Na década de 1930, não era fácil o diagnóstico de tumores cerebrais. A guerra na Europa se avizinhava e o neurologista austríaco Karl Theodore Dussik, filho do dentista de mesmo nome, via recursos que já eram escassos se tornarem de ainda mais difícil acesso.
Enquanto a tecnologia de ultrassom estava sendo empregada com sucesso para a detecção de cardumes de peixes e barcos e logo sendo implantada em atividades bélicas marítimas, Dussik começou a estudar o uso do ultrassom no diagnóstico médico.
A ferramenta era utilizada apenas de forma terapêutica pela medicina, naquele momento, e não com o intuito de “ver por dentro”. Durante a Segunda Grande Guerra, ele se aprofundou nos estudos e escreveu o artigo “Uber die moglichkeit hochfrequente mechanische schwingungen als diagnostisches hilfsmittel zu verwerten” (ou “Sobre a possibilidade de usar ondas de ultrassom como auxiliar de diagnóstico”).
Foi ali que Dussik apresentou sua teoria sobre geração, transmissão e efeitos do ultrassom, e a possibilidade de diferenciar diferentes tecidos do corpo pela transmissão do ultrassom através desses mesmos tecidos. As primeiras imagens de ultrassom foram publicadas em 1947.
Dussik se tornou “o pai da ultrassonografia” e, embora a técnica tenha sido utilizada em diversas frentes, inclusive na guerra, seu estudo diagnóstico revolucionou a medicina.
Ela é um exame de imagem bastante conhecido nos dias atuais. É feita com um transdutor, que o médico encosta na pele do paciente e “enxerga por dentro do seu corpo”.
Simples, indolor, rápida, sem efeitos colaterais, acessível e eficiente, a ultrassonografia permite ao médico investigar o problema a partir de imagens precisas. O único “inconveniente”, por assim dizer, é o gel que o médico precisa espalhar na pele para ajudar o transdutor. Mas nada que um papel absorvente não resolva depois.
Pode ser usada para uma primeira avaliação de órgãos internos, bem como, no nosso caso, no estudo de lesões ortopédicas – ligamentos, cartilagens, tecidos etc.
Essa ferramenta, que antes era apenas diagnóstica, hoje é modernamente utilizada como guia pra diversos procedimentos. Por exemplo, para fazer uma infiltração de fármaco, com o intuito de tratar uma bursite no ombro, uma tendinite no cotovelo, uma artrose no quadril ou no joelho, ou um esporão no calcâneo.
A lógica é a mesma de décadas atrás, dos tempos de Dussik: o aparelho emite ondas sonoras e seu eco emitido pelo nosso corpo (ao “devolver” essas ondas) é transformado em impulsos elétricos para serem lidos pela máquina externa.
Só ondas sonoras passam pelo nosso corpo e, é bom lembrar, somos impactados o tempo todo, em qualquer lugar, por ondas sonoras. Elas são inofensivas.
Claro que a medicina não é uma guerra. Ao contrário de submarinos equipados com super e precisos radares (quem não viu o ótimo “Caçada Ao Outubro Vermelho”, suspense de ação com Sean Connery, de 1990?) feitos especialmente para identificar qualquer embarcação inimiga, nossa ultrassonografia é uma solução pacífica para identificar eventuais doenças inimigas e que acabam por nos ensinar muito.
Ela é um passo importante para grandes conquistas.