Na última virada de ano, de 2020 para 2021, o Papa Francisco não conduziu as missas celebratórias da data “por causa de uma crise ciática que causa dor na perna direita”, disse o Vaticano à época.
Era o primeiro Ano Novo que o mundo passava com a pandemia de Covid-19, doença que já matou, oficialmente, mais de 4,5 milhões de pessoas em todo o mundo (até agosto de 2021). As palavras reconfortantes do líder da Igreja Católica, religião com centenas de milhões de seguidores em todo o mundo, seriam bem-vindas.
Mas a dor o impediu. E é uma dor que afeta muitas pessoas.
Em resumo, a ciatalgia é a dor irradiada pelo trajeto do nervo ciático, o mais longo nervo do corpo humano.
Vai da região glútea, posterior da coxa e perna, indo até o pé, na dependência do dermátomo comprometido.
Dermátomo é uma palavra grega que significa literalmente “corte de pele”. Um dermátomo é uma área da pele que é inervada por fibras nervosas.
Mas, por definição, os pacientes mencionam irradiação de dor na perna, como uma ferroada ou pequenos choques. Eles podem relatar a distribuição da dor, se ela irradia abaixo do joelho. Pacientes com ciática também podem ter dor lombar, mas geralmente é menos intensa do que a dor nas pernas.
Muitos sinônimos de ciática aparecem na literatura, como síndrome radicular lombossacral, ísquia, dor na raiz nervosa e compressão da raiz nervosa.
Relata-se dor unilateral na perna maior do que dor lombar. Além disso, dor irradiando para os pés ou dedos dos pés, dormência e parestesia na mesma distribuição.
O teste de elevação de perna reta induz mais dor na perna.
Em cerca de 90% dos casos, a ciática é causada por uma hérnia de disco com compressão da raiz do nervo, mas estenoses lombares e, menos frequentemente, tumores são as causas possíveis.
Entre os fatores de risco para a ciática aguda estão a idade (com pico entre 45 e 64 anos), tabagismo, estresse mental, altura (os mais altos), sobrepeso e fatores ocupacionais, como atividade física extenuante – por exemplo, levantamento de peso frequente – dirigir e vibração de corpo inteiro.
O Papa Francisco não foi “sorteado” pela natureza, nem está sendo provocado ou testado por Deus. Ele faz parte de um contingente enorme de pessoas que sofrem do mesmo problema.
Apesar de ainda faltarem dados exatos sobre a incidência e prevalência da ciática, em geral, cerca de 5% a 10% dos pacientes com dor lombar têm ciática, enquanto a prevalência relatada de dor lombar ao longo da vida varia de 49% a 70%.
A prevalência anual de ciática relacionada ao disco, na população em geral, é estimada em 2,2%.
A ciática é diagnosticada principalmente por meio de anamnese e exame físico.
A anamnese é uma entrevista conduzida pelo médico, com o objetivo de identificar os sintomas do paciente e chegar ao diagnóstico.
O exame físico depende muito dos testes neurológicos. A investigação mais aplicada é o sinal de Lasègue, onde o paciente deitado eleva em diferentes graus ambas as pernas estendidas.
A sensibilidade combinada do teste de elevação da perna estendida é estimada em 91%.
No geral, se um paciente relatar a dor irradiada típica em uma perna combinada com um resultado positivo em um ou mais testes neurológicos indicando tensão na raiz do nervo ou déficit neurológico, o diagnóstico de ciática parece justificado.
Os exames de imagem podem ser indicados apenas se houver indicações ou “sinais de alerta” de que a ciática pode ser causada por doença subjacente (infecções, neoplasias) em vez de hérnia de disco.
O diagnóstico por imagem também pode ser indicado em pacientes com sintomas graves que não respondem ao tratamento conservador por 6 a 8 semanas.
Os pacientes são comumente tratados na atenção primária, mas uma pequena proporção é encaminhada para a atenção secundária e pode, eventualmente, ser submetidos à cirurgia.
Normalmente, o tratamento é conservador, não cirúrgico.
Nos casos em que a cirurgia pode ser considerada, o exame de imagem é usado para identificar se uma hérnia de disco com compressão da raiz nervosa está presente, bem como sua localização e extensão.
O tratamento conservador para a ciática visa principalmente a redução da dor, seja por analgésicos ou pela redução da pressão na raiz nervosa. Informar adequadamente os pacientes sobre as causas e o prognóstico esperado pode ser uma parte importante da estratégia de tratamento.
O próprio Papa Francisco já admitiu que “só a oração” não é a cura. De fato, não é. Ajuda a quem tem fé, mas o melhor é sempre procurar ajuda de um especialista médico. Exatamente o que o Pontífice tem feito.
