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Espondilolistese Ístmica: o Panamá e a nossa coluna vertebral

O Canal do Panamá começou a ser construído em 1880, pelos franceses, que logo abandonaram o projeto, pela complexidade e pelo alto índice de óbitos entre os trabalhadores. Os Estados Unidos, então, assumiram a construção em 1904 e dez anos depois, em 15 de agosto de 1914, inauguraram o canal. E o que nos liga à espondilolistese ístmica?

O termo “ístmica” vem de “istmo”, uma estreita porção de terra que separa dois mares. E o melhor exemplo é o Istmo do Panamá, que separa o Oceano Pacífico do Mar do Caribe.

Neste istmo, fracionado pelas mãos engenhosas do homem, diminuindo sobremaneira o tempo e o custo de atravessar de um lado a outro do planeta, o que resultou em um comércio internacional mais barato e mais rápido, há a melhor simbologia para esse distúrbio.

A palavra “espondilolistese” tem origem grega (“spondilos”, vértebra, e “olisthesis”, luxação) e significa escorregamento vertebral.

É um distúrbio que pode ser dividido em seis tipos: displásica, ístmica ou lítica, degenerativa, traumática, patológica e pós-cirúrgica.

O mais comum é a forma ístmica, que acomete a 5° vértebra lombar em 95% dos casos.

Microfraturas

Na sua fisiopatologia, ocorre um defeito na pars interarticularis (parte da vértebra responsável pela estabilização de um segmento entre dois ossos), às custas de uma fratura de estresse ou por trauma agudo ou, ainda, alongamento do ístmico, em razão da remodelação óssea após microfraturas repetidas.

O tempo vai abrindo um “canal” na nossa vértebra, assim como as engenhosas mentes o fizeram no Istmo do Panamá, mais de cem anos atrás. Mas se naquele país da América Central, as “microfraturas” feitas pelo homem foram algo benéfico, na nossa vértebra é um problema.

Detectando a espondilolistese

A doença surge em geral na segunda década de vida e tem relação com o estirão do crescimento – período de ganho acelerado de estatura.

Os pacientes podem se apresentar assintomáticos. Mas podem também se queixar de dor predominantemente lombar.

Nos adultos, além de dor lombar, pode haver dor na perna, em geral, por estiramento ou compressão de raízes nervosas espinhais.

A consulta e o exame físico podem trazer suspeição da patologia.

Entretanto, as imagens radiográficas e tomográficas e de ressonância magnética são fundamentais para um correto diagnóstico.

Tratamento

A maioria dos autores concordam que os adolescentes devam ser tratados clinicamente, reservando as cirurgias para casos graves, sobretudo quando houver presença de alteração neurológica.

Já os adultos podem se beneficiar de tratamento clinico, como analgésicos, fisioterapias e fortalecimento e alongamentos musculares.

Contudo, os casos refratários serão melhor beneficiados com a cirurgia.

O objetivo é a descompressão de estruturas neurais e a fixação vertebral para estabilização da coluna e correção da deformidade.

Com a atenção de um profissional capacitado, com a detecção correta, o tratamento adequado, há a possibilidade de apenas lembrar Lulu Santos, que canta: “Nada do que foi será / De novo do jeito que já foi um dia / Tudo passa, tudo sempre passará / A vida vem em ondas / Como um mar / Num indo e vindo infinito”.

Que os istmos nos sirvam como no Panamá: um indo e vindo infinito de navios a alimentar a humanidade.

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