Câimbras: dos atletas de alto rendimento à hérnia de disco

De repente e não mais do que de repente, a dor. Uma intensa dor. Os músculos se contraem, há espasmos, normalmente nos membros inferiores e o mundo parece que gira e tudo mais vai se acabar. São as câimbras.

Elas estão usualmente relacionadas à pratica intensa de esportes, mas também podem estar associadas a algumas doenças sistêmicas, que causam aquelas dores noturnas nas pernas.

Câimbras todo mundo já teve ou pode vir a ter. Um susto repentino. Não tem idade, não tem gênero, não tem raça, nem religião. Basta ter músculos.

E é uma cena bastante comum: quem nunca viu um jogador de futebol se contorcendo no gramado, após um pique atrás da bola ou do adversário? Ele desaba e logo um companheiro de trabalho o socorre, levantando sua perna e esticando o músculo afetado ao puxar a ponta do pé para cima. A recuperação é rápida, mas a dor é memorável.

Causas das câimbras

O uso exagerado da musculatura é uma das causas. O atleta sua muito e se não repor a água e afins, a desidratação pode levar o músculo a ficar sujeito a espasmos. O mesmo vale para a reposição de sais minerais, com a falta de potássio, de cálcio ou de magnésio.

Mas não só atletas, trabalhadores com esforços repetitivos também podem sofrer com o problema. Hipertensos que tomam diariamente diuréticos podem ter que controlar melhor a alimentação nesse sentido, senão, haja dor. Diabéticos, anêmicos, pessoas com insuficiência renal ou desequilíbrio hormonal, além grávidas, pessoas com problemas na tireoide… todos estão sujeitos.

Baixas temperaturas igualmente podem levar a câimbras, já que a musculatura se contrai e as fibras musculares podem apresentar espasmos.

E particularmente… hérnia de disco (leia mais aqui)!

A compressão do ciático pode levar a um susto noturno: a câimbra em uma das pernas. É preciso estar atento a esse sintoma, consultar um médico especializado em coluna para ver se o problema não pode ser exatamente uma hérnia de disco.

Especialmente naqueles que sentem dores nas pernas durante o dia também e/ou dormência nos dedos do pé. É um bom indicativo.

Sim, entre tantas causas de câimbras noturnas, a hérnia de disco parece uma improvável para quem sente tais dores, de modo especial à noite. É preciso investigar, porque quanto mais rápido e corretamente diagnosticar, melhor.

Um sono tranquilo é o que os justos merecem, diz o ditado. E ninguém quer perder preciosos minutos de sono, em dias tão agitados e estressantes como os atuais, por conta de um problema qualquer causando as terríveis dores da câimbra.

Converse com o seu médico. Conhecer o verdadeiro problema é o primeiro passo para o alívio. Depois, dá até para jogar aquele futebolzinho com os amigos com maior tranquilidade.

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Equilíbrio e instabilidade físicos e mentais: apertando os botões da qualidade de vida

Se a vida fosse como o que vemos no filme “Divertidamente”, talvez fosse mais divertida e até mais simples (embora ele seja mais profundo do que as cores vibrantes do desenho animado sugiram).

Ali aprendemos que a tristeza tem o mesmo peso de importância que a alegria, para que possamos achar nosso equilíbrio emocional. De fato, chegar até nessa estabilidade é uma baita aventura, embora quase nunca divertida. A bem da verdade, estamos quase sempre lutando contra as instabilidades que insistem em nos afetar.

No filme, os personagens apertam botões, puxam alavancas, giram roldanas e mostram nossa cabeça e nosso corpo como um animado mecanismo provido de um ferramental ao dispor das nossas necessidades. Sim, seria fácil.

No mundo real, os processos são mais doloridos e esse ferramental precisa ser cuidadosamente manuseado. Especialmente quando se trata de instabilidade da coluna. Isso porque a instabilidade da coluna vertebral nem sempre pode ser percebida com exames clínicos ou radiológicos. Mais do que isso, nem toda instabilidade vertebral é dolorosa.

