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Órteses: estabilidade que é boa enquanto dura

No dicionário Houaiss, não há um significado da palavra “estável” que não sugira uma certa tranquilidade. Assim descreve:

1. firme, seguro (exemplo: “a máquina não está estável sobre a mesa”)
2. que não varia; inalterável, invariável (exemplos: “humor estável”, “temperatura estável”)
3. que se mantém constante, que perdura; duradouro (exemplos: “paz estável” “nunca teve uma relação amorosa estável”)
4. que obteve estabilidade (no jurídico; exemplo: “funcionário estável”)
5. (na física) em que se restaurou o equilíbrio, após rápida perturbação (diz-se de sistema)

Até mesma na sua forma, a palavra mantém estabilidade: é um adjetivo que não varia com o gênero (“ela é estável”, assim como “ele é estável”).

Nem tudo o que é estável fica muito tempo assim, afinal é da natureza, é do ser humano e da sociedade estarem sempre em movimento, de modo que a paz nunca se mantém por muito tempo assim, estável. Nem a paz, nem relacionamentos, humores, temperaturas, empregados e empregadores, a economia, o sistema, a máquina sobre a mesa, ele ou ela.

Estabilidade é um desejo e quase sempre uma realidade pouco duradoura. Ou, como se diz, a estabilidade não se mantém estável por muito tempo.

Mas, como nos relacionamentos sadios, o pouco que dura, o tanto de tempo que persiste a estabilidade, é ótimo: é o tal “foi bom enquanto durou”, o suficiente para guardarmos com carinho na memória.

Órteses

É em busca da estabilidade que a ciência médica foi buscar um dispositivo (ou equipamento) que pudesse ajudar as pessoas: as órteses.

“Órtese”, como tantas outras palavras na medicina, é derivada do grego “orthós”, que significa “normal”, “íntegro”, “alinhado” ou “reto” – e lembramos logo de “rtopedia” e “ortodontia”.

Mas as órteses são fundamentais no tratamento de certos problemas na nossa coluna vertebral.

Elas são dispositivos mecânicos externos para estabilizar regiões da coluna vertebral, limitando e auxiliando o movimento, podendo corrigir e alinhar deformidades e prevenir e proteger áreas possíveis de lesões.

Quais usar, como usar e onde usar dependem de uma série de fatores, que o seu médico irá indicar, mas elas são ótimos instrumentos para manter a estabilidade da coluna pelo tempo que precisarmos.

Hipócrates

Hipócrates é tido como o “pai da medicina”. O grego nasceu na ilha de Cós (a menos de dez quilômetros da costa da Turquia), no ano de 460 antes de Cristo, e se especializou em medicina e filosofia, entre outras habilidades.

Foi com ele que a medicina passou a ter uma abordagem mais científica, deixando de lado a mística ou achismos. Ele criou ferramentas para a manipulação da coluna e deu o pontapé inicial para o que viriam a ser, mais de dois milênios a frente, nossas órteses modernas.

Outro médico, Cláudio Galeno, nascido em Pérgamo, a Turquia, em 129 depois de Cristo, foi o primeiro a descrever esses dispositivos para o tratamento da coluna.

Como atuam

Elas não são bonitas e especialmente crianças e adolescentes não curtem muito ter que usá-las. Mas elas conferem a estabilidade desejada para muitas necessidades clínicas.

Segundo Sergio Zylbersztejn e Marco Antonio Yánes, “as órteses de coluna estão desenhadas para proteger a coluna vertebral e outros elementos anatômicos (músculos e ligamentos) de sobrecargas que possa provocar dor e deformidade angular”.

Elas podem ser indicadas para estabilizar a coluna, após uma fratura, por exemplo. Ou para limitar movimentos em casos de dor ou luxação; dar suporte postural; e prevenir deformidades pós-operatória.

Com o uso adequado, com orientação médica, até mesmo os efeitos colaterais de seu uso (como falta de higiene e lesões na pele) podem ser minimizados.

Tipos

Existem muitos tipos de órteses.

Entre elas, as cervicais e cervicotorácicas, a cervicotoracolombossacra, a totacolombossacra, as lombossacrais, e as sacroilíacas.
Abaixo delas, há vários subtipos, que dependem de cada necessidade identificada pelo médico.

“O entendimento biomecânico somado o conhecimento da doença é essencial para uma indicação adequada”, reforçam os médicos Zylbersztejn e Yánes.

Sem medo de ser feliz

Apesar de certa resistência de alguns pacientes em usar, essa estabilidade temporária, indicada pelo médico, pode ser primordial para levar uma vida sem dor, problemas e medo de ser feliz.

Cada caso é um caso, mas para todos eles há um tipo de órtese que pode auxiliar a estabilizar seu problema na coluna.

Lembre-se: nenhuma estabilidade é para sempre, mas o tempo em que ela dura já traz grandes alívios.

Escrito por

Dr. Douglas Santos

Ortopedista especialista em coluna
CRM: 117988

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