Osteoartrite, um estudo de séculos em nossas mãos

Charles Jacques Bouchard nasceu em 6 de setembro de 1837 e morreu em 28 de outubro de 1915. Era uma época em que a medicina nem sonhava com os avanços que vemos hoje (e nem sonhamos com os avanços que nossos netos e bisnetos verão).

Nem mesmo a localidade onde Bouchard nasceu, Montier-en-Der, é mais independente. Hoje, faz parte do departamento francês Haute-Marne (ou Alto-Marne), a pouco menos de trezentos quilômetros a sudeste de Paris.

Bouchard entretanto deixou sabedoria e um legado importante como patologista. Seus estudos englobam identidade da herpes circinata, degeneração da medula espinhal, patogênese das hemorragias cerebrais e outros.

Com seu professor Jean Charcot, descreveu um distúrbio que ficou mais tarde conhecido como “aneurisma de Charcot-Bouchard”. É com seu nome que conhecemos até hoje os “nódulos de Bouchard”, excrescências ósseas das articulações interfalângicas proximais (IFP), que são um sinal de osteoartrite.

Em outras palavras, os nódulos de Bouchard são aumentos ósseos das articulações médias dos dedos. As IFPs são as articulações dos dedos mais próximas dos nós dos dedos.

Os linfonodos de Bouchard são menos comuns do que os linfonodos de (William) Heberden, que são aumentos ósseos das articulações interfalângicas distais (DIP) mais próximas das pontas dos dedos. Heberden era inglês e nascem em 3 de agosto de 1710 e morreu em 17 de maio de 1801. Como se vê o estudo do tema é bastante antigo.

Uma roleta

Os nódulos de Bouchard, tanto quanto os nódulos de Heberden, podem ou não ser dolorosos. É uma roleta. No entanto, eles normalmente afetam o movimento. Com o tempo, esse acúmulo de tecido ósseo em excesso pode fazer com que os ossos se desalinhem e fiquem tortos, com um aspecto disforme. Os dedos também podem ficar inchados.

Com o tempo, a pessoa pode passar a ter dificuldades de fazer tarefas simples, como girar a chave, abrir uma garrafa etc.

A osteoartrite

A osteoartrite é a doença reumatológica mais comum, atingindo cerca de um terço da população mundial após os 65 anos, sendo mais frequente nas mulheres. A osteoartrite afeta mais frequentemente as articulações das mãos, joelhos, quadris, região lombar e pescoço.

A genética também tem um papel provável no desenvolvimento dos nódulos de Bouchard.

Sabe-se hoje que a obesidade tem papel fundamental na doença, uma vez que o tecido adiposo produz substâncias (adipocinas, resistinas e adiponectinas) que induzem a degradação da superfície articular.

O nódulo de Bouchard é considerado um sinal característico de osteoartrite, ajudando a diferenciá-lo de outros tipos de artrite, como gota ou artrite reumatóide. Não há exames de sangue para diagnosticar especificamente a osteoartrite, de modo que o médico tem que realizar outros exames para descartar a artrite reumatóide e ou a gota (por exemplo, medir o ácido úrico).

Tratamento

Há tratamento clínico, e é sempre importante, caso a caso, consultar um médico especialista, que irá orientar de forma adequada como proceder.

Mas é bom saber que a atividade física rotineira e regrada, o controle do peso corporal e a dieta saudável são fundamentais no controle da doença.

Com séculos de estudo, pesquisa e desenvolvimento médico, o paciente pode rogar saber que no fundo são seus próprios hábitos que podem ajudar a controlar uma enfermidade. Em outras palavras, também está em nossas mãos.

A dor que derrubou um campeão

Talvez os mais jovens não lembrem o quão grandioso foi Mike Tyson no esporte. Ele nasceu em 1966 (em 2022, tem apenas 56 anos!) e na década de 1980 dominou o boxe, se tornando um dos mais demolidores pugilistas já vistos. Não cabe entrar no mérito se foi o melhor de todos os tempos – cada um tem sua escolha – mas muita gente chegou a afirmar isso.

Foi uma carreira rápida e marcante. Foram apenas 58 lutas, com 50 vitórias, sendo 44 por nocaute.

