Camas, colchões, dores nas costas e a paz mundial

“Fomos de Paris para o Amsterdam Hilton / Conversando em nossas camas por uma semana / O pessoal da imprensa perguntou: O que vocês fazem na cama? / Eu disse: Nós só queremos ter um pouco de paz”.

A insuperável música dos Beatles “The Ballad Of John And Yoko” fala sobre uma passagem estranha e inesquecível na vida de John Lennon e sua (naquele momento) recente esposa Yoko Ono, em 1969: uma semana numa cama de hotel em Amsterdã, Holanda, lutando pela paz.

Eles se conheceram em 1966, quando Lennon ainda era casado com Cynthia Powell (mãe do também músico Julian Lennon). John e Yoko ficaram juntos mesmo assim e, por problemas burocráticos e com o crescente ódio dos fãs, se casaram em Gibraltar, território espanhol: “Finalmente pegamos o avião para Paris / Lua-de-mel junto ao Sena / Peter Brown ligou para dizer: Vocês podem dar um jeito / Vocês podem se casar em Gibraltar, perto da Espanha”, diz a música. Era 20 de março de 1969.

O casal decidiu passar a lua-de-mel no Hotel Hilton, em Amsterdã, mais especificamente na cama do quarto 702, onde iniciaram um protesto pacífico contra a Guerra do Vietnã. A imprensa teve livre acesso ao quarto, para fotografar o casal mais famoso do mundo, no episódio que ficou conhecido mundialmente como “Bed-in”.

Esse é um dos episódios mais conhecidos da música, e um dos protestos mais inusitados da história. Como assim ficar uma semana na cama?
A Guerra do Vietnã não terminou por isso, mas o recado foi dado, a controvérsia foi feita e até mesmo uma música, a deliciosa já citada “The Ballad Of John And Yoko”.

Que eu saiba, muita coisa foi perguntada ao casal, mas eu teria feito uma única pergunta, igualmente inusitada: “uma semana na cama… as costas de vocês não estão doendo?”.

Relação colchão e dor nas costas

John Lennon e Yoko Ono não ficaram uma semana deitados, como mostram as fotos e as imagens captadas naquele momento. Na maioria das vezes estavam sentados, mas dor nas costas e colchão não formam uma relação incomum.

Essa é uma dúvida que geralmente as pessoas têm: a relação entre dor nas costas e colchão. Muitas vezes, os pacientes se queixam de dores nas costas ao acordar, que vão aliviando durante o dia, mas retornam na manhã seguinte ao acordar.

Alguns estudos foram feitos nessa área, mas os artigos na literatura são insuficientes. Portanto, o que posso indicar é que, talvez, valha a pena buscar um colchão nem tão macio e nem tão firme, que sustente o peso do seu corpo de maneira adequada.

Independentemente de marca, o seu colchão vai desgastar e deformar conforme o tempo. E quando isso acontecer, será o momento de substituí-lo!

Outros fatores

Outros fatores que podem ter relação com a dor nas costas matinal são a má qualidade do sono (movimentos noturnos e má posição ao adormecer), sedentarismo e alimentação rica em carboidratos ultraprocessados, que pode gerar reações inflamatórias nas articulações, tendões e músculos, podendo ser percebidas como dores no início dos movimentos.

Vale lembrar que há neurologistas e/ou otorrinolaringologistas especializados em sono; portanto, se preciso for, busque um especialista no assunto!

Não é fácil

Ninguém gosta de viver com dor. Isso é fato – tanto quanto a maioria das pessoas é contra a guerra e a favor da paz.

Como cantou John Lennon e seus Beatles, “Caramba, você sabe que não é fácil / Você sabe como pode ser difícil / Do jeito que as coisas estão indo / Vão é me crucificar”. Lutar pela paz nunca é fácil. Mas lutar pelo pão de cada dia também não é. Por isso, é preciso dormir um sono reconfortante e restaurador das energias. Sem isso, nossa produção pode ser afetada e certamente a saúde será abalada.

O colchão e os travesseiros (o sono!) são ferramentas importantíssimas na nossa vida. Procure um ideal para você. Suas costas agradecem.

Mas se mesmo assim as costas continuarem a doer, procure um especialista para te orientar sobre o que fazer e vamos declarar uma duradoura e merecida paz com as nossas costas.

