A dor que derrubou um campeão

Talvez os mais jovens não lembrem o quão grandioso foi Mike Tyson no esporte. Ele nasceu em 1966 (em 2022, tem apenas 56 anos!) e na década de 1980 dominou o boxe, se tornando um dos mais demolidores pugilistas já vistos. Não cabe entrar no mérito se foi o melhor de todos os tempos – cada um tem sua escolha – mas muita gente chegou a afirmar isso.

Foi uma carreira rápida e marcante. Foram apenas 58 lutas, com 50 vitórias, sendo 44 por nocaute.

A vida fora dos ringues também não foi fácil e esteve longe de ser um exemplo. Quando jovem, foi parar no reformatório, onde aprendeu a profissão. Quando adulto, foi preso por violação a uma mulher. Ganhou milhões (estima-se que perto de US$ 300 milhões durante toda a carreira), mas nunca soube administrar com precisão a fortuna e a imprensa constantemente noticiava sua falência. Em 2009, sua filha Exodus, de apenas 4 anos, faleceu em um acidente doméstico. O enterro teve que ser feito com doações, pois Tyson estava falido.

Nada disso tirou de Tyson o status de “imbatível”. Até que uma foto, em 2022, com o pugilista em uma cadeira de rodas, acendeu a dúvida: o que derrubou Mike Tyson?

Um balé violento

O pugilismo é tido como um esporte violento. Um oponente desfere socos no adversário e quem nocautear o outro ou conseguir encaixar mais golpes ganha. A imprensa esportiva trata o esporte como “balé”, numa tentativa poética de tentar amenizar a brutalidade das cenas que a plateia, muitas vezes aos berros de êxtase, assiste. No caso dos pesos-pesados, categoria na qual Mike Tyson se encaixa, os golpes são ainda mais potentes.

Apesar de tudo isso, o boxe também é um esporte maravilhoso, amplamente recomendável, um ótimo exercício físico, especialmente quando praticado com lucidez e acompanhamento apropriado, em academias especializadas. Sim, o boxe pode ter impacto zero na saúde do oponente! A modalidade olímpica é, de fato, muito próxima de um belo balé em cima do ringue. Algo plástico e bonito de se ver.

Mas na versão comercial, a de alto rendimento, é certo que a violência impõe consequências. Não são poucos os pugilistas da categoria máxima do esporte que enfrentam problemas motores após a aposentadoria.

José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, tido como o mais importante peso-pesado brasileiro, tem 64 anos e enfrenta a encefalia traumática crônica, uma doença degenerativa do cérebro ligada a repetidos golpes na cabeça, também conhecida como “demência pugilística” (mas que atinge atletas do futebol americano e até mesmo do nosso futebol).

Mike Tyson escapou até disso, felizmente.

Ciático, o adversário

O adversário que derrubou Tyson e o levou à cadeira de rodas estava dentro dele: o nervo ciático.

Ele disse a uma rede de TV, recentemente: “tenho dor ciática e de vez em quando e ela piora. Quando isso acontece, eu não consigo nem falar”.

É a única condição de saúde que a potência de quase sessenta anos sofre no momento: “Graças a Deus é o único problema de saúde que tenho. Estou esplêndido agora”, o que é uma boa notícia para todos que amam esportes em geral.

Apesar de tudo o que foi dito aqui, não é possível fazer correlação entre a profissão de Tyson e a dor que ele sente agora.

A dor ciática refere-se àquela que percorre o trajeto do nervo ciático, o mais longo do corpo humano, que sai da parte inferior das costas, através dos quadris e nádegas, e desce por cada perna. A ciática ocorre mais frequentemente quando uma hérnia de disco ou um crescimento excessivo de osso pressiona parte do nervo. Isso causa inflamação, dor e muitas vezes alguma dormência na perna afetada (leia mais aqui).

Por definição, os pacientes mencionam irradiação de dor na perna, como uma ferroada ou pequenos choques. Eles podem relatar a distribuição da dor, se ela irradia abaixo do joelho. Pacientes com ciática também podem ter dor lombar, mas geralmente é menos intensa do que a dor nas pernas.

Muitos sinônimos de ciática aparecem na literatura, como síndrome radicular lombossacral, ísquia, dor na raiz nervosa e compressão da raiz nervosa.

Embora a dor associada à ciática possa ser grave, a maioria dos casos desaparece com o tratamento em algumas semanas. As pessoas que têm ciática grave e fraqueza grave nas pernas ou alterações intestinais ou da bexiga podem precisar de cirurgia.

O acerto de Tyson

O próprio pugilista já admitiu em mais de uma entrevista que cometeu muito erros na vida. Mas um dos seus acertos foi procurar um médico assim que a dor ciática surgiu. Consultar um especialista é essencial para o tratamento correto e para amenizar os processos de dor. Não espere ser nocauteado por algo que a literatura médica já conhece com bastante profundidade. Essa luta pode ser vencida.

Hérnia de disco e ciático: nossos recordes e as atividades diárias

Usain Bolt correu cem metros rasos, em 16 de agosto de 2009, em 9,58 segundos. É ainda hoje o recorde mundial para a distância que é tida como a mais nobre do atletismo. Nesta corrida, o raio jamaicano chegou a atingir algo em torno de 45 quilômetros por hora – ele seria multado no centro de muitas cidades por estar acima do limite de velocidade permitido.

A máquina Usain Bolt se junta a máquinas como Mike Powell, norte-americano que saltou 8,95 metros de distância em 1991; como a soviética Galina Chistyakova, que saltou uma distância de 7,52 metros, em 1988; como o inglês Jonathan Edwards, que em 1995, chegou a 18,29 metros nas duas passadas e pulo no salto triplo; como a ucraniana Inessa Kravets, que na mesma modalidade atingiu 15,50 metros, em 1995; todos recordes mundiais.

Todos esses atletas, de marcas até hoje imbatíveis, treinaram seus músculos, fibras e órgãos para chegar à excelência. Mas só conseguiram basicamente porque o corpo humano é formado por muitas engrenagens perfeitamente ajustadas para se chegar a isso.

Entretanto, não são só os atletas que possuem essa máquina. Qualquer um tem. Basta ser… ser humano. Tanto atletas como as demais pessoas sofrem com a dor e com o desgaste. A idade e o uso excessivo ou incorreto de muitas dessas engrenagens levam a isso, como qualquer ser humano.

A hérnia de disco

As cartilagens são essenciais para absorver impactos e evitar que estruturar ósseas se atritem, levando a mais desgaste, rupturas e dor. E dentre as estruturas que mais precisam estar perfeitas para absorver os impactos não só de atletas de alto rendimento, mas de todas as pessoas, no dia a dia, em esforços cotidianos, inclusive no ato de caminhar, é a coluna.

Para se ter uma ideia, mais da metade da população adulta sofrerá, em algum momento, de dor de coluna. E a hérnia de disco é a causa principal desse mal.

A coluna possui ossos colocados uns sobre os outros, como um edifício. Essas estruturas são as vértebras. Entre cada vértebra, há discos envoltos por um anel fibroso e um núcleo pulposo. Esse disco serve para amortecimento de impactos, caso contrário uma vértebra bateria na outra e aí ninguém conseguiria ficar em pé e andar direito – quanto mais correr 100 metros em menos de 10 segundos, como um raio.

Qualquer alteração na estrutura desse disco intervertebral, causa o problema. E hérnia é o termo médico que, como bem descreve qualquer bom dicionário, é uma massa circunscrita formada por um órgão (ou parte de órgão) que sai por um orifício, natural ou acidental, da cavidade que o contém; ou seja, algo que se desloca do lugar de origem. No caso da coluna, se dá pelo rompimento do anel fibroso, fazendo com que o núcleo saia, vaze, passando a comprimir outras estruturas.

Causas e dores

Nem todo mundo quer saltar quase nove metros de distância e entrar para o panteão dos atletas olímpicos, mas todo mundo quer trabalhar e viver sem dor. Pois a hérnia de disco é a maior responsável pela falta ao trabalho no mundo inteiro.

Sedentarismo, tabagismo, vibração constante decorrente de atividades como dirigir ou operar máquinas, atividades repetitivas, sobrepeso, erros na postura para a realização de trabalhos e serviços cotidianos, a própria idade, tudo pode levar à hérnia.

Ela pode dar uma dor nas costas. Mas pode também se irradiar para as pernas, quando o desgaste se dá na lombar; dar sensação de formigamento e fraqueza muscular; fraqueza na perna; dificuldade de elevar o calcanhar e ficar na ponta dos pés; e constituir dor ao longo do nervo ciático, o maior nervo do corpo humano.

Tratamento moderno

Há diversas formas de tratamento pra hérnia de disco e dor no ciático. Entre elas, a cirurgia de hérnia por videoendoscopia (leia mais aqui!).

A simplicidade técnica, a pequena agressão aos tecidos, uma cicatriz quase inexistente, a alta hospitalar no mesmo dia, a não colocação de próteses na coluna e o rápido retorno às atividades cotidianas são algumas das muitas vantagens dessa novidade da medicina.

Mas antes de se chegar ao tratamento cirúrgico, há o tratamento clínico, com fisioterapias, analgésicos, infiltração de medicamentos na coluna vertebral (bloqueios neurais), além de reeducação postural.

Como se vê, nem sempre será preciso uma cirurgia para hérnia de disco, mas se necessário for, vale a pena conhecer o que há de mais moderno. Porque o ser humano evoluiu e segue evoluindo nas suas necessidades diárias. E a medicina também tem se esforçado para isso.

Não somos todos deuses olímpicos, mas todos precisam matar um leão por dia – ou ultrapassar nossos próprios recordes diários. Se alguma dor te atrapalhar, a medicina estará ali para tentar ajudar.