A vida fora dos ringues também não foi fácil e esteve longe de ser um exemplo. Quando jovem, foi parar no reformatório, onde aprendeu a profissão. Quando adulto, foi preso por violação a uma mulher. Ganhou milhões (estima-se que perto de US$ 300 milhões durante toda a carreira), mas nunca soube administrar com precisão a fortuna e a imprensa constantemente noticiava sua falência. Em 2009, sua filha Exodus, de apenas 4 anos, faleceu em um acidente doméstico. O enterro teve que ser feito com doações, pois Tyson estava falido.

Nada disso tirou de Tyson o status de “imbatível”. Até que uma foto, em 2022, com o pugilista em uma cadeira de rodas, acendeu a dúvida: o que derrubou Mike Tyson?

Um balé violento

O pugilismo é tido como um esporte violento. Um oponente desfere socos no adversário e quem nocautear o outro ou conseguir encaixar mais golpes ganha. A imprensa esportiva trata o esporte como “balé”, numa tentativa poética de tentar amenizar a brutalidade das cenas que a plateia, muitas vezes aos berros de êxtase, assiste. No caso dos pesos-pesados, categoria na qual Mike Tyson se encaixa, os golpes são ainda mais potentes.

Apesar de tudo isso, o boxe também é um esporte maravilhoso, amplamente recomendável, um ótimo exercício físico, especialmente quando praticado com lucidez e acompanhamento apropriado, em academias especializadas. Sim, o boxe pode ter impacto zero na saúde do oponente! A modalidade olímpica é, de fato, muito próxima de um belo balé em cima do ringue. Algo plástico e bonito de se ver.

Mas na versão comercial, a de alto rendimento, é certo que a violência impõe consequências. Não são poucos os pugilistas da categoria máxima do esporte que enfrentam problemas motores após a aposentadoria.

José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, tido como o mais importante peso-pesado brasileiro, tem 64 anos e enfrenta a encefalia traumática crônica, uma doença degenerativa do cérebro ligada a repetidos golpes na cabeça, também conhecida como “demência pugilística” (mas que atinge atletas do futebol americano e até mesmo do nosso futebol).

Mike Tyson escapou até disso, felizmente.

Ciático, o adversário

O adversário que derrubou Tyson e o levou à cadeira de rodas estava dentro dele: o nervo ciático.

Ele disse a uma rede de TV, recentemente: “tenho dor ciática e de vez em quando e ela piora. Quando isso acontece, eu não consigo nem falar”.

É a única condição de saúde que a potência de quase sessenta anos sofre no momento: “Graças a Deus é o único problema de saúde que tenho. Estou esplêndido agora”, o que é uma boa notícia para todos que amam esportes em geral.

Apesar de tudo o que foi dito aqui, não é possível fazer correlação entre a profissão de Tyson e a dor que ele sente agora.

A dor ciática refere-se àquela que percorre o trajeto do nervo ciático, o mais longo do corpo humano, que sai da parte inferior das costas, através dos quadris e nádegas, e desce por cada perna. A ciática ocorre mais frequentemente quando uma hérnia de disco ou um crescimento excessivo de osso pressiona parte do nervo. Isso causa inflamação, dor e muitas vezes alguma dormência na perna afetada (leia mais aqui).

Por definição, os pacientes mencionam irradiação de dor na perna, como uma ferroada ou pequenos choques. Eles podem relatar a distribuição da dor, se ela irradia abaixo do joelho. Pacientes com ciática também podem ter dor lombar, mas geralmente é menos intensa do que a dor nas pernas.

Muitos sinônimos de ciática aparecem na literatura, como síndrome radicular lombossacral, ísquia, dor na raiz nervosa e compressão da raiz nervosa.

Embora a dor associada à ciática possa ser grave, a maioria dos casos desaparece com o tratamento em algumas semanas. As pessoas que têm ciática grave e fraqueza grave nas pernas ou alterações intestinais ou da bexiga podem precisar de cirurgia.

O acerto de Tyson

O próprio pugilista já admitiu em mais de uma entrevista que cometeu muito erros na vida. Mas um dos seus acertos foi procurar um médico assim que a dor ciática surgiu. Consultar um especialista é essencial para o tratamento correto e para amenizar os processos de dor. Não espere ser nocauteado por algo que a literatura médica já conhece com bastante profundidade. Essa luta pode ser vencida.