Um novo olhar para a dor

Dor. Quem nunca sentiu dor? Dores físicas, dores do coração, dores da alma, dores morais. Arrependimentos. Coração partido, um amor que se foi e não queríamos perder. A dor da perda de alguém querido. A dor de ver seu time sucumbir numa final diante do maior rival. A dor de perder um emprego e de repente se encontrar desamparado. A dor de ver seu semelhante não ter o que comer. A dor de ver alguém da sua vida se perder para as drogas.

A lista pode se desenrolar quase que infinitamente e para todas elas, talvez, haja algum tipo de cura, seja espiritual, seja psicológica, seja pelo esporte, seja pelo autoconhecimento, seja com a medicina.

A dor faz parte da nossa vida. E nós médicos convivemos com ela, especialmente por conta de nossos pacientes. O médico é talhado para estudar a doença, buscar uma solução que elimine aquela enfermidade do corpo do paciente, mas muitas vezes esquece de tratar do paciente, que afinal é uma pessoa que sente dor.

A dor no foco

Recentemente, o “Tratado de Dor Musculoesquelética”, publicado em 2019, pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), mostrou o quanto é importante essa diferenciação.

O presidente da SBOT, doutor Moisés Cohen, médico há 40 anos e professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), escreveu: “historicamente a dor sempre foi vista pelos médicos muito mais como um sinal de alerta do que como uma síndrome a ser tratada. Nas últimas décadas, porém, com o surgimento de diversas linhas de pesquisas a dor passou a ser considerada não mais como um sintoma natural de determinadas doenças ou decorrente de quadros pós-cirúrgicos, mas como uma entidade de tratamento específico visando a qualidade de vida do paciente. Na ortopedia e traumatologia, muito embora nos deparemos diariamente com quadros de dor – sobretudo dor crônica – raramente nos preocupávamos em tratá-la, preferindo encaminhar nossos pacientes para outros especialistas. A falta de formação específica e, talvez, de informações sobre este importante campo da pesquisa científica deixou-nos à margem de uma área de atuação das mais importantes”.

A realidade, como ele bem lembrou na introdução do “Tratado…”, passa a incluir questões relacionadas à dor no exame para obtenção do TEOT (Título de Especialista em Ortopedia e Traumatologia).

“Ao assimilar o conceito de tratamento holístico do paciente – que necessariamente inclui o tratamento da dor musculoesquelética – a Ortopedia poderá desenvolver-se ainda mais como especialidade médica, formar melhor seus especialistas e ampliar naturalmente sua área de atuação”, ele escreveu.

Comitê da dor

Foi assim que nasceu o Comitê de Dor da SBOT que já possui muitos colegas imbuídos em colocar a dor no foco importante de atenção: “epidemiologia e fisiopatologia da dor, classificações das síndromes mais comuns, analgesia pós-operatória, fármacos de última geração, medicina regenerativa e tratamento intervencionista, exames complementares e estimulações elétricas, entre outras abordagens terapêuticas fundamentais”, lembra o doutor Cohen.

O Comitê tem a presidência do doutor Ricardo Kobayashi, ortopedista, clínico de dor, especialista em tratamento por ondas de choque.
Como ele mesmo lembra em seu site, “as dores atrapalham o humor, sono, trabalho, lazer e a qualidade de vida das pessoas”. E ele tem toda a razão. Tratar a dor é devolver qualidade de vida.

Mas o que é a dor?

Vou recorrer mais uma vez ao “Tratado”: “a dor é uma experiência presente na vida da maior parte dos seres humanos, pois constitui um mecanismo fisiológico de proteção que possibilita a detecção de estímulos físicos e químicos nocivos”.

Ou seja, a dor nos permite saber que há algo errado.

Já escrevi uma vez, ao falar sobre Bloqueios, que o poeta diria que “toda dor é silenciosa”, sabendo que a dor de cada um só conhece quem a sente. Mas ninguém precisa viver com dor. Não a física, pelo menos. As do coração e as da alma fazem parte da vida e da nossa evolução como pessoas.

Fernando Pessoa até escreveu que “o poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, na dor lida sentem bem, não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm”.

Vamos tratar

Ninguém quer sentir nenhuma dor, mas a física é algo que nos causa temor. É por isso que o posicionamento da SBOT é tão importante.
Se há uma dor, há um problema. Aqui no Ibedor não podemos tratar todas as dores do mundo – e há, por certo, tantas dores quanto belezas por aí. Mas aquelas que estão ao nosso alcance, vamos tratar.

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