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Entrevista: Anderson Paiva – a psicologia no apoio à dor crônica

Anderson Paiva é psicólogo clínico. Psicoterapeuta de orientação psicanalítica, ele realiza atendimentos em psicoterapia breve para adultos, jovens e adolescentes, intervenções breves em situações emergenciais, orientação de pais e famílias em diferentes demandas, em seu consultório em São Paulo.

Graduado em Psicologia pela Universidade Paulista e pós-graduado em Psicologia Clínica Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Fundação Faculdade de Medicina da USP, Paiva conversou com a Ibedor sobre um dos problemas recorrentes em pessoas com problemas na coluna: a dor crônica. “Pela visão psicológica, é importante compreender o impacto da dor física na saúde mental do paciente, avaliando a interferência na rotina de atividades de vida diária, que acaba alterando o alcance físico, ocasionando sentimentos distintos e modificando a relação com as pessoas”, ele afirmou.

Paiva dedica seu tempo em cuidar das pessoas da melhor maneira possível “com empatia, respeito, ética, paixão e comprometimento”.

“Meu trabalho com a Psicologia é sempre pensando na saúde emocional, equilíbrio e no bem-estar físico e mental dos pacientes. Por isso, eu acredito que a psicoterapia é uma possibilidade de refazer os caminhos da felicidade, ampliando ainda mais os seus horizontes”, diz.

Dor crônica e depressão acabam ligadas. Como abordar uma situação tão comum? O que é recomendado para quem enfrenta o problema?

Na maioria dos casos, a dor crônica pode ser continua, reincidente, de etimologia incerta, causando comprometimento funcional e limitações físicas. Psicologicamente, a dor pode influenciar e desencadear um quadro depressivo que pode acontecer em episódios pontuais ou ser algo constante e rotineiro na vida do paciente, sendo agravado por tensão, preocupação e apreensão, diante do quadro de dor.

A elevada frequência de dores interfere no bem-estar e qualidade de vida do paciente, no que tange os aspectos físicos que acabam por desembocar nos aspectos emocionais e psicológicos, impactando de forma negativa, sendo a depressão um dos transtornos psicológicos mais comuns na vida do paciente.

Pela visão psicológica, é importante compreender o impacto da dor física na saúde mental do paciente, avaliando a interferência na rotina de atividades de vida diária, que acaba alterando o alcance físico, ocasionando sentimentos distintos e modificando a relação com as pessoas.

Como a dor é um fenômeno multideterminado por fatores biológicos, psicológicos e sociais, é importante que o paciente busque ajuda psicológica para entender os comportamentos, sentimentos e pensamentos decorrentes das mudanças de humor que lhe causam sofrimento.

Em alguns casos, se faz necessário o encaminhamento para avaliação e acompanhamento pela psiquiatria como parte do tratamento; recorrendo, por vezes, ao tratamento medicamentoso.

Além disso, é importante trabalhar em terapia a realidade do paciente, fazendo-o entender o desfiladeiro entre o mundo ideal e o mundo real, trazendo-o para este mundo real, acolhendo suas dores e angustias, mas procurando potencializar aquilo que ainda consegue fazer.

Muitas pessoas vivem anos com dor crônica e ficam privados de certas atividades sociais. Qual a importância da família e dos amigos para o enfrentamento do problema?

A família e os amigos têm um papel fundamental como rede de apoio para que o paciente lide com estresses relacionados a situações de crise, transições de vida, bem como dificuldades pessoais ao ter que lidar com a dor crônica.

Esse suporte psicossocial familiar, tende a contribuir para maior adesão aos tratamentos propostos, estimulando a autodeterminação, tendo em vista a melhora da autoestima no quadro afetivo e desenvolver maior capacidade de enfrentamento das situações de vida, alívio emocional e redução de desesperança.

Além da família, há o ambiente de trabalho – colegas, chefia – e os setores previdenciários no entendimento e acolhimento do paciente com dor crônica. Como eles podem ajudar?

A dor crônica é uma grande causa de licenças, aposentadorias e baixa produtividade, gerando assim, um grave problema de saúde pública. Por isso, é importante no ambiente de trabalho realizar a gestão de pacientes com dor crônica, oferecer espaço para comunicação, informação e fonte de apoio, sem subestimar o sofrimento emocional causado pela dor física.

No caso do paciente que sofre com depressão, a dor pode ser também emocional, de origem psicológica, que pode gerar tristeza e outras sensações negativas.

É importante proporcionar um ambiente acolhedor e considerar a subjetividade e necessidade do paciente de dor crônica, que na maioria das vezes acaba comprometendo o alcance funcional e atividade laboral.

Trabalhar com limitação de funcionário, não quer dizer que eles estarão aptos a fazer tudo, é favorecer espaços que eles possam desempenhar suas tarefas, mediante sua realidade. As empresas precisam entender isso, pensar em remanejamento de setor, pensar gestão de pessoas mesmo.

Os setores previdenciários ao realizar concessão dos benefícios para que o paciente tenha um tratamento adequado, precisa pensar quanto saúde pública em oferecer melhorias na saúde, promovendo maior autonomia e proatividade no convívio social para que estes pacientes tenham melhor qualidade de vida.

Há espaço na psicoterapia para o paciente com dor crônica?

A dor crônica precisa ser tratada com os métodos mais adequados para não se tornar um problema maior. A psicoterapia propõe acolhimento e escuta especializada, ajudando o paciente a lidar com emocional, potencializada pela dor física, trazendo uma nova perspectiva diante do sofrimento.

O processo psicoterápico implica no cuidado com sensibilidade, solidariedade e profissionalismo em entender o contexto e dinâmica familiar que o paciente está inserido e no modo em que vive, auxiliando-o a compreender os momentos ruins e no enfrentamento da dor, para que possa tomar medidas que garantam o bem-estar físico, emocional e mental. Cada individuo é um ser único e a psicoterapia contribui como um espaço reflexivo para que haja adesão do paciente ao tratamento.

Importante ter em mente que ressignificar a dor não é esquecimento da condição, mas procurar viver bem com ela, potencializando as coisas que gosta.

Em casos que se prevê desenvolver-se cronicidade na dor, há espaço pra uma psicoterapia digamos “preventiva”?

A psicologia tem como papel não só o cuidado da saúde mental, mas também a promoção da saúde identificando os recursos de enfrentamento, as defesas psicológicas e proporcionar um espaço de escuta para o paciente diante da possibilidade de desenvolver cronicidade na dor, trazer suas ansiedades, angústias, medos e fantasias.

Isso pode ser um facilitador para identificar os fatores psicológicos, favorecendo fortalecimento de recursos internos e orientações cabíveis, tanto ao paciente quanto aos familiares, de modo que tenham repertorio para lidar com essas especificidades da dor crônica que podem levar ao adoecimento psicológico e cuidar do paciente que está desprotegido, promovendo maior equilíbrio emocional por toda a tensão psíquica e social.

Pessoas com desvios sérios da coluna e visíveis podem enfrentar o preconceito e problemas sociais mais severos – especialmente crianças e adolescentes, no chamado bullying. Até a possível cura, o que pode contribuir para a pessoa enfrentar o problema no dia a dia e que a ela não carregue traumas para a vida adulta?

O bullying apresenta diferentes implicações na autoestima de crianças e adolescentes em diversas situações. Por ser um comportamento agressivo e muitas vezes persistente, tem caráter degradante e ofensivo, como uma forma de abuso, que pode ser tanto físico como psicológico. Pessoas com desvios sérios de coluna e visíveis, podem sofrer com o bullying, levando exclusão social ou isolamento, desenvolvendo comportamento social inibido, medo e vergonha. A baixa autoestima faz com que crianças e adolescentes se sintam inseguras, e é um incentivo para a depressão e raiva, comprometendo a saúde mental na vida adulta.

Para enfrentar o problema é importante que os pais ou responsáveis conversem abertamente com o filho sobre a condição de saúde, orientando e estabelecendo limites para buscar eliminar o bullying, por meio da conscientização. Proporcionar um ambiente com respeito e harmonia para que crianças e adolescentes possam se desenvolver no âmbito familiar, escolar e social tem que ser um trabalho desenvolvido com a escola, evidenciando junto à coordenação pedagógica para que providencias sejam tomadas, conscientizações sejam feitas.

Mas também é bom falar que mesmo assim não temos e nem nunca teremos controle das ações dos outros, mas temos sobre as nossas, então o ambiente familiar tem que realmente estar comprometido, unido, procurando sempre fortalecimento de recursos internos com o filho e entre família, trabalhando mesmo essas questões em casa, sempre abertos ao dialogo e para ouvir seus filhos.

Oriente seu filho que ele é importante, fazendo com que ele entenda que as diferenças são só diferenças, não tem, portanto, valoração. Caso necessário busque auxilio psicológico para ajudar seu filho a lidar com essa situação difícil.

Cada paciente é um caso, mas é possível imaginar um “conselho” para dar para pessoas que enfrentam a dor crônica para que não entrem em depressão?

Não é possível fazer que alguém não entre em depressão. Ainda que o processo de terapia pensando a prevenção possa auxiliar, todos nós estamos sujeitos a isso. É importante lembrar que o paciente não está sozinho, buscar a cura clinicamente falando, é manter-se engajado e motivado ativamente no esforço, que é multidisciplinar (fisioterapeuta, médico, psicólogo) ou seja, repleto de cuidados que visa curá-lo ou ao menos aliviá-lo em sua dor.

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