Como bem lembra o doutor Simon Thompson, dos hospitais da Universidade de Basildon e Thurrock, na Inglaterra, “a eletricidade, principalmente de peixes elétricos, foi usada por milhares de anos para tratar a dor e outras condições”.

“Depois que se tornou possível armazenar e controlar a eletricidade, em meados do século XVIII”, o doutor segue, “sua popularidade aumentou enormemente, tanto como charlatanismo quanto para aplicações sérias, como anestesia da dor durante operações odontológicas”.

Neuromodulação

Um dos avanços exemplares da eletricidade em tratamentos diversos está na neuromodulação, que se utiliza de estímulos elétricos, magnéticos ou químicos pra reorganizar as estruturas nervosas.

A Sociedade Internacional de Nerumodulação (que o citado doutor Thompson já presidiu) define neuromodulação como “a alteração da atividade nervosa por meio da entrega direcionada de um estímulo, como a estimulação elétrica ou agentes químicos, a locais neurológicos específicos no corpo”.

É, obviamente, mais seguro, técnico e preciso que o uso de peixes elétricos, que é o que os médicos tinham à mão três séculos atrás, quando nem energia elétrica controlada para consumo existia.

A era moderna da neuromodulação começou no início da década de 1960, primeiro com a estimulação cerebral profunda, que foi logo seguida, já em 1967, pela estimulação da medula espinhal, ambas para dores intratáveis, lembra o doutor Thompson.

Facilidade

O progresso no uso da neuromodulação foi estimulado por avanços na própria compreensão científica do sistema nervoso, além de criação, desenvolvimento e divulgação de novas tecnologias e experiências clínicas.

A neuromodulação acaba por permitir tratamentos pouco invasivos para modificar a atividade das células nervosas. No nosso caso, na medula, para restaurar a função, minimizar a dor e tratar os sintomas de alguma doença.

No Ibedor

Na nossa clínica, temos utilizados neuromodulação para pacientes com dores de coluna, ciático, bacia, e articulações, como ombros, quadris, joelhos, tornozelos e punhos.

Também a usamos para alguns tipos de dores de cabeça.

Em geral, o tratamento é feito com anestesia local e, às vezes, sedativos.

Agulhas são inseridas nos nervos selecionados para o tratamento. Não há necessidade de pontos e de órteses (cintas, muletas, andadores etc.).

E após um período de poucas horas de recuperação, o paciente já pode ir para casa. Além disso, na maioria das vezes, os pacientes retornam às suas atividades precocemente, em poucos dias.

A dica é consultar um profissional especializado e assim avaliar a possibilidade de uso dessa tecnologia para uma determinada patologia.

Como acender uma luz

A era dos peixes elétricos ficou séculos para trás, mas eles seguem embelezando a natureza com sua capacidade fascinante. Enquanto isso, as minhas, as suas, as células de todos nós continuam a produzir impulsos elétricos maravilhosamente coordenados entre íons de sódio e potássio.

A natureza nos deu a dica e agora utilizamos essa força espetacular a nosso favor. Foi como acender uma luz, “eureca!”. E a ciência, com sua perseverança e dedicação, encontrou mais um método de tratamento para diminuir dores e problemas. Viva a neuromodulação!

Escrito por
TODOS OS ARTIGOS