Guilherme Melo é bicampeão brasileiro de squash, com o primeiro título conquistado em 2019. Dado que, por conta da pandemia da Covid-19 ter afetado a organização de campeonatos no ano de 2020, Guilherme só pôde começar a defender seu título em 2021, no que foi bem-sucedido.
Como todo esporte de alto rendimento, para alcançar esse tipo de sucesso e excelência, é preciso começar muito cedo. Com Guilherme, não foi diferente: “iniciei aos 8 anos, por influência do meu pai, lá no Clube Atlético Ypiranga. Aos 10 anos, passei a treinar mais sério e com 12 anos já jogava campeonatos no circuito amador Paulista e nível Brasil também”.
Com 14 anos, já estava treinando com Julio Caseiro, seu atual técnico, elevando o nível de treinamentos, de técnica e da capacidade física.
Começar tão cedo pressupõe um monte de escolhas, entre elas a exigência do próprio corpo em chegar ao limite, o que pode acarretar em lesões. Guilherme teve que largar o emprego e se dedicar só ao esporte, alternando trabalhos táticos e físicos, justamente pensando na prevenção de lesões.
“Tive a oportunidade de ganhar uma bolsa de estudos para cursar faculdade fora do país e de 2009 a 2013 fiquei jogando o circuito universitário estadounidense e me formei em Economia”, conta.
Por isso, de 2013 a 2016, ficou sem jogar e em 2016 tomou a decisão de que voltaria às quadras, com o objetivo de ser campeão brasileiro e alcançar a posição de 100 do ranking mundial. “Em 2019, alcancei o primeiro objetivo e fui campeão brasileiro pela primeira vez. Em junho de 2021, ganhei o bicampeonato brasileiro (referente ao ano de 2020)”, diz.
O atleta acabou caindo na semifinal no recente campeonato de 2021, realizado em Brasília (terminou em 2 de novembro), mas seu nome já está marcado na história do squash brasileiro.
Qual a sua rotina de treinamentos para conseguir a excelência no squash? Dentro dessa rotina, qual o percentual de trabalho para prevenir lesões?
Minha rotina de treinamentos de 2017 até o fim de 2019 foram de dois treinos por dia, um mais focado na parte física, tanto para elevar o nível de resistência aeróbica, quanto trabalhos de fortalecimento para prevenir lesões. Outro treino era mais focado na parte tática tanto de movimentação em quadra quanto de drills e jogos condicionados. Diria que de 30% a 40% dos meus treinos eram mais focados a prevenção de lesões.
Quais as lesões mais comuns no squash de alto rendimento? Existe alguma diretamente relacionada à coluna? Se sim, da mesma forma, qual o trabalho para preveni-la e ampliar a vida profissional?
As lesões mais comuns são de tendão de Aquiles, ombro, joelho, tornozelo e coxa, não necessariamente nessa ordem.
Lesões de coluna mais comuns são relacionadas à hérnia de disco, mas na minha experiência nunca vi muitas lesões (ligadas à) coluna acontecerem no squash.
De acordo com estudos, a incidência de lesões na coluna de atletas de alto rendimento é de 10% a 15%. O esforço repetitivo, em busca do aprimoramento da técnica, pode levar a isso. Normalmente, os atletas começam suas carreiras muito cedo, é um longo caminho até se profissionalizarem. Existe algum acompanhamento desde a infância? Como foi no seu caso?
No meu caso, eu tive um acompanhamento muito forte na parte tática de jogo desde a infância, mas quase que nada de acompanhamento relacionado a prevenção de lesões. Isso foi algo que eu passei a aprender e me preocupar mais a partir da faculdade, o que hoje, olhando para trás, eu considero que foi um erro. Aqui no Brasil, eu sinto que não damos tanta importância para esse acompanhamento referente a lesões e isso é um problema.
Qual conselho você dá aos chamados “atletas de final de semana”, que não possuem estrutura profissional de apoio, para evitar lesões?
Aos atletas de finais de semana meu conselho é que foquem muito não só no seu esporte, mas que passem um ou dois dias na academia fortalecendo o corpo para poder praticar seu esporte. Principalmente, se forem esportes mais agressivos ao corpo, como futebol, squash, artes marciais. Passar pelo menos um ou dois dias na academia, (faz) você aumentara sua vida útil naquele esporte.
Qual foi a maior dificuldade que você encontrou para chegar ao título brasileiro?
A maior dificuldade foi a falta de apoio. Para chegar a esse objetivo, eu larguei o meu emprego na época e foquei somente no esporte. Se não tivesse feito isso provavelmente não teria alcançado meus resultados. Mas mesmo depois do título brasileiro nunca tive nenhum apoio e sempre usei dinheiro do meu bolso para conseguir viajar, jogar treinar etc.