ARTIGOS & BLOG

Hérnia de Disco e Protusão Discal: irmãos de causa e tratamento

Quando vemos dois gêmeos, nos maravilhamos com a engenhosidade da natureza em criar duas pessoas visualmente iguais. Mas nem mesmo gêmeos são tão iguais assim.

Todo mundo lembra (pelo menos os com mais de quarenta anos), das famosas personagens da novela “Mulheres de Areia”, exibida pela TV Globo em 1993, Ruth e Raquel.

Interpretadas pela mesma atriz, Glória Pires, Ruth era doce e meiga. Raquel era agressiva e má. Uma mocinha, outra vilã. Mas ambas idênticas.

Às vezes, só com um olhar bastante apurado é possível identificar diferenças onde não parece haver diferença.

Veja o caso entre protusão discal e hérnia de disco, que são gêmeos, mas diferentes.

Nossa maravilhosa coluna

Primeiro, precisamos entender como é a nossa maravilhosa coluna vertebral, essa estrutura que nos sustenta.

A coluna possui ossos colocados uns sobre os outros, como um edifício. Essas estruturas são as vértebras. Entre cada vértebra, há discos envoltos por um anel fibroso e um núcleo pulposo. Esse disco serve para amortecimento de impactos, caso contrário uma vértebra bateria na outra e aí ninguém conseguiria ficar em pé e andar direito.

Pois é, os discos funcionam como almofadas entre as vértebras da coluna. Eles são compostos por uma camada externa de cartilagem dura que envolve a cartilagem mais macia no centro.

Os discos mostram sinais de desgaste com o tempo. Eles desidratam, sua cartilagem endurece. Isso pode fazer com que a camada externa do disco se projete uniformemente em toda a sua circunferência.

Hérnia de disco

Qualquer alteração na estrutura desse disco intervertebral, é um problema.

Hérnia, por exemplo, é o termo médico que descreve uma massa circunscrita formada por um órgão (ou parte de órgão) que sai por um orifício, natural ou acidental, da cavidade que o contém; ou seja, algo que se desloca do lugar de origem. No caso da coluna, se dá pelo rompimento do anel fibroso, fazendo com que o núcleo saia, vaze, passando a comprimir outras estruturas.

Os discos herniados também são chamados de discos rompidos ou discos deslizados, embora o disco inteiro não se rompa ou escorregue. Apenas a pequena área da rachadura é afetada.

Em outras palavras, uma hérnia de disco ocorre quando uma rachadura na dura camada externa da cartilagem permite que parte da cartilagem interna mais macia se projete para fora do disco.

Protusão discal

Ao contrário de uma hérnia de disco, um disco protuberante se projeta para fora, mas as camadas externas do anel permanecem intactas.

No entanto, como o disco se projeta para dentro do canal espinhal, ele ainda pode comprimir uma raiz nervosa e causar dor. A protusão do disco também é chamada de prolapso do disco.

Classificações

Tanto a hérnia quanto a protusão discal, problemas gêmeos que são, podem ocorrer nas regiões cervical, torácica ou lombar da coluna.

A hérnia de disco cervical ocorre quando no pescoço. É uma das causas mais comuns de dor de garganta.

Já a torácica ocorre na parte superior ou no meio das costas.

Por fim, a mais comum: a lombar.

Além da região da coluna, tem a classificação pela área para o qual o disco ou seu conteúdo se projetam.

Quando o disco se expande para dentro da medula espinhal, o problema é central. Subarticular, ou recesso lateral ou paracentral, é quando o disco se expande entre a medula espinhal e o forame, que é o espaço através do qual os nervos saem do canal. Se chegar ao forame, aí ele é foraminal, ou lateral; e, por fim, o extraforaminal, para além do forame.

Causa da protusão discal

Como na hérnia de disco, a causa mais comum de uma protusão discal é a doença degenerativa do próprio disco.

Mas uma protusão também pode ser causada por tensão ou por movimentos repetitivos, levantamento de objetos pesados e postura inadequada, além de trauma ou até mesmo uma condição hereditária.

Os fatores de risco também são irmãos entre hérnia e protusão. Homens com idade entre 30 e 50 anos têm mais probabilidade do que mulheres de sofrer de hérnia de disco.

Pessoas que têm trabalhos fisicamente exigentes, especialmente que envolvem movimentos repetitivos ou levantamento de peso.

Obesos ou com sobrepeso correm risco. Eles também são mais propensos a ter a mesma hérnia de disco novamente.

Tabagismo é um problema porque a nicotina reduz o fluxo de sangue para os discos vertebrais. Isso não apenas aumenta a degeneração do disco, mas também retarda o processo de cicatrização.

Tratamento

Assim como as causas, o tratamento também é irmão para ambos os casos.

Há diversas formas de tratamento. Entre elas, a cirurgia de hérnia por videoendoscopia.

A simplicidade técnica, a pequena agressão aos tecidos, uma cicatriz quase inexistente, a alta hospitalar no mesmo dia, a não colocação de próteses na coluna e o rápido retorno às atividades cotidianas são algumas das muitas vantagens dessa novidade da medicina.

Mas antes de se chegar ao tratamento cirúrgico, há o tratamento clínico, com fisioterapias, analgésicos, infiltração de medicamentos na coluna vertebral (bloqueios neurais), além de reeducação postural.

Ou seja, nem sempre será preciso uma cirurgia.

Nem mocinho, nem vilão

Ao contrário de Ruth e Raquel, a hérnia de disco e a protusão discal não possuem “personalidades” diferentes. Não são vilões, nem mocinhos. Se muito, são consequências da vida que escolhemos.

Conviver com essas dores não precisa ser uma novela. Ao contrário: como toda novela, ela, a dor, pode acabar e o paciente ter um final feliz.

Escrito por
TODOS OS ARTIGOS