Uma instabilidade

Para deixar claro, perder a estabilidade de um segmento funcional da coluna é ter alguma alteração no sistema que inclui vértebras, ligamentos e músculos. Isso faz com que haja uma frouxidão que geram movimentos anormais.

Ora, se a nossa coluna é um “prédio perfeito” (link), qualquer instabilidade pode colocar a estrutura em maus lençóis. Pode, claro, causar desconforto, impossibilitar movimento e gerar dor – e como diriam os personagens de “Divertidamente”, dor ninguém merece.

Há um conceito fácil de entender, descrito pelos doutores Pajambi e White: é a “perda da capacidade da coluna vertebral de manter seu padrão de mobilidade sob cargas fisiológicas”. Ou: a coluna precisa aguentar o corpo e fazer os movimentos que se espera dela.

Um pouco mais a fundo

Podemos fingir que somos um dos bonequinhos coloridos de “Divertidamente” e ir mais a fundo na estrutura do nosso corpo.

Como ensina o doutor MM Panjabi, “o sistema estabilizador da coluna consiste em três subsistemas. As vértebras, discos e ligamentos constituem o subsistema passivo. Todos os músculos e tendões ao redor da coluna vertebral que podem aplicar forças a ela constituem o subsistema ativo. Os nervos e o sistema nervoso central compreendem o subsistema neural, que determina os requisitos para a estabilidade da coluna, monitorando os sinais e direcionando o subsistema ativo para fornecer a estabilidade necessária”.

A disfunção de um componente de qualquer um dos subsistemas pode levar a uma ou mais das três possibilidades a seguir: “uma resposta imediata de outros subsistemas para compensar com sucesso; uma resposta de adaptação de longo prazo de um ou mais subsistemas; e uma lesão em um ou mais componentes de qualquer subsistema”.

Segundo o que nos ensina Panjabi, conceitua-se que a primeira resposta resulta em função normal, a segunda resulta em função normal, mas com um sistema estabilizador da coluna alterado, e a terceira leva à disfunção geral do sistema, produzindo, por exemplo, dor lombar. E dor, lembre-se, ninguém merece.

Muitas causas

São várias as causas da instabilidade. Há as instabilidades adquiridas por trauma, pós-cirúrgica, patológica ou degenerativa; e as de desenvolvimento: displástica de alto grau e de baixo grau.

Segundo a sua patologia de base, as instabilidades vertebrais lombares vêm com fraturas ou luxações, processos infecciosos, neoplasia primária ou secundária, espondioliostese, alguma doença degenerativa e escoliose.

Uma notícia boa, mas nem sempre divertida: a artrodese

Sim, há tratamento. Mas ao contrário da diversão de apertar botões, girar manivelas e afins do desenho animado, alguns casos se fazem necessário literalmente apertar parafusos, preencher espaços com enchimento, uma coisa meio ficção científica, mas que tem funcionado perfeitamente bem com os novos materiais e técnicas desenvolvidos pela inteligência humana.

Ao cabo, o que queremos é devolver qualidade de vida à pessoa, tornando a estabilizar a coluna.

A artrodese é um procedimento realizado para levar à fusão óssea em uma articulação, gerando estabilidade. Nem todo mundo vai precisar de artrodese, mas aqueles que precisarem, dependendo do diagnóstico médico, podem se tranquilizar com a eficiência do procedimento.

Para chegar ao objetivo, o cirurgião utiliza placas, pinos, parafusos, barras, cages (as famosas gaiolas), reforços ósseos e por aí vai. Ninguém vai ver o que o paciente tem por dentro, mas o paciente sentirá uma significativa melhora nas suas atividades cotidianas.

Um ensinamento

Nós sabemos que a medicina evoluiu a ponto de nos dar a alegria de recobrar a qualidade de vida em muitos casos e desafios. Podemos e devemos aproveitar isso.

“Não entre em pânico”, diz um dos personagens do filme. “Não olhe só para o que dá errado! Sempre há um jeito de melhorar”, diz outro. Mas não há nada de errado em chorar as lágrimas da dor e dos problemas. O equilíbrio emocional é tão importante quanto o físico para deixar a vida mais colorida e satisfatória. Bora cuidar de todos eles?