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Scheuermann: de uma pequena cidade da Dinamarca para o mundo, uma doença com tratamento

Hørsholm é uma pequena cidade na costa nordeste da Dinamarca, a 25 quilômetros da capital Copenhague. É nela que fica o Hirschholm, palácio conhecido à época de sua construção, no ano de 1740, como “Versalhes do Norte”, em referência ao grande e intensamente visitado correspondente francês, uma das joias turísticas mundiais.

É nessa cidade, hoje com quase 50 mil habitantes, que nasceu a escritora Karen Christentze Blixen-Finecke, ou simplesmente Karen Blixen (1885-1962), que assinou com o pseudônimo de Isak Dinesen o livro de enorme sucesso “Den Afrikanske Farm” (em português, “A Fazenda Africana”), relatando seus dias de plantação de café na fazenda que teve com o primeiro marido, no Quênia.

O sucesso do livro acabou nos cinemas, inspirando o filme ganhador de sete Oscars, incluindo melhor filme do ano, “Out Of Africa” (em português, “Entre Dois Amores”, 1985).

É em Hørsholm que nasceu também Holger Werfel Scheuermann (1877-1960), médico-cirurgião que se tornou especialista em ortopedia e radiologia, em 1918, no Rigshospitalet, o “hospital da Coroa” da Dinamarca.

Foi ele que identificou e nomeia a Síndrome de Scheuermann, condição em que as vértebras crescem de forma desigual, especialmente na infância, quando se olha no plano sagital (ou de perfil). Esse crescimento causa uma cifose exacerbada.

Característica

Tal condição pode levar a uma parte superior das costas arredondada, o que às vezes é chamada de corcunda, em adolescentes saudáveis.

A doença de Scheuermann está entre as fontes mais frequentes de dor nas costas em jovens, sendo a dor mais provável após esforço ou longos períodos de inatividade.

Ela começa antes da puberdade, o que é um problemão para os jovens, que estão começando a se socializar e cuja aparência é, infelizmente, mais uma das ferramentas para isso.

Não se sabe o que desencadeia o crescimento anormal, mas existem teorias de que o osso pode ter sido lesado em algum momento, ou que a área estava fraca antes da puberdade.

Acredita-se que a hereditariedade desempenhe um papel, mas ainda não há certeza.

A condição está ligada ao crescimento do esqueleto e a curvatura geralmente não aumenta depois que o crescimento é concluído.

Entre 1 a 8 por cento das pessoas desenvolvem a doença.

Entendendo o desenvolvimento

Para entender a doença se desenvolve, vale lembrar da estrutura da parte superior da coluna.

Nossa coluna vertebral é um prédio, mas de ossos, com várias estruturas sobrepostas que denominamos de vértebras.

São 33 vértebras, uma em cima da outra, que precisam aguentar o impacto do nosso corpo e cujo conjunto precisa ser flexível o suficiente para as infinitas atividades do corpo humano.

Existem as vértebras cervicais, as torácicas, as lombares, as sacrais e o cóccix.

As vértebras são mais ou menos cilíndricas e empilhadas para manter a coluna em posição vertical.

Na doença de Scheuermann, uma anormalidade faz com que partes das vértebras cresçam em taxas diferentes durante o processo de crescimento da criança.

É essa variação faz com que algumas das vértebras tenham a forma de cunha e cause a anomalia, uma curvatura exagerada da parte superior das costas.

A doença de Scheuermann ocorre com mais frequência na parte superior das costas, na torácica, mas também pode, ocasionalmente, surgir na parte inferior, na lombar – quando está na lombar, a deformidade geralmente não é tão óbvia, mas geralmente causa mais dor, mais limitação de movimento e maior probabilidade de a condição continuar na idade adulta.

Rapidez é essencial

Quanto mais rápido for identificado o problema e mais rápido um médico especialista de coluna vertebral for acionado, melhor. O atraso pode significar que o jovem vai se tornar um adulto com dores significativas nas costas.

Normalmente, a não procura de auxílio médico se dá pela família acreditar que a deformidade se dá por “má postura”. Mas a doença de Scheuermann é uma deformidade esquelética e não postural. Não depende da boa vontade do paciente.

Tratamento da doença de Scheuermann

O tratamento da cifose de Scheuermann depende da idade do paciente, da gravidade da curva e se há algum problema neurológico, o que não é comum.

Primeiramente, o médico observa a gravidade da situação. Se não for muito grave, a maioria dos médicos prescreve um período de observação com exames e radiografias anuais para verificar se há aumento da curvatura.

Resta ao paciente, ainda em crescimento, se envolver em atividades que podem ajudar a fortalecer os músculos de extensão da coluna e manter a curva o mais flexível possível, com alongamentos e atividades cardiovasculares.

Mas se houver progressão da curva e o caso se tornar mais grave, uma órtese, ou cinta de costas, pode ser necessária para ajudar a endireitar a coluna. Isso deverá manter a coluna e aliviar a pressão das vértebras, permitindo que o crescimento da área óssea.

Há também os suspensórios dorsais, usados geralmente de 16 a 24 horas por dia durante um ano. A órtese só é usada em pacientes que ainda estão crescendo e não é eficaz para adultos.

É ruim para adolescentes, pode parecer desconfortável, numa época da vida em que a energia está à toda, mas a órtese é uma solução que o médico pode vir a achar necessária.

Fisioterapia ou cirurgia

Quando usada junto com a órtese, a fisioterapia pode ser útil para implementar ao jovem a força, a flexibilidade e a amplitude adequadas aos movimentos.

Exercícios fisioterápicos podem ajudar também a aumentar a força das costas e melhorar a postura.

Já a cirurgia pode ser necessária se a cifose for superior a 70 graus ou se os bastante incomuns problemas neurológicos se fizerem presentes. Ainda, se a dor for intensa e não puder ser aliviada com tratamentos não cirúrgicos.

O que Scheuermann diria

Talvez a gente até possa imaginar algo do tipo: “Scheuermanns sygdom kan behandles: kontakt din læge”.

Se o seu dinamarquês é tão ruim quanto o meu, vá ao Google Translator e consiga um ótimo conselho que o já falecido doutor Scheuermann diria: “A doença de Scheuermann pode ser tratada: consulte o seu médico”.

Seja na bucólica Hørsholm, terra natal do doutor Scheuermann, seja na grande São Paulo, esse é um ótimo conselho para se seguir